O mundo após a Primeira Guerra Mundial estava instável, cheio de revoltas e novas fronteiras, plantando as sementes para a Segunda Guerra Mundial.
Veja como tudo começou.
Uma Alemanha humilhada e esmagada
Uma das sementes que germinou na Segunda Guerra Mundial foi o Tratado de Versalhes.
As condições do Tratado de Versalhes esmagaram a Alemanha.
O país perdeu 13% de seu território. Além de localidades da Europa, a Alemanha foi desapropriada de todas as suas colônias na África, Ásia e Pacífico.
Antes da Primeira Guerra Mundial, o exército alemão era uma das forças militares mais poderosas e organizadas do mundo, munido de artilharia pesada e com a segunda maior frota marinha de guerra do mundo, atrás apenas do Reino Unido.

Com a aplicação das punições do Tratado de Versalhes, o exército alemão foi reduzido a 100.000 homens sem tanques, sem aviões sequer submarinos. Sem falar da proibição de recrutamento e a produção de armas.
Qual foi o efeito destas sanções?
Ódio. A frase “Fomos esfaqueados pelas costas!” virou o lema da nação alemã.
Adolf Hitler usou esse ressentimento para chegar ao poder em 1933, prometendo “rasgar Versalhes”.
Adolf Hitler e o nascimento de um monstro
Hitler era um soldado frustrado, ferido na Primeira Guerra Mundial. Ele se juntou a um pequeno partido de extrema-direita, o Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP) e depois ao NSDAP, o partido nazista.
Em novembro de 1923, Hitler e 2.000 nazistas invadiram uma cervejaria em Munique e declararam: “A revolução começou!”. O plano era marchar até o governo bávaro e tomar o poder.
Mas o plano foi um fracasso!
A polícia atirou, 16 nazistas morreram e Hitler fugiu, sendo preso dois dias depois.
Vejam um detalhe um tanto cômico acerca do líder em quem este grupo se apoiava: Hitler gritou “Vitória ou morte!”, mas caiu no chão ao primeiro tiro, feriu o braço e fugiu.
Na prisão, onde ficou por apenas nove meses, ele escreveu o livro Mein Kampf, onde expôs todo o seu ódio contra os judeus, os comunistas e o Tratado de Versalhes.
Mas a prisão estava mais para um hotel nazista do que um cárcere.
Hitler ficou na Festabteilung, ala dos “presos honorários”.
Lá ele tinha direito a vista para um jardim, mobília personalizada e visitantes ilimitados, inclusive Rudolf Hess, que participou do golpe na cervejaria, foi igualmente preso e virou secretário pessoal de Hitler, ajudando-o a escrever o terrível Mein Kampf. Hitler ditava para Hess em monólogos frenéticos, muitas vezes aos berros. Os guardas reclamavam do barulho.
Outras regalias que Hitler tinha eram o luxo de acordar tarde, receber cartas de fãs e alimentar-se com comidas trazidas de fora, enquanto alguns presos apodreciam em celas subterrâneas na mesma prisão.
A cela onde Hitler ficou virou ponto de peregrinação para simpatizantes. Eles enviavam flores, presentes e até poemas para Hitler. E um dado macabro: muitos desses “admiradores” depois viraram carrascos do Holocausto.
Como estava o mundo antes da Segunda Guerra Mundial?
No contexto mundial, em 1929 houve a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, o que gerou um período conhecido como A Grande Depressão.

Lembra de termos comentado que depois da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram a atuar como o banco mundial, uma vez que foi o país que mais enriqueceu e se consolidou?
Então, como pode acontecer esta crise na Bolsa de Valores?
Bem, ironicamente esta foi a grande causa.
Na década de 1920, conhecida também como “Anos Loucos” ou “Roaring Twenties”, os Estados Unidos estavam vivendo um período de grande expansão econômica e otimismo.
Muitas pessoas começaram a investir na bolsa de valores, inclusive pegando dinheiro emprestado para comprar ações.
Esse excesso de confiança gerou uma bolha especulativa – os preços das ações subiram muito além do valor real das empresas.
Acontece que no dia 24 de outubro de 1929, conhecido como a “Quinta-Feira Negra“, a bomba estourou.
Houve um súbito pânico na Bolsa de Valores de Nova York e os investidores começaram a vender suas ações desesperadamente, temendo uma queda, o que fez os preços despencarem ainda mais.
Esse movimento continuou nos dias seguintes, sendo chamado de Crash da Bolsa.
Imediatamente, muitas empresas faliram, bancos quebraram, pessoas perderam suas economias e o desemprego disparou.
O consumo e a produção industrial caíram drasticamente.
Como os EUA eram a maior economia do mundo, a crise logo se espalhou para outros países, afetando especialmente aqueles que dependiam do comércio com os americanos. Milhões de pessoas perderam seus empregos, casas e passaram a viver na pobreza.
A humilhada Alemanha viu sua economia desabar de novo, com taxa de desemprego de 30% em 1932 e 6 milhões de desempregados.
A ascensão de Hitler ao poder na Alemanha
Após sair da prisão, em dezembro de 1924, Adolf Hitler trabalhou na reestruturação do Partido Nazista (NSDAP), focando mais na ascensão pelo caminho legal, ou seja, participando das eleições e explorando o sistema democrático da República de Weimar.
República de Weimar foi o regime político democrático que governou a Alemanha de 1919 a 1933, entre o fim do Império Alemão após a derrota na Primeira Guerra Mundial e a ascensão do Nazismo.
Entre 1925 e 1929, o Partido Nazista ainda era pequeno e tinha influência limitada.
No entanto, a situação tão fragilizada da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e acentuada com a Grande Depressão de 1929 aumentou o apelo das mensagens extremistas de Hitler.
Que mensagens extremistas eram essas?
Hitler pregava um nacionalismo exacerbado, prometendo restaurar o orgulho, o poder e o prestígio da Alemanha após a humilhação do Tratado de Versalhes. Ele falava também de recuperar os territórios perdidos através das imposições do Tratado de Versalhes.
O líder político exaltava o povo alemão como uma “raça superior”, os arianos.
Para Hitler e o Partido Nazista, “arianos” eram as pessoas que pertenciam à raça germânica ou nórdica, vistas como supostamente superiores. Eles acreditavam que os arianos puros eram portadores de características físicas específicas, como pele clara, cabelos loiros e olhos azuis, embora muitos alemães não se encaixassem nesse perfil.
Os nazistas excluíam diversos grupos da categoria “ariano”, como judeus, ciganos, eslavos (poloneses, russos, etc.), negros e outros povos.
Em seus discursos, apresentavam os judeus como os principais inimigos internos. Eles eram o bode expiatório nazista para todos os males que assolavam o país, como a crise econômica, o desemprego e a corrupção.
Hitler também demonizava os comunistas e os socialistas como responsáveis pelo caos, violência e instabilidade que havia no país.
Ele também prometia acabar com o regime democrático instaurado após a Primeira Guerra e instaurar um Estado forte, com autoridade centralizada e disciplina. Propunha grandes obras públicas para gerar empregos, recuperação da indústria e estímulo ao consumo interno.
Essas mensagens eram transmitidas de maneira simples e emocional, facilitando o convencimento de grandes massas, que viviam a angústia da pobreza, do desemprego e do medo do futuro.
Em 30 de janeiro de 1933, após muita pressão de aliados conservadores sobre o presidente Paul von Hindenburg, Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha.
Aliás, sabia que Hitler nunca foi o presidente da Alemanha por votação popular? Oficialmente, ele sempre foi um chanceler, o que equivale hoje às funções de um primeiro-ministro.
Após Hitler se tornar chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de 1933, uma série de acontecimentos dentro da Alemanha e em nível internacional aceleraram o país rumo à Segunda Guerra Mundial.
Em março de 1933 foi assinada a Lei de Plenos Poderes, um dos instrumentos centrais usados por Hitler para transformar a Alemanha em uma ditadura nazista.
Oficialmente chamada de Lei para Remover o Sofrimento do Povo e do Reich (Gesetz zur Behebung der Not von Volk und Reich), ela concedia ao governo de Hitler o poder de criar leis — inclusive alterar a Constituição — sem precisar da aprovação do parlamento.
Sim, entregaram a chave do cofre para o bandido.
A Lei de Plenos Poderes marcou o fim da democracia na Alemanha, transformando Hitler em um ditador legalmente reconhecido. Ele baniu todos os partidos da oposição, mantendo apenas o nazista, assumiu o controle das Forças Armadas, do judiciário e da imprensa.
Sim, dentro da Alemanha, Hitler tinha autoridade absoluta e podia tomar decisões radicais sem resistência significativa.
Todo o aparato repressivo do regime — prisões políticas, campos de concentração, censura e perseguição — foi possível graças a esse poder ilimitado.
Com a morte de Hindenburg, o então presidente da Alemanha, Hitler unificou os cargos de presidente e chanceler e se intitulou “Führer”.
Grande parte da população alemã via o Tratado de Versalhes como humilhante e injusto. O rearmamento era uma promessa de restaurar o orgulho nacional e reduzir o desemprego. Com isso, Hitler ganhou apoio popular ao desafiar o tratado, tornando difícil qualquer tipo de contestação interna.
E foi esse que aconteceu: Hitler rompeu deliberadamente com o Tratado de Versalhes, reconstituindo o exército alemão, fabricando armas, aviões e navios.
Buscando fortalecimento através de alianças internacionais, o ditador alemão aproximou-se da Itália fascista sob o poder de Mussolini e do Japão, formando o Eixo.
Desde quando escreveu Mein Kampf (1925), Hitler já manifestava seus objetivos de fazer a Alemanha crescer territorialmente, reunificar todos os “alemães étnicos” e restaurar o prestígio da Alemanha como potência. Ele estava disposto a enfrentar qualquer país que se opusesse à sua agenda expansionista.
Expansão da Alemanha e proximidade da Segunda Guerra Mundial

O governo austríaco, liderado pelo chanceler Kurt Schuschnigg, sofria pressão política dos nazistas austríacos para unificar a Alemanhã e a Áustria.
Em 12 de março de 1938, tropas alemãs entraram na Áustria, que não apresentou qualquer resistência militar. Pelo contrário, muitos austríacos as receberam com entusiasmo.
A Áustria, então, deixou de existir enquanto Estado independente e passou a ser uma província do Reich Alemão.
Grandes potências, como França e Reino Unido, protestaram, mas não tomaram nenhuma atitude concreta.
O sucesso da operação encorajou Hitler em suas ambições expansionistas.
O alvo agora eram os Sudetos.
Os Sudetos eram uma região montanhosa da Tchecoslováquia, habitada por cerca de 3 milhões de alemães étnicos.
Hitler exigiu a anexação dos Sudetos sob a justificativa de “proteger os alemães étnicos” que ali viviam, alegando que estavam sendo perseguidos pelo governo tchecoslovaco. Tais acusações não tinham comprovações.
A Tchecoslováquia resistiu à pressão visto que os Sudetos eram parte vital de sua defesa militar.
A crise se agravou, com movimentos de tropas e ameaça de guerra.
Em setembro de 1938, líderes do Reino Unido, da França, da Alemanha e da Itália se reuniram em Munique. A Tchecoslováquia não participou das negociações.
Foi firmado, na ocasião, o Acordo de Munique, onde o Reino Unido e a França aceitaram ceder os Sudetos à Alemanha na tentativa de “garantir a paz”, conforme a política de apaziguamento que estavam adotando.

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Imediatamente, a Alemanha ocupou a região dos Sudetos. O governo tchecoslovaco foi forçado a aceitar e grande parte de suas fortificações e recursos ficou sob domínio alemão.
Depois da incorporação dos Sudetos, Hitler declarou que não faria mais exigências territoriais na Europa. Isso, no entanto, era uma mentira deslavada.
Em março de 1939, explorando a instabilidade e enfraquecimento da Tchecoslováquia, Hitler pressionou o presidente tcheco Emil Hácha a aceitar a ocupação com a desculpa de “garantir a ordem”.
E vejam que ironia a forma como Hitler propôs esta tal garantia de ordem:
“Ou se rendam ou a Tchecoslováquia será bombardeada”.
Isso tem tudo a ver com caos, não com ordem.
Hácha, já idoso e com a saúde mental e física fragilizada, chegou a passar mal durante a discussão. Diante dessa ameaça explícita de destruição da capital e da população civil, Hácha cedeu e assinou um documento autorizando a entrada “pacífica” das tropas alemãs, para “garantir a ordem”.
Então, tropas alemãs ocuparam Praga e o restante do território tcheco, estabelecendo o chamado “Protetorado da Boêmia e Morávia” sob domínio nazista.
O próximo país que a Alemanha tomou foi a Polônia. Esta parte foi decisiva.
Anexação da Polônia à Alemanha e anúncio da Segunda Guerra Mundial

Por que esta obsessão de Hitler pela Polônia?
Hitler via a Europa Oriental como o território destinado à expansão alemã. No livro Mein Kampf, ele já defendia que o povo alemão precisava de terras agrícolas no leste para sustentar seu crescimento.
A Polônia, com seus vastos campos e recursos naturais, era vista como uma colônia natural para os alemães, que supostamente superariam as “raças inferiores” eslavas que lá viviam. Acontece que Hitler acreditava que os poloneses, assim como os judeus (que eram cerca de 10% da população polonesa na época), eram obstáculos ao domínio ariano.
Além disso Hitler odiava com todas as forças o Tratado de Versailles, que reduziu a Alemanha a uma potência de segunda categoria após a Primeira Guerra. Anexar a Polônia era um passo para desafiar abertamente a França e o Reino Unido a devolver territórios que haviam sido alemães antes de 1919.
O projeto de Hitler era não apenas ocupar a Polônia, mas também esvaziá-la de sua população não-alemã. Documentos nazistas, como o Generalplan Ost, previam expulsão ou escravização de poloneses eslavos e extermínio em massa de judeus poloneses, que eram cerca de 3 milhões.
A invasão da Polônia pela Alemanha Nazista, iniciada em 1º de setembro de 1939, foi assim:
Na noite de 31 de agosto de 1939, num evento que ficou conhecido como Operação Himmler, soldados alemães disfarçados de poloneses simularam um ataque à estação de rádio alemã em Gleiwitz, na fronteira polonesa.
Sim! Foi isso mesmo que aconteceu, uma encenação, uma mentira armada.
A Operação Himmler foi usada para justificar a invasão da Polônia pela Alemanha em 1º de setembro de 1939, um dos golpes mais medíocres da propaganda de Hitler, alegando legítima defesa.
Essa operação foi crucial. Por quê?
Porque mostrou o cinismo absoluto do regime nazista. Hitler não queria parecer um agressor perante o mundo, ainda que planejasse a guerra desde o começo.
Revelou também a eficiência da máquina de propaganda nazista, que fabricava mentiras com requintes de crueldade.
Apesar de estarem em desvantagem tecnológica, as forças armadas polonesas lutaram bravamente. Um pequeno contingente polonês, inclusive, resistiu por 7 dias contra ataques navais e terrestres.
Em algumas batalhas, a cavalaria polonesa, como a Brigada Pomorska, enfrentou tanques alemães, tornando-se um símbolo de resistência.
Hel, o último reduto polonês, rendeu-se em 2 de outubro.
O território polonês foi dividido entre a Alemanha e a URSS, conforme acordado no Pacto Ribbentrop-Molotov.
Imediatamente, a Alemanha iniciou a perseguição a judeus e intelectuais poloneses. Líderes poloneses fugiram para Londres, formando um governo resistente.
Acontece que a França e o Reino Unido tinham um compromisso formal de defesa mútua com a Polônia formalizado logo depois da invasão da Alemanha à Tchecoslováquia. Neste momento, a França e o Reino Unido perceberam que a política de apaziguamento havia falhado e, para conter Hitler, assinaram este tratado com a Polônia onde estabeleceram que, em caso de ataque alemão, a França atacaria pelo oeste. O Reino Unido, por sua vez, prometeu a soberania polonesa.
Até então, a França e o Reino Unido haviam feito vista grossa às violações de Hitler, tais como remilitarização da Renânia em 1936, anexação da Áustria em 1938, ocupação da Tchecoslováquia em 1939.
Mas a Polônia era uma linha vermelha porque diferente da Tchecoslováquia, era uma aliada militar ativa; e mais ainda, o corredor polonês separava a Alemanha da Prússia Oriental. Se Hitler o controlasse, ameaçaria o equilíbrio de poder na Europa.
Quando a Alemanha invadiu a Polônia em 1º de setembro de 1939, França e Reino Unido exigiram a retirada imediata. Hitler ignorou. Em 3 de setembro, então, às 11h00 da manhã, o Reino Unido declarou guerra; e, às 11h30, a França também.
França e Reino Unido declararam guerra porque sabiam que, se não agissem, Hitler dominaria a Europa. Mas sua hesitação inicial mostrou que estavam despreparados para a brutalidade do conflito que se seguiria, conforme essa conversa continua bem aqui.