A ansiedade é como um tempero que, quando mal dosado e mal administrado, causa um estrago enorme à refeição preparada. Pode ser que os outros ingredientes estejam frescos, bem preparados e devidamente empregados, mas aquele tempero em excesso estraga tudo. Você não consegue sentir o sabor de nenhum ingrediente, exceto ele.
Quando você tem aquela pesada ansiedade no peito, não importa se o lugar onde você está é maravilhoso, se as pessoas com quem você está interagindo são especiais e se a atividade que você está praticando é agradável. A ansiedade tem o poder de transformar todas as cores em cinza, o quente e o morno em gelado, os sons agradáveis em zumbidos.
Você conhece o psicólogo canadense Jordan Peterson? Ele é bem famoso mundialmente pelos best-sellers 12 Regras Para a Vida: Um Antídoto Para o Caos e Além da Ordem: Mais 12 Regras Para a Vida. O conteúdo que ele produz, tanto em livros como em palestras, é excelente. Quando o assunto é inteligência emocional, no meu ponto de vista, ele é quem melhor trata do tema na atualidade.
Recentemente assisti um vídeo onde ele relata algumas formas de lidar com a ansiedade e tem duas dicas, em especial, que achei muito válidas e diferentes daqueles conselhos clichês que estamos cansados de ouvir. Com carinho, relato-as a seguir para registro próprio e, quem sabe (🙏), para ajudar alguém que chegou aqui e esteja precisando ler isso hoje.
Fazer registros reduz a ansiedade
Sabia que, de acordo com estudos de James Pennebaker, da Universidade do Texas, escrever sobre traumas por 15 a 20 minutos diários melhora a imunidade, reduz visitas médicas e diminui a ansiedade? Esta simples prática tem o imenso poder de integrar memórias emocionais, reduzir o cortisol e, assim, melhorar o humor.
Jordan Peterson enfatiza que o estresse, o desânimo e os pensamentos negativos não são apenas reações emocionais aleatórias, mas frequentemente resultam de uma desordem narrativa que fizemos de nossa vida.
Como assim, “desordem narrativa”?
Nós, humanos, não somos apenas seres que vivenciam eventos – somos narradores natos. Interpretamos nossas experiências através de narrativas que dão sentido ao mundo, ao nosso passado, presente e futuro e ao nosso lugar nesse todo.
Quando essa narrativa está fragmentada, contraditória, incompleta ou confusa, surge a desordem narrativa.
Isso não é apenas uma bagunça mental; mas também a fonte de problemas como confusão, ansiedade, estresse crônico, desânimo e pensamentos negativos.
Imagine sua vida como um livro: se os capítulos não se conectam, se há páginas rasgadas ou trechos incoerentes, você se sente perdido na própria história, certo?

Quando a construção das histórias sobre nosso passado, presente e futuro estão bagunçadas – com traumas não resolvidos, incertezas pendentes ou falta de direção – o corpo e a mente respondem com estresse crônico, ansiedade e emoções negativas.
“O estresse é como um imposto que pagamos para a incerteza”, frequentemente comenta Peterson.

Por outro lado, reduzir a incerteza proveniente de narrativas bagunçadas que criamos em nossa mente é como investir em uma conta bancária de bem-estar mental.
E como acalmar tal incerteza?
Peterson sugere que é especialmente através da escrita e do planejamento consciente.
Vou te explicar direitinho como é isso.
Escrever sobre o passado esclarece
Sabe como surge a ansiedade, o desânimo e o estresse crônico?
Quando há um acúmulo de experiências passadas que não foram processadas adequadamente.
É como se nosso corpo calculasse o estresse com base em uma proporção: o número de eventos não compreendidos (traumas, mistérios ou questões não resolvidas) dividido pelo número de eventos compreendidos (aqueles que você integrou em uma narrativa coerente). Quanto maior essa proporção, maior o estresse basal – é como carregar um peso invisível que afeta tudo, desde o sono até o humor.
Por que isso acontece?
O fato é que o cérebro humano identifica eventos não resolvidos são vistos como “ameaças potenciais” porque permanecem ambíguos. É como ouvir um barulho da porta bater no meio da noite: será que um estranho entrou em casa ou é apenas o vento?
Tais ameaças ativam o sistema de resposta ao estresse, liberando cortisol e nos deixando em um constante estado de alerta e ansiedade.
Todavia, quando escrevemos sobre estes eventos, forçosamente precisamos articular, organizar e integrar essas memórias, transformando o caos em ordem.

Como fazer na prática?
Jordan Peterson recomenda exercícios de escrita terapêutica. Dedique 15 a 20 minutos por dia para escrever sobre uma experiência traumática ou misteriosa do passado.
Para narrativas precisas e conscienciosas, pergunte-se: “O que aconteceu? Por que isso me afeta? O que aprendi?”
Comece com eventos específicos, como uma perda, um fracasso ou um conflito não resolvido. Com o tempo, isso reduz a proporção daquela fórmula que recém comentamos, reduzindo a ansiedade.
Para exemplificar, imagine alguém que sofreu uma demissão inesperada. Sem processar, isso vira um mistério pendente que gera pensamentos como “Sou um fracasso”. Escrevendo, a pessoa pode reescrever a narrativa: “Foi uma lição sobre resiliência, e agora sei o que valorizar em um emprego”. Isso não apaga o evento, mas o deixa compreendido e resolvido, eliminando aquela tão pesada carga de estresse e ansiedade.
Escrever sobre o futuro direciona
Jordan Peterson ensina que a incerteza sobre “para onde estou indo” ou “por quê” cria outra camada de estresse, levando ao desânimo e à ansiedade.
Sem objetivos claros, a vida parece aleatória e ameaçadora.
Para driblar esses sentimentos, Peterson sugere criar um “plano de vida” – não algo rígido, mas uma narrativa flexível com metas hierárquicas.
Por exemplo, defina objetivos de curto prazo (próxima semana), médio (próximos meses) e longo (anos). Ter a clareza de onde você quer chegar reduz a incerteza ao tomar decisões e transforma o futuro de “vazio assustador” em um “mapa navegável”.

Isso é biologicamente comprovado. A dopamina, o neurotransmissor da motivação, é liberada quando perseguimos metas claras. E tais estímulos dopaminérgicos promovem uma sensação de ânimo e bem estar.
Sabe algo que venho fazendo de um tempo pra cá e que tem se mostrado surpreendentemente bom?
Eu escrevo uma cartinha para mim mesma e nela descrevo como estou atualmente tanto em aspectos físicos, materiais e emocionais; e onde quero chegar até o prazo de abrir e lê-la novamente, que costuma acontecer dentro de um prazo de seis meses ou um ano. Vedo a carta e deixo ela na minha gaveta.
Seis meses ou um ano depois, quando a releio, é sempre um momento bem especial porque a impressão que por vezes temos é que nossa vida está estagnada, certo? Todavia, quando é feito um registro de como você está e suas projeções para um prazo determinado de tempo, as coisas simplesmente acontecem! Você precisa fazer esse exercício para entender do que estou falando (depois lembra de voltar aqui e me contar como foi!i ☺️).
Escrever te faz reagir

Uma última dica que Jordan Peterson dá quanto ao milagre da redação é que, com uma certa frequência, você sente e escreva todas as coisas que você teme ou está evitando, mas que são necessárias para o seu progresso.
Evitar aquilo que tememos reforça o medo e amplia sua escala. Quando quebramos um grande medo em pequenos passos tangíveis e criamos um plano para enfrentá-lo, conseguimos superar nossas crenças limitantes.
Evitar algo não o faz desaparecer; pelo contrário, aumenta o poder que aquilo exerce sobre você. “Encarar o dragão” é a única forma de diminuir sua força.
“Escreva sobre o futuro que você gostaria de evitar e aquele que você deseja criar. Isso o motiva a agir. (. . . ) Você precisa decidir intencionalmente o que quer da vida, ou correrá o risco de ser controlado por aquilo que teme.”
❌Primeira pessoa do singular ✅ Segunda pessoa do plural
Há uma literatura emergente que mostra que uma preocupação excessiva com o “eu individual” está associada ao sofrimento autoconsciente.
Por exemplo, é possível discriminar entre pessoas que estão em depressão e aquelas que não estão com uma precisão de 75% através de um método simples. Sabe qual é ele?
Analisando quantas vezes elas usam o pronome “eu” em suas falas ou escritas. Quanto mais as pessoas se concentram em si mesmas, mais infelizes e ansiosas elas tendem a ser.
Jordan Peterson argumenta que, em muitas sociedades modernas — principalmente ocidentais —, surgiu uma tendência de tentar proteger as pessoas, especialmente jovens, de qualquer forma de desconforto, dificuldade ou sofrimento.
Embora isso pareça bem-intencionado, esse comportamento tem consequências negativas ao longo do tempo. Tais jovens se tornam menos resilientes e mais propensos a acreditar que o mundo deve mudar para acomodar suas preocupações, e não que eles próprios devem se tornar fortes para enfrentar o mundo.
Peterson também acredita que focar excessivamente no próprio estado emocional pode piorar a saúde mental em vez de melhorá-la. Ele sugere que, quanto mais as pessoas são encorajadas a se concentrar excessivamente em sentimentos como ansiedade, depressão ou até pequenas insatisfações, mais elas podem internalizar uma identidade fundamentada nesses problemas, adotando uma postura vitimista.
O que você pode fazer — e isso é extremamente útil — é começar a pensar em como você pode deixar as outras pessoas à vontade, no que você pode fazer por elas, como pode ser útil. Isso pode incluir sua parceira ou parceiro, sua família imediata, seus amigos, colegas de trabalho ou até mesmo membros da comunidade em geral.
Quando você pensa em formas de ajudar os outros e faz o que estiver em seu alcance para tornar a vida alheia melhor, você direciona o foco dos seus pensamentos para algo produtivo e satisfatório e, muito provavelmente, sentirá o antônimo da ansiedade: paz e contentamento.
Me conta aqui nos comentários o que você mais gostou e o que pretende aplicar em sua vida! 💛










Uma resposta
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