Brené Brown, famosa autora de bestsellers, foi muito feliz em definir a vulnerabilidade como “a coragem de ser imperfeito”.
Ser vulnerável tem a ver com admitir que há coisas sob as quais não temos controle nem garantia. É a coragem de falar sobre nossos medos, falhas e incertezas, sem medo de julgamentos e sem a desesperada necessidade de aceitação. Ser vulnerável é algo que nos humaniza, nos liberta e até nos cura de certas “neuroses”.
No entanto, para ter efeito evolutivo em nossa personalidade, a vulnerabilidade precisa ser combinada com bom senso.
E é sobre isso que vamos falar hoje, sobre a vulnerabilidade e a beleza de não disfarçar quem somos. Com prudência e bom senso, é claro.
A blindagem repele, a vulnerabilidade aproxima
Certa vez, há muitos anos atrás, eu estava assistindo o Domingo Legal ainda na época quando o Gugu apresentava, no SBT. Lembro que ele estava entrevistando uma convidada e, dentre as várias perguntas, uma se destacou para mim por causa da resposta.
“Qual é o seu pior defeito?”, perguntou o Gugu.
Sabe o que ela respondeu?
Ela disse bem assim: “Ser sincera demais.”
E ela completou dizendo que por ser “muito verdadeira” acabava falando coisas que as pessoas não esperavam.
Nesta época eu era uma criança, eu provavelmente ainda brincava. E mesmo com toda a minha imaturidade, lembro ter pensado algo como: “Mas isso não é defeito! Ela só está falando isso pra não contar seu pior defeito de verdade.”
Cá entre nós, ser sincera demais é o pior defeito que alguém pode ter? A menos que fosse uma pessoa grosseira e desbocada – tipo a Luana Piovani – isso não é um defeito nem aqui nem na China, concorda?
E se ao invés disso ela respondesse: “Olha, acho que meu pior defeito é ser ciumenta. Quando alguém tem algo que eu gostaria, às vezes isso me chateia. Estou tentando melhorar, mas atualmente é meu pior defeito.”
O que você acharia dessa resposta?
Você “demonizaria” tal pessoa porque ela sente ciúme? Você acharia ela ridícula e abominável?
Muito pelo contrário, pode ser que você se solidarizasse com ela porque você mesmo por vezes sente ciúmes. Em outras palavras, admitir com sinceridade uma falha causa humanização e identidade. A vulnerabilidade tem a ver exatamente com isso.
A grandeza da vulnerabilidade

Vulnerabilidade pode ser definida como a capacidade de se expor emocionalmente, de estar aberto a incertezas, riscos e até mesmo à possibilidade de dor emocional.
Pode envolver compartilhar emoções, admitir falhas, pedir ajuda ou revelar pensamentos que normalmente guardamos para nós mesmos.
Demonstrar vulnerabilidade significa expor partes de nós mesmos que são mais delicadas, como medos, inseguranças ou falhas. Tem a ver com admitir para nós mesmos e para os outros que não somos a super-mãe, a Mulher Maravilha, o sabichão, o faz-tudo ou o destemido homem que aparentamos ser.
Ser vulnerável é ter a coragem de dizer . . .
🌬️ “Desculpa, hoje não vou poder te ajudar”, quando você não tem condições físicas e emocionais de fazer isso.
🌬️ “Eu ainda estou magoada, preciso de mais um tempo” ao invés de fingir que está tudo bem para uma amiga que te decepcionou.
🌬️ “Eu não aceito esse tipo de comportamento” para as brincadeiras sem graça dos colegas de escola que outrora você aceitava pelo medo de ser rejeitada.
🌬️ “Eu não sei fazer isso, preciso de ajudo”, ao se envolver em um projeto da empresa que você não domina.
🌬️ “Estou cansado, eu não aguento mais”, quando você chega no seu limite.
🌬️ “Eu ainda gosto de ti e sinto sua falta, mas vou ficar bem”, ao responder um ex-namorado que você reencontrou.
🌬️ “Sim, eu tenho ciúmes dela” ao invés de fingir segurança e estabilidade diante de uma amiga do seu namorado.
🌬️ “Meu amor, volta mais cedo, quero passar tempo contigo porque você é importante pra mim” ao invés de ficar de “burrinho” por causa dos atrasos do seu marido.
🌬️ “Mãe, pai, eu preciso da atenção de vocês, estou me sentindo negligenciado” ao invés de chamar a atenção de seus pais da forma errada.
🌬️ “Desculpa, filho, fui injusto contigo” ao reconhecer que você falhou em certa ocasião como pai ou como mãe.
A vulnerabilidade exige coragem, pois implica mostrar quem realmente somos, sem máscaras ou fachadas.
Mas é libertador!
Quando nos aceitamos plenamente, com todas as nossas imperfeições, deixamos de viver sob a pressão de atender às expectativas externas e começamos a viver mais alinhados com nossos valores.
Sim, pode ser que sejamos julgados, rejeitados ou até nos sintamos expostos.
No entanto, é nessa coragem de estar “nu emocionalmente” que residem oportunidades de transformação, como superar medos e atingir objetivos, alcançar um relacionamento significativo, mudar de carreira ou enfrentar um trauma.
Na vulnerabilidade também reside um processo de cura interior. Reconhecer e lidar com nossas vulnerabilidades pode ser o primeiro passo para liberar traumas e viver uma vida mais leve e consciente.
Não confunda Habeas Corpus com Corpus Christi
Vulnerabilidade não tem a ver com ser grosseiro porque você entendeu que vulnerável é falar o que pensa; nem se expor desnecessariamente porque agora você acha que deve simplesmente expressar seus sentimentos; muito menos ser individualista porque, afinal, você deve levar em conta suas vontades.
É nesta parte da leitura que chega o bom senso.
Vulnerabilidade é diferente de impulsividade. Essa característica reside em compartilhar pensamentos e sentimentos com pessoas certas, no momento certo.
Podemos dizer que a vulnerabilidade é um lugar para visitar, não para morar.
Você tem permissão para ser vulnerável em relacionamentos de confiança, em conversas íntimas com pessoas próximas ou com seu terapeuta, que realmente precisa te enxergar sem máscaras nem limites.
Para considerar com sabedoria e segurança se você pode ou não agir com vulnerabilidade, responder às perguntas a seguir pode te ajudar.
⚠️ Esta pessoa tem histórico de guardar segredos?
⚠️ Ela tem a tendência de usar informações pessoais contra outros?
⚠️ Existe reciprocidade emocional neste relacionamento?
⚠️ Esta pessoa está em condições emocionais de receber o que vou compartilhar?
E tem o conceito popular baseado na Regra dos Círculos Concêntricos, que é excelente e estabelece o seguinte:
⭕ Círculo Interno (5% das pessoas), família próxima e melhores amigos: vulnerabilidade quase total permitida.
⭕ Círculo Médio (15% das pessoas), amigos próximos e colegas de confiança: vulnerabilidade seletiva e contextual.
⭕ Círculo Externo (80% das pessoas), conhecidos, colegas de trabalho, conhecidos casuais: vulnerabilidade mínima e estratégica.
E antes de compartilhar algo muito pessoal, não deixe de aplicar o Teste das 24 Horas, que envolve responder os seguintes questionamentos:
🕛 Como me sentirei sobre isso amanhã?
🕛 Quais podem ser as consequências?
🕛 Estou agindo por emoção ou por escolha consciente?
Acho que você entendeu bem o ponto, certo?
Buscar apoio genuíno, fortalecer um relacionamento, processar emoções de forma construtiva e pedir ajuda específica são bons gatilhos para a expressão da vulnerabilidade.
No entanto, buscar validação ou atenção, manipular ou culpar outros, evitar responsabilidades e descarregar emoções sem consideração pelo outro são motivações questionáveis.
A verdadeira força da vulnerabilidade associada à maturidade vem quando você tem escolha sobre quando e como ser vulnerável, que tem a ver com não depender da validação externa para se sentir bem e manter limites saudáveis mesmo sendo autêntico.
A vulnerabilidade consciente é como aprender a nadar: você precisa se entregar à água, mas também precisa saber técnicas de segurança. Não se trata de reprimir emoções ou ser falso, mas sim estrategicamente autêntico.
Se você gosta desse assunto, vai amar o bestseller de Renee Brown, “A coragem de ser imperfeito”, este aqui.
O que você pensa sobre esse assunto? Vale a pena ser vulnerável? Você já passou ou está passando por esse processo libertador? Deixe nos comentários, vai ser legal trocarmos ideias sobre esse assunto.