Mari Saad, Mascavo e inclusão: uma opinião “contra a maré”

Mari Saad, da Mascavo, e polêmica sobre falta de inclusão no lançamento da sua linha de maquiagens
Uma opinião diferente das encontradas nas redes sociais sobre o lançamento da marca Mascavo, da Mari Saad.

A marca de beleza Mascavo, da Mari Saad, foi lançada oficialmente em 28 de outubro de 2024.

Desenvolvida ao longo de dois anos, a linha conta com produtos que combinam maquiagem com ativos que promovem cuidados com a pele, focando em uma proposta de beleza mais natural e minimalista.

Com produtos multifuncionais, a marca inclui blushes, contornos, iluminadores e acessórios, como esponjas e pincéis.

Mariana Saad, por sua vez, é uma influenciadora digital brasileira com presença significativa nas redes sociais.

Mari Saad possui uma parceria de longa data com a marca Océane, para a qual desenvolve uma linha de produtos de maquiagem chamada Mari Saad by Océane. Essa linha inclui itens como paletas de sombras, iluminadores, blushes, e acessórios de maquiagem.

Pois bem, o aguardado lançamento da Mascavo veio acompanhado de uma polêmica que levou a um cancelamento em massa da Mariana Saad.

Permita-me confessar que estou um pouco alheia ao assunto com relação a duas esferas – eu entendo pouco e nada de maquiagem (apesar de amar cuidados naturais com a pele) e não conhecia a Mari Saad até então.

Mas, obviamente, o assunto ficou tão escancarado a ponto de uma pessoa do meu perfil ficar informada.

Mariana Saad está sendo acusada de promover uma linha de maquiagens não inclusiva, uma vez que a cartela de cores dos contornos, por exemplo, não contém nuances para pessoas de pele negra.

Há uma enxurrada de críticas e discursos sobre a Mari Saad ser racista, preconceituosa e lançar um produto que só visa o público composto por pessoas de pele branca.

Minha opinião: acho uma grande besteira todo este alvoroço e não concordo com a maioria dos comentários negativos que vem sendo feitos.

Por quê?

Porque é simplesmente ridículo, parece birra de criança que não encontrou o pirulito verde que procurava no mercado da esquina e chora como se o mundo fosse acabar só porque ela não encontrou o que ela queria.

Ademais, acho um tanto quanto hipócrita.

Permita-me desenvolver isto melhor.

Vou tomar como base o vídeo gravado por Karen Bachini, uma influenciadora digital da área da beleza, entitulado “Carta aberta para Mari Saad e Mascavo“.

Durante os pouco mais de vinte minutos de gravação, Karen comenta sobre como é ruim o sentimento de exclusão e quão triste é não se sentir pertencente a um grupo. E cita exemplos, como aquela jovem que era a última a ser escolhida na formação de times na aula de Educação Física e aquela pessoa que foi a única a não ser adicionada no grupo de “amigas” do WhatsApp.

Eu fui essa pessoa que era a última a ser escolhida pro time, na Educação Física. Por pelo menos quatro motivos, eu sofria rejeição na escola, especialmente no Ensino Médio. E tudo bem, não sou nenhuma coitadinha por causa disto. Muito pelo contrário! Feliz de mim que passei por experiências que me permitiram hoje sentir mais empatia e desenvolver resiliência.

Aliás, sou apenas mais uma na multidão, porque creio que dez entre dez jovens enfrentam, em algum momento, sentimentos de rejeição.

O problema é que hoje em dias as pessoas não sabem lidar com a rejeição. Sou de 1988 e, na minha época de infância e adolescência, quem era rejeitado não fazia discurso ideológico. Tínhamos ou que sofrer na marra, lidando com a timidez e a solidão; ou aprender a nos defender; ou então lutar pra pertencer a algum grupo, encontrando por conta próprio amigos tão estranhos quanto a gente.

E isso foi tão importante na formação de nosso caráter! Engolir sapos, aguentar provocações e suportar a constante presença do vermelhidão no rosto desenvolveu em muitos de nós virtudes que quem sabe se desenvolveríamos em um cenário diferente?

Ok, pode ser que a Mariana Saad não tenha contemplado todos os tons de pele em sua linha de maquiagens. Isso foi um erro sim. Ela comentou que as outras tonalidades serão lançadas aos poucos. Alguns acham que isso é discurso pós-crítica, outros acham que é sincero.

Tem como saber? Provavelmente não temos como saber. Minha opinião: maquiagem é algo trivial, não estamos falando de vacinas. Sendo assim, prefiro dar à Mari o benefício da dúvida e acreditar no que ela alega.

E se ela realmente fez uma maquiagem não inclusiva, excluindo pessoas de pele negra? Paciência, meus amigos. Saiba lidar com a frustração e a rejeição. A Mascavo é a única linha de maquiagens que existe no mundo? Procure outra marca de maquiagens, tem tantas empresas boas! Que grande mal há nisso?

Assim é a vida. Constantemente nos deparamos com produtos que não incluem ou nossa cor de pele, ou nosso tamanho de corpo ou nossos gostos e nossas preferências. Quem aqui nunca saiu de uma loja sem encontrar a calça na sua numeração? Ou um produto que não tinha uma versão sem glúten ou sem lactose?

Sinceramente não acho que foi uma questão de preconceito por parte da Mariana Saad. Ao meu ver, está mais ligado a questões administrativas da marca, que se antecipou no lançamento antes de ter a linha completa de produtos.

Mas pense comigo: alvoroço na Internet com o intuito de cancelamento de uma marca ou de uma pessoa não é o que vai resolver o problema do racismo. Você consegue me citar um caso que tenha alcançado este objetivo usando este método? Duvido, porque se tivesse, estaríamos nós aqui falando sobre este assunto?

Ademais, este discursinho aparentemente empático de muitos influenciadores me parece hipócrita.

Sabe por quê?

Porque tenho certeza absoluta de que muitos daqueles que defendem inclusão e solidariedade são o tipo de pessoa que não sabe dizer não para os amigos, mas trata os pais com falta de respeito. Que é grosseiro com as Testemunhas de Jeová, que só querem falar coisas positivas. Que desliga o telefone na cara dos operadores de telemarketing, que só estão realizando seu trabalho.

Que tipo de inclusão é essa que eles tanto defendem? Uma inclusão seletiva?

Concluo este pequeno desabado com uma citação do filósofo francês François de La Rochefoucauld que, em outras palavras, mencionou que a hipocrisia serve como uma máscara para ocultar os próprios defeitos, apresentando uma fachada de virtude para agradar ou enganar os outros:

“A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude.”

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