Como são fascinantes as diferenças culturais!
Se um dia escrevesse um livro, eu definitivamente escolheria este tópico para pesquisar e discorrer.
Você também gosta desta miscelânea de comportamentos, atitudes, formas de pensar e de sentir que variam de acordo com a geografia do globo?
Eu acho incrível!
E você já reparou o quanto a cultura impacta nos relacionamentos humanos e na forma como lemos os acontecimentos corriqueiros do dia a dia?
Vou dar um exemplo, você vai entender melhor.
Há uns dias atrás, estava eu assistindo um vídeo bem interessante e divertido de uma coreana casada com um brasileiro. Para descobrir o quão ocidental ou oriental são suas formas de pensar, juntos eles analisaram algumas imagens.
A diferente interpretação que eles fizeram de tais gravuras me ensinou como a cultura tem um papel importante na maneira como vemos a nós mesmos e a sociedade que nos circunda. Aliás, esse “nos circunda” me soou bem ocidental agora. Você vai entender melhor a seguir.
Escolhi três das cinco imagens mostradas no vídeo.
Vamos lá, primeira imagem:
E então, que tal?
A opção C representa uma visão ocidental e a A, uma visão oriental.
Por quê?
A referência para os ocidentais é “onde eu estou”. Sendo assim, aquele que está mais longe é o que está na frente, isto é, a nave espacial C.
Por outro lado, os orientais têm o contexto como referência. Para um oriental, é como se as naves espaciais estivem te olhando. Sendo assim, a que está na frente é a A.
Segunda imagem, vamos lá.
E então, qual é a tua resposta?
Como regra geral, macaco e coelho são a escolha de um ocidental. E macaco e banana são o que um oriental escolhe.
Olha que curiosa que é a explicação: ocidentais pensam em substantivo. Macaco e coelho são animais. Assim, pertencem à mesma categoria e devem ficar juntos.
Por outro lado, um ocidental pensa no verbo. Macaco come banana. Então, macaco e banana ficam no mesmo grupo.
Por fim, a terceira. Essa é digna do gran finale. Deu até uma vergonhazinha do pensamento ocidental depois que vi a explicação sobre essa imagem.
SIM é a resposta de quem tem pensamento ocidental. NÃO é como responde quem tem pensamento oriental.
Qual é a razão?
O ocidental fala que sim porque o menino está sorrindo, ele está feliz.
Por outro lado, o oriental acredita que ele não está feliz na segunda imagem. Uma vez que as pessoas que estão ao redor dele não estão felizes, não tem como ele estar feliz. Logo, este sorriso não é verdadeiro, ele está fingindo.
Este pequeno teste gera uma reflexão e uma auto-avaliação, concorda?
O quanto os meus pensamentos e a minha forma de ser são influenciados pela minha cultura?
Pois bem. Mais do que querer conhecer e saber sobre diferenças culturais, gostaria de entender a origem de alguns comportamentos que são tão característicos de certas localidades.
Descobri, minhas amigas e meus amigos, que a Primeira e a Segunda Guerra Mundial tem muita ligação com isso.
Vou te contar melhor.
Povos mais “frios”
Você já ouviu alguém dizer ou você mesmo já pensou:
“As pessoas de tal país são mais frias” ou “as pessoas de tal localidade são mais individualistas”?
Nesse contexto, subentende-se “frio” como um tipo de personalidade mais discreta em demonstrar sentimentos, por vezes até interpretada como falta de afetividade.
Ou quem sabe você ache diferente, talvez até estranho, o fato de que, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, é comum os filhos saírem da casa dos pais ao completarem dezoito anos de idade; enquanto aqui, no Brasil, tem um grande número de pessoas de trinta, quarenta anos que segue morando na casa dos genitores.
Por que existem essas diferenças de um local para o outro?
Para responder, vamos pensar em alguns contextos presentes na Primeira e Segunda Guerra Mundial. Você vai entender muita coisa depois disso.
Heranças da guerra
Qual era a sistemática das famílias durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial?
Ao completar dezoito anos, os homens faziam o alistamento para o exército.
Qual será que era o sentimento que pairava no ar nos momentos de silêncio que sucediam a abertura do envelope que continha a carta que avisava que o jovem de dezoito anos daquele lar tinha sido convocado para a guerra?
“Vou perder meu filho.”
“Eu não vou mais voltar pra casa.”
As guerras dizimaram milhões de famílias. Com o passar dos anos e a continuidade dos conflitos, dos alistamentos, das convocações e das “baixas”, o coração constantemente enlutado daquelas mães pode ter ficado condicionado àquela realidade que é o reflexo oposto de como uma família deve ser.
Talvez aquelas mães e aqueles pais foram obrigados a se acostumar com perdas e com despedidas. Aqueles intermináveis dias, meses e anos de sol negro e lua de sangue podem ter feito aquelas famílias criarem um conceito alternativo do que é um vínculo familiar.
Pode ser que, para seguirem em frente, recursos do inconsciente daquelas pessoas passaram a lhes ensinar a não se apegar demasiadamente aos seus familiares para a dor da perda não ser tão avassaladora.
Você já ouviu falar em epigenética?
Pesquisadores da área explicam que epigenética é a ciência que, dentre outras coisas, estuda como experiências e situações socialmente definidas podem deixar sinais biológicos no corpo. (Dubois e Guaspare, 2020)
Ou seja, situações vividas por nossos antepassados de um grau até mesmo bem distante marcam o nosso DNA; e o sentimento e o comportamento que eles desenvolveram devido algum trauma, por exemplo, pode ser replicado de geração em geração.
Acho que você já fez algumas conexões neste momento, estou certa?
Voltando ao tópico da guerra, a epigenética é uma explicação bem plausível do porquê a maioria dos americanos e dos europeus espera que seus filhos saiam e sigam seus próprios caminhos ao completarem a maioridade. É uma herança genética, uma herança da guerra.
Pode também explicar o motivo de, aparentemente, alguns europeus e americanos serem mais introspectivos e menos afetuosos quando comparados a outros povos, como os latinos. É como se esta marca epigenética os lembrasse que criar vínculos muito íntimos é perigoso, que uma iminente e forçada separação pode acontecer a qualquer momento e, sendo assim, é mais seguro manter um certo individualismo e poupar dores e sofrimento.
Isso faz sentido, você também acha?
Vaidade e posicionamento feminino
Você já percebeu como, num geral, as mulheres latinas são bem mais vaidosas que as europeias?
Se caminhar pelas ruas de países como a França e a Alemanha, perceberá que geralmente as mulheres não são fãs de grandes produções, como maquiagem; tampouco são adeptas ao salto alto.
Pesquisas apontam que venezuelanas, mexicanas, brasileiras, russas e turcas são as nacionalidades das mulheres que mais gostam de cuidar da aparência pessoal.
Reparou que as europeias não estão nesta lista?
O ILO – International Labour Organization – publicou uma pesquisa interessante sobre os países onde a força feminina está mais presente no mercado de trabalho. Esse relatório mostra que 72,18% das alemãs trabalham fora.
O que pode explicar essas peculiaridades da cultura europeia?
Mais algumas heranças da guerra
Durante os períodos de guerra, as mulheres eram separadas de seus maridos e filhos homens. Desta forma, forçosamente assumiam toda a responsabilidade econômica de suas famílias.
Desta forma, as oportunidades de emprego das mulheres daquela época se expandiram além das profissões femininas exercidas até então.
Elas passaram a realizar trabalhos de telefonistas, telegrafistas, mecânicas e motoristas. Passaram também a atuar muito mais amplamente como médicas e enfermeiras.
Nas fábricas, operavam furadeiras e guindastes, trabalhavam como soldadoras e manuseavam todos os tipos de usinagem de metais.
A guerra também tornou disponíveis às mulheres cargos no Exército, na Marinha e na Força Aérea.
Enfim, as mulheres que viveram no contexto das guerras compartilhavam os mesmos riscos que os homens e faziam o mesmo trabalho braçal que eles.
Com todas estas laboriosas responsabilidades, fica difícil imaginar que estas mulheres encontrassem tempo para se maquiar e investir em maiores produções, não acha?
Novamente a epigenética aparece reproduzindo nas mulheres europeias da nossa era um comportamento um tanto quanto desprendido de muita vaidade e uma postura proativa e independente.
Como é curioso descobrir as origens de traços culturais, não é?
Escrevendo esse post, fiquei também pensando de onde vem a cultura disciplinada dos asiáticos, a postura despreocupada dos latinos, a pontualidade marca registrada dos britânicos, et cetera, et cetera, et cetera.
Mas esse é assunto para um próximo chazinho.
4 respostas
Minha querida s. Luize . Obrigada por essa matéria tão instrutiva .
Mt bom saber diferenças de cultura.
Meu abraço
Muito interessante! Eu me lembrei de Anésia Pinheiro Machado, a primeira mulher a pilotar um avião!
E Amelia Earhart, a primeira mulher a voar a maior altitude e a maior velocidade.
Infelizmente ela morreu e mesmo sem seu corpo não ser encontrado, seu legado com certeza foi!
Para uma próxima vez, fala sobre ela Tantize!
Muito interessante essa epigenética
Aprendi mais uma
Parabéns pela excelente matéria cultural
Que interessante! Faz muito sentido mesmo. Amei a leitura 📚