Quem venceu a Segunda Guerra Mundial?

Segunda Guerra Mundial
Chegamos ao capítulo final da Segunda Guerra Mundial: Eixo x Aliados - existe um lado que vence numa guerra?

Na nossa última conversa, paramos num ponto de fortes emoções – Dia D na Normandia, no oeste da França.

A Alemanha começou a Segunda Guerra Mundial com importantes vitórias. No entanto, após a entrada dos Estados Unidos no combate, os Aliados conquistaram avanços significativos em batalhas surpreendentes.

O cenário era o seguinte: 

É maio de 1944. Os Aliados (Reino Unido, França, Estados Unidos, União Soviética, China, entre outros) já tinham recuperado a Itália da posse da Alemanha.

A França e outros países da Europa estavam tomados pelos alemães desde 1940.

O objetivo dos Aliados? Libertar a Europa ocidental e acabar com os nazistas.

O fatídico Dia D da Segunda Guerra Mundial

O Dia D é considerado um dos eventos mais importantes da Segunda Guerra Mundial e da história militar moderna.

Dia D é o nome dado ao 6 de junho de 1944, quando as forças Aliadas realizaram a maior operação de invasão anfíbia da história, chamada de Operação Overlord, desembarcando nas praias da Normandia, no norte da França.

Uma operação anfíbia envolve o ataque de forças armadas partindo do mar em direção à terra.

Mapa mostrando França e países vizinhos com destaque para a região Francesa de Normandia, Segunda Guerra Mundial
Mapa mostrando França e países vizinhos com destaque para a região de Normandia

Esse foi o início da libertação da Europa Ocidental do domínio nazista.

Conforme vimos na última postagem, a França estava ocupada pela Alemanha desde 1940. Após o território francês, muitos outros países da Europa Ocidental e Central foram tomados sob controle direto ou influência da Alemanha nazista, dentre eles:

  • Bélgica: totalmente ocupada.
  • Países Baixos (Holanda): totalmente ocupados.
  • Luxemburgo: ocupado.
  • Dinamarca e Noruega: ocupadas desde 1940.
  • Polônia, Tchecoslováquia, Áustria: ocupadas ou anexadas.
  • Hungria, Romênia, Bulgária: governos aliados ou subordinados ao Eixo.

De 1941 em diante, a União Soviética (URSS) suportou a maior parte do esforço de guerra contra a Alemanha, principalmente após a Operação Barbarossa, quando a Alemanha a invadiu.

A ocupação da França criou uma linha de frente ocidental “fechada” pela Alemanha. Sim, a França serviu como uma barreira e uma fortaleza nazista.

A URSS, que estava lutando bravamente no leste e sofrendo perdas terríveis, começou a pressionar fortemente os Estados Unidos e o Reino Unido para atacar os alemães pelo oeste, justamente no território francês ocupado.

Esse duplo ataque (leste pelos soviéticos, oeste pelos Aliados) ajudaria a enfraquecer a Alemanha por todos os lados e aceleraria o fim do conflito.

O plano de libertação da Europa Ocidental

Após longos meses de preparo e treinamento, os Aliados decidiram atacar na Normandia, no noroeste da França, banhada pelo Canal da Mancha.

Pas-de-Calais, a região entre o canal da Mancha e o norte da França, parecia a escolha mais lógica para uma invasão já que estava há apenas 32 km de distância da Inglaterra e tinha rotas diretas para o interior da França e avanços rápidos para outros pontos estratégicos, como a Bélgica e a Alemanha.

Mapa mostrando Reino Unido, Canal da Mancha e localidades importantes da França na Segunda Guerra Mundial, como Normandia e Pas de Calais
Localizações estratégicas de Pas-de-Calais e Normandia – Combine Dops

Por que, então, os Aliados escolheram Normandia?

Justamente porque os alemães achavam que o ataque ocorreria em Pas-de-Calais.

Acreditando nesta possibilidade, eles, inclusive, reforçaram extensivamente a região com bunkers, minas, torres de artilharia e divisões de tanques prontas para enfrentar um ataque. A costa de Pas-de-Calais era a parte mais fortificada da Muralha do Atlântico.

Hitler também posicionou inúmeras divisões de infantaria e blindados alemães em Pas-de-Calais.

Os Aliados sabiam que atacar Pas-de-Calais seria como atacar onde o inimigo estava esperando. Por isso, foi descartada como o local principal. A Normandia, mais afastada, apresentava diversas vantagens estratégicas, dentre as principais:

  • Embora a Normandia também fosse parte da Muralha do Atlântico, suas defesas eram consideravelmente mais fracas do que em Pas-de-Calais.
  • Havia um número menor de tropas, e as divisões blindadas alemãs (tanques) estavam estacionadas a centenas de quilômetros de distância, porque o alto comando alemão não acreditava que esse seria o principal ponto de ataque.
  • As praias da Normandia eram largas, com espaço suficiente para as tropas e veículos desembarcarem.
     
  • As ilhas próximas serviam como uma proteção natural. Por estes arquipélagos naturalmente constituírem uma área mais rasa e mais apertada, as movimentações de submarinos e navios de ataque alemães ficavam impossibilitadas.


Para os Aliados, mover as forças navais e aéreas até Normandia não foi um grande desafio porque a distância de 160 km entre esta localidade e a Inglaterra ficou viável com os navios sendo protegidos pela superioridade aérea aliada. Como os Aliados controlavam os céus da Europa ocidental, então podiam bombardear as defesas e neutralizar os contra-ataques alemães.

Antes de executar a operação de invasão, o plano dos Aliados era confundir os alemães.

Confundindo o inimigo

Os Aliados coordenaram uma série de ataques “falsos” e operações de engano no dia 6 de junho de 1944, o Dia D, para confundir os alemães sobre onde a verdadeira invasão aconteceria. 

Chamadas de Operação Bodyguard e suas suboperações, tais táticas aconteceram de forma quase simultânea, mas foram parte de um plano cuidadosamente coordenado para atingir os alemães em várias frentes psicológicas e militares ao mesmo tempo.

Foi assim:

Operação Glimmer e Operação Taxable: Ataques Aéreos Falsos

As operações Glimmer e Taxable simulavam frotas navais falsas navegando em direção à costa francesa. Foram realizadas durante a madrugada do Dia D, enquanto as tropas reais estavam prestes a desembarcar na Normandia.

Neste ”ataque”, aviões aliados equipados com máquinas para gerar reflexos de radar simulavam frotas de navios se aproximando das regiões ao norte da Normandia.

Os refletores de radar enganavam as defesas alemãs, que pensavam que frotas navais reais estavam prestes a atacar. Isto criou múltiplas distrações no radar alemão.

Operação Titanic: Paraquedistas Falsos

A Operação Titanic envolveu o lançamento de 500 bonecos de paraquedas, cada um equipado com dispositivos que imitavam sons de tiros e explosões, para simular desembarques de tropas aerotransportadas em áreas distantes da Normandia.

Os bonecos aterrissaram em quatro locais diferentes, fora da área do desembarque principal, para fazer os alemães acreditarem que estavam presenciando ataques reais.

Ao mesmo tempo, pequenos grupos de comandos aliados foram lançados junto com os bonecos para criar confusão com explosões reais, aumentando a ilusão.

A Operação Titanic ocorreu simultaneamente ao desembarque real das tropas paraquedistas verdadeiras, por volta da madrugada do Dia D, para ampliar a confusão.

Operação Fortitude: A Grande Farsa

A Operação Fortitude foi a maior e mais longa farsa dos Aliados. Seu objetivo era convencer os alemães de que o verdadeiro ataque das forças aliadas aconteceria em Pas-de-Calais.

Aspectos do plano envolviam o seguinte:

Na Inglaterra, tanques de borracha, aviões de madeira e “movimentações” fictícias de tropas foram criados usando rádios falsos que os alemães poderiam interceptar.

Agentes duplos enviados para os alemães, como Juan Pujol (Garbo), transmitiram relatórios falsos confirmando que o ataque principal seria em Pas-de-Calais.

Para fortalecer a narrativa, bombardeios aéreos foram realizados em regiões próximas de Pas-de-Calais ao longo de várias noites para enganar os alemães.

Essas operações falsas, ocorreram em grande medida ao mesmo tempo do ataque real na Normandia.

As operações foram tão bem implantadas que mesmo dias após o Dia D, Adolf Hitler e outros líderes alemães ainda achavam que o ataque principal seria em Pas-de-Calais, mantendo parte essencial de suas tropas longe da Normandia.

Real ataque na Normandia – sangrentas e decisivas batalhas

Como comentamos no início, o Dia D foi um divisor de águas na Segunda Guerra Mundial e marcou uma das operações militares mais complexas, arriscadas e grandiosas desta grande guerra. 

Foi o Dia D que abriu caminho para a libertação da França, para a criação de uma nova frente contra a Alemanha e para o avanço dos Aliados rumo a Berlim, capital da temível Alemanha.

Essa etapa marcou o início da Operação Overlord, mencionada no início desta leitura.

O ataque foi planejado meticulosamente por meses.

Além de enganar os alemães, outra parte do plano consistia na preparação logística. Para tanto, foram reunidos três milhões de soldados, milhares de tanques, navios e aviões.

A costa da Normandia foi dividida em cinco setores de desembarque:

  • Utah e Omaha (americanas)
  • Gold e Sword (britânicas)
  • Juno (canadense)
A costa de Normandia e o desembarque nas praias determinadas pelos Aliados Segunda Guerra Mundial
A costa de Normandia e o desembarque nas praias determinadas pelos Aliados

Para o ataque, 156.000 soldados aliados desembarcaram no primeiro dia. Para suporte marítimo e aéreo, os Aliados tinham à disposição mais de 6.000 embarcações e 11.590 aeronaves.

Ataque pelo ar – paraquedistas

Na noite de 5 para 6 de junho de 1944, por volta das 2h30 da manhã, cerca de 24.000 paraquedistas da 101ª e 82ª Divisão Aerotransportada dos EUA e da 6ª Divisão Aerotransportada Britânica foram lançados atrás das linhas alemãs. Isso foi antes do ataque às praias, que começou ao amanhecer.

Os alemães organizaram linhas de defesa compostas por soldados, bunkers, artilharia e fortificações ao longo da costa francesa para impedir qualquer ameaça dos Aliados.

Estes 24.000 paraquedistas foram lançados atrás destas linhas. 

Tais soldados receberam a missão de interromper as linhas de comunicação entre os comandantes alemães e seus soldados. Isso incluía cortar linhas telefônicas e destruir centros de controle para retardar as decisões dos alemães e dificultar a coordenação dos reforços.

Ao se posicionarem em pontos estratégicos, como estradas e pontes, os paraquedistas podiam bloquear rotas que os alemães precisavam usar para enviar reforços às praias de desembarque, como tanques e soldados. Dessa forma, as tropas que defendiam as praias ficavam isoladas, sem ajuda imediata.

Mas não seria “simplesmente” atropelar esses paraquedistas que ficavam na estrada?

Não era tão simples como parece.

Embora os tanques fossem poderosos em combate, eles tinham limitações significativas, o que os faziam ser vulneráveis em certas situações controladas por infantarias bem treinadas, como os paraquedistas.

Tanques dependem de estradas ou terrenos relativamente abertos para se moverem rapidamente, e os paraquedistas colocavam obstáculos (como minas terrestres, árvores derrubadas ou entulhos) nas vias para bloquear o avanço.

Geralmente através de explosivos, os paraquedistas destruíam pontes e estradas antes que os tanques pudessem usá-los, obrigando os alemães a encontrar rotas alternativas.

E tem um aspecto essencial neste jogo: a supremacia aérea aliada ajudava os paraquedistas. 

Durante o Dia D, a força aérea aliada tinha total controle dos céus sobre a Normandia. Qualquer movimento de grandes colunas de tanques ou veículos alemães era facilmente detectado e atacado por aviões americanos e britânicos.

Com todas estas vantagens, os soldados aliados lançados atrás das linhas alemãs atacaram rapidamente em pequenos grupos e em múltiplos locais, criando a percepção de que havia um exército maior do que havia realmente.

Isso fazia os alemães não saberem onde concentrar sua atenção, facilitando os desembarques dos Aliados nas praias.

Os paraquedistas da 6ª Divisão Aerotransportada Britânica conseguiram capturar a Ponte Pegasus, um ponto vital por desempenhar três papéis estratégicos:

  • Bloquear reforços alemães nas praias, reduzindo a capacidade de organizar contra-ataques.
  • Garantir o avanço aliado para o interior, especialmente em direção à cidade de Caen, um ponto logístico crucial.
  • Proteger o flanco esquerdo dos Aliados, assegurando que suas bases de operação no leste fossem seguras.


Os paraquedistas da 82ª Divisão Aerotransportada Americana, por sua vez, foram enviados para capturar estradas e vilarejos estratégicos.

A região de Saint-Mère-Église era um vilarejo com esta característica.

Saint-Mère-Église em 1944, Dia D Segunda Guerra Mundial
Saint-Mère-Église em 1944, Dia D Segunda Guerra Mundial

Apesar de pequena, Saint-Mère-Église era uma localidade crucial que ligava a praia de Utah Beach (nome dado para a ocupação americana na costa) ao interior de Normandia.

O vilarejo ficava no flanco direito das operações aliadas, próximo à região controlada pelos alemães. Tomá-lo e fortificá-lo dificultaria os contra-ataques alemães nas praias de Utah.

Além de Saint-Mère-Église, o controle das estradas e cruzamentos próximos era fundamental, tanto para os Aliados quanto para os alemães. 

Apesar de o maior número de tropas e veículos chegarem pela praia, para os Aliados essas estradas eram cruciais para transportar suprimentos, tanques, munições e combustível.

Para os alemães, essas estradas eram as rotas principais usadas para trazer reforços de outras partes da Normandia, ou até mesmo de áreas mais distantes, como a Bretanha e a França ocupada. 

Cortá-las significava dispersar e atrasar os alemães, enfraquecendo sua capacidade de reação.

Os paraquedistas também receberam a ordem de ocupar e proteger áreas cobertas por vegetação, pois tais tipos de lugares eram usados como pontos de concentração de tropas alemãs, que poderiam realizar ofensivas contra as praias.

Como foi a missão da 82ª Divisão na região?

Apesar da importância estratégica, a operação enfrentou muitos desafios:

As zonas de pouso planejadas para os paraquedistas foram desfalcadas devido ao mau tempo e aos fortes ventos. Muitos soldados caíram em áreas erradas, algumas diretamente em vilarejos fortemente ocupados pelos alemães. 

Muitos foram alvejados no momento em que ainda estavam descendo de paraquedas, tornando-os alvos fáceis. Alguns acabaram sendo mortos antes mesmo de tocarem o solo ou imediatamente após pousarem, especialmente em áreas fortemente guarnecidas com metralhadoras e patrulhas alemãs.

Pequenos grupos de soldados ou até indivíduos isolados tiveram que operar sozinhos ou em pequenos grupos, longe de seus comandantes.

Esse caos poderia ter comprometido a operação, mas, surpreendentemente, muitos soldados se reorganizaram rapidamente no campo de batalha.

Paraquedistas eram soldados altamente treinados para operar como pequenos grupos independentes e improvisar diante da adversidade.

Mesmo espalhados e desorganizados, eles usaram táticas de guerrilha e suas habilidades individuais para continuar atacando pontos estratégicos, como estradas, pontes e estruturas logísticas alemãs.

Apesar do desvio de muitos paraquedistas de seus locais planejados, várias missões críticas foram cumpridas, como explodir pontes e bloquear estradas usadas pelos alemães.

Apesar dos desafios, a missão em Saint-Mère-Église, um dos principais objetivos, foi executada com sucesso. Ela foi declarada o primeiro vilarejo libertado pelos Aliados na França.

Um dos momentos mais famosos aconteceu quando um soldado, o paraquedista John Steele, ficou preso na torre da igreja principal de Saint-Mère-Église. Impotente, ele foi forçado a assistir o dramático confronto enquanto seus colegas eram capturados ou mortos por soldados alemães. Steele fingiu que estava morto e se reuniu com os Aliados após o vilarejo ser capturado.

Depois da operação em Saint-Mère-Église, os paraquedistas tiveram que resistir a vários contra-ataques alemães, enfrentando tanques e artilharia inimiga.

Os reforços vindos da Praia Utah, com tropas adicionais e tanques, foram essenciais para consolidar o controle aliado sobre o vilarejo e as estradas próximas.

Graças à captura de Saint-Mère-Église e de diversas estradas e Pontes pela 82ª Divisão Aerotransportada, os Aliados conseguiram:

  • Garantir rotas logísticas seguras para avançar rapidamente no interior da Normandia.
  • Isolar parte da resistência alemã, que ficou sem reforços em importantes áreas, como na Praia de Utah.
  • Criar uma base forte no flanco direito da invasão.

Ataque pelo solo – praias

Ao amanhecer, começou o grande desembarque nas praias. 

Apesar da superioridade numérica e tecnológica dos Aliados, eles enfrentaram forte resistência alemã. Cada setor teve desafios específicos:

Utah Beach (Setor Americano): Defesas de artilharia alemã estavam posicionadas em Cotentin. No entanto, a praia foi tomada com poucas baixas em comparação a outras.

Omaha Beach (Setor Americano): Este foi o mais sangrento de todos os setores. As defesas alemãs em Omaha eram extremamente fortes, com bunkers elevados e metralhadoras posicionadas nas colinas acima da praia. Os americanos enfrentaram condições desesperadoras ao desembarcar, com muitos soldados sendo mortos antes mesmo de chegar à praia. Apesar dos desafios, as tropas conseguiram vencer a resistência alemã e garantir a praia no fim do dia, mas à custa de mais de 2.000 mortos e feridos.

Gold Beach (Setor Britânico): Os britânicos enfrentaram forte resistência alemã nas fortificações. Após horas de combates intensos, os britânicos conseguiram controlar grande parte da praia e se conectar com as tropas canadenses em Juno.

Juno Beach (Setor Canadense): Os canadenses tiveram sucesso significativo, mas sob forte resistência dos alemães. Suas tropas conseguiram avançar para o interior no mesmo dia, capturando vilarejos estratégicos.

Sword Beach (Setor Britânico): Nesse setor, os britânicos enfrentaram dificuldades semelhantes às enfrentadas em Omaha, mas o sucesso foi obtido após combates ferozes.

Enquanto as tropas desembarcaram, os navios aliados bombardearam posições alemãs. Aviões aliados atacaram baterias de artilharia, sedimentando o sucesso das operações terrestres.

Apesar das 10.000 baixas sofridas, o sacrifício criou as bases para o avanço dos Aliados para o interior da França.

Ao final de 6 de junho, os Aliados haviam estabelecido cabeças de ponte em vários pontos da Normandia.

No entanto, esse foi apenas o começo de uma longa e difícil campanha militar na Europa Ocidental.

A Batalha da Normandia (Junho – Agosto de 1944)

A Normandia era composta por inúmeras pequenas cidades, cercas-vivas e campos cheios de obstáculos naturais, ideais para emboscadas e defesas alemãs, dificultando o avanço aliado.

A estratégia era os americanos avançarem pelo flanco oeste, em direção à Península de Cotentin, com o objetivo principal de capturar o porto estratégico de Cherbourg; e os britânicos e canadenses avançarem ao longo do flanco leste para capturar a importante cidade de Caen, considerada a chave estratégica da Normandia.

A resistência alemã foi pesada. Batalhas extremamente difíceis foram travadas, como a Batalha de Caen.

Caen após a trágica batalha da Segunda Guerra Mundial
Caen após a trágica batalha da Segunda Guerra Mundial – French Today

Apesar disso, os Aliados conseguiram conquistar o porto de Cherbourg, essencial para o desembarque de suprimentos; e a cidade de Saint-Lô. Embora severamente danificada, a conquista dessa cidade abriu rotas cruciais para o avanço aliado.

Ponto de virada: A Operação Cobra (Final de julho de 1944)

Lançada pelos americanos em 25 de julho, a Operação Cobra foi fundamental para romper as linhas alemãs na Normandia

Após semanas de combates sangrentos, os Aliados quebraram as defesas alemãs na região ocidental da Normandia e avançaram rapidamente pelo interior da França.

Como resultado, em 25 de agosto de 1944, Paris foi libertada pelos Aliados, após combates intensos liderados principalmente pela resistência francesa e forças aliadas. Esse evento marcou o fim da campanha na Normandia e o início do avanço pela França.

Paris é libertada do domínio alemão durante a Segunda Guerra Mundial
Paris é libertada do domínio alemão durante a Segunda Guerra Mundial – Story of a City

Uma devastadora derrota para os Aliados

Com o fim da Batalha da Normandia, os Aliados começaram sua ofensiva em larga escala até Berlim.

A Operação Market Garden, em setembro de 1944, foi um ambicioso plano liderado pelo exército britânico.

Foi uma das mais arriscadas e controversas operações militares da Segunda Guerra Mundial. Vou te explicar porquê.

O objetivo era abrir um corredor rápido para invadir a Alemanha pelo norte, libertando grandes regiões da Holanda e cruzando o Rio Reno, que era considerado o último grande obstáculo natural à invasão do coração da Alemanha Nazista. 

Como os Aliados fariam isso? 

Usando uma combinação de tropas aerotransportadas e forças terrestres para tomar pontes importantes na Holanda, permitindo que os Aliados avançassem diretamente para a Alemanha, poupando tempo e evitando grandes baixas.

Se fosse bem-sucedida, a operação poderia terminar a guerra na Europa ainda em 1944.

Apesar de ter começado com sucesso, a operação acabou fracassando em seus objetivos principais.

Três divisões de paraquedistas seriam lançadas atrás das linhas alemãs para capturar e controlar pontes vitais. Em solo, uma força terrestre avançaria pelo corredor aberto pelos paraquedistas, consolidando suas posições e permitindo o envio de suprimentos e reforços.

As forças aerotransportadas conseguiram capturar várias pontes ao longo da rota, permitindo algum avanço. No entanto, o objetivo principal de tomar a ponte em Arnhem e cruzar o Reno não foi alcançado.

O resultado foram pesadas baixas. A 1ª Divisão Aerotransportada Britânica sofreu 8.000 baixas, incluindo mortos, feridos e prisioneiros. E sabe quantos soldados foram mobilizados para esta operação?

10.000 soldados!

Isso mesmo que você calculou: 80% dos soldados foram derrotados.

Com a falha em Arnhem, o avanço aliado no norte da Europa foi interrompido. A maior parte da Holanda ficou ocupada pelos nazistas até o início de 1945, submetendo o país ao chamado “inverno da fome”, causando enormes sofrimentos à população civil.

A Libertação da Europa Ocidental (Setembro de 1944 – Maio de 1945)

Após o fracasso, os Aliados perceberam que precisariam voltar a avanços mais cuidadosos e metódicos ao invés de operações rápidas e arriscadas.

O foco era consolidar suas linhas de defesa e penetrar lentamente nas defesas alemãs.

No final de 1944, as tropas aliadas libertaram quase todo o território francês após a Batalha de Metz e outras ações perto da Linha Sigfrid (a linha defensiva na fronteira alemã).

A captura do porto de Antuérpia, na Bélgica, foi um sucesso estratégico em novembro de 1944, pois permitiu aos Aliados transportaren suprimentos em larga escala.

Em novembro e dezembro de 1944, forças americanas e aliadas cruzaram a fronteira com a Alemanha pela região ocidental. A cidade industrial de Aachen foi a primeira cidade alemã a ser capturada pelos Aliados, em outubro de 1944.

Logo, os Aliados começaram a enfrentar diretamente a Linha Sigfrid, uma imensa linha defensiva construída pelos alemães nos anos 30, recheada de bunkers, trincheiras e obstáculos.

Em um esforço desesperado para reverter a situação na Frente Ocidental, Adolf Hitler ordenou um contra-ataque massivo nas Ardenas, uma região montanhosa e florestada na Bélgica e Luxemburgo. O objetivo era cercar os Aliados, forçando-os a negociar um armistício ou retardando o avanço do inimigo por um tempo suficiente para fortalecer as defesas alemãs.

A ofensiva começou em 16 de dezembro de 1944 em condições de inverno rigoroso, com neve e tempo nublado que dificultaram a superioridade aérea dos Aliados.

Batalha de Ardenas Segunda Guerra Mundial
Batalha de Ardenas – National WW2 Museum

Cerca de 200.000 soldados alemães, apoiados por blindados como tanques Panzer e Tiger, lançaram ataques massivos contra tropas aliadas, principalmente americanas.

Embora surpreendidos inicialmente, os Aliados resistiram heroicamente.

Quando o clima melhorou, os Aliados utilizaram sua superioridade aérea para bombardear posições alemãs.

Ao fim da batalha, em janeiro de 1945, os alemães estavam em retirada, tendo sofrido pesadas perdas de tropas e equipamentos que não poderiam mais ser repostas.

Após a Batalha das Ardenas, os Aliados retomaram a ofensiva e começaram a penetrar profundamente na Alemanha.

O Rio Reno, o maior obstáculo natural restante no oeste da Alemanha, foi cruzado após a captura da ponte de Remagen, em março de 1945.

Após atravessar o Reno, os Aliados avançaram em várias direções, capturando cidades importantes como Colônia, Düsseldorf e Frankfurt.

Enquanto os Aliados avançavam pelo oeste, os soviéticos conduziram uma série de ofensivas devastadoras no leste, libertando a Polônia, a Hungria, e marchando pelo leste da Alemanha.

Em abril de 1945, os soviéticos chegaram em Berlim, cercando a cidade.

A Batalha de Berlim (Abril – Maio de 1945)

A batalha final da Segunda Guerra Mundial na Europa foi travada na capital alemã, com tropas soviéticas atacando de maneira devastadora.

A cidade foi completamente cercada, e o exército alemão já estava em colapso. Adolf Hitler cometeu suicídio em 30 de abril de 1945, enquanto os combates ainda aconteciam. 

Em 2 de maio de 1945, Berlim foi capturada pelos soviéticos.

A-icônica-'Hasteando-uma-bandeira-sobre-o-Reichstag'-Segunda-Guerra-Mundial
A icônica “Hasteando uma bandeira sobre o Reichstag”, de Yevgeny Khaldei – Wikipedia

Em 7 de maio de 1945, o comando alemão assinou a rendição incondicional em Reims, França. No dia seguinte, 8 de maio de 1945 foi declarado como o Dia da Vitória na Europa (V-E Day).

Mas você se recorda de outro país que fazia parte do Eixo?

Sim, o Japão.

Embora a guerra na Europa tenha terminado, o conflito no Pacífico ainda continuou até agosto, quando o Japão se rendeu após as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

O mais horrendo conflito da história humana

Após a rendição do Japão em agosto de 1945, que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo entrou em um novo período histórico, repleto de transformações políticas, sociais e econômicas. O fim do conflito trouxe um misto de alívio pela vitória, mas também revelou os horrores da guerra, como o Holocausto e as bombas atômicas.

A Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais devastador da história.

Cerca de 70 a 85 milhões de pessoas morreram, incluindo combatentes e civis. Isso representa aproximadamente 30% da população mundial da época.

Milhões de judeus e outras minorias, como Testemunhas de Jeová, ciganos, pessoas com deficiências físicas e mentais, homossexuais, comunistas, socialistas e opositores políticos, poloneses e outros eslavos, prisioneiros de guerra soviéticos, mendigos e pessoas sem teto, criminosos reincidentes, trabalhadores sexuais e afro-alemães foram brutalmente perseguidos.

Ao todo, estima-se que o regime nazista causou a morte de 11 a 17 milhões de pessoas durante o Holocausto e operações relacionadas.

A perseguição sistemática aos judeus e minorias começou muito antes da guerra, com a ascensão de Hitler ao poder em 1933. Nesse período foram estabelecidas leis anti judaicas e até mesmo a prisão e envio dos judeus aos primeiros campos de concentração, como Dachau.

Com o início da guerra, em 1939, à medida que a Alemanha nazista invadia territórios europeus (Polônia, França, Países Baixos, União Soviética, etc.), milhões de judeus e outros grupos perseguidos que viviam nesses países passaram a estar sob o controle nazista.

As forças alemãs identificavam e segregavam judeus e as minorias perseguidas nos territórios ocupados. Eles eram retirados de suas casas e enviados para áreas restritas, conhecidas como guetos.

Os guetos eram caracterizados por superlotação, fome extrema e falta de saneamento básico. Eles levaram à morte de milhares antes mesmo da deportação para os campos de extermínio.

O gueto de Varsóvia, capital da Polônia, era um dos maiores, abrigando cerca de 400.000 judeus e minorias, onde muitos morreram de inanição e doenças.

Gueto de Varsóvia Segunda Guerra Mundial - Yad Vashem
Gueto de Varsóvia – Yad Vashem

Com a invasão da União Soviética em 1941 (Operação Barbarossa), o Holocausto evoluiu para assassinatos sistemáticos em larga escala, conforme conversamos aqui.

O Holocausto chegou ao seu auge com a implementação da “Solução Final”, um plano nazista formal para o genocídio de toda a população judaica e minorias perseguidas, transportando-os para campos de extermínio especificamente projetados para assassinato em massa.

Os judeus eram deportados em vagões de trem, muitas vezes passando dias trancados sem comida ou água, e ao chegarem nos campos, eram “selecionados”:

  • Trabalhos forçados: Para aqueles considerados aptos fisicamente (por curto tempo).
  • Execução imediata: Mulheres, crianças e idosos eram enviados diretamente para as câmaras de gás.

Milhões de prisioneiros foram usados como escravos em fábricas de munição, ferrovias e outros projetos militares para sustentar o esforço de guerra nazista.

À medida que os Aliados avançavam, os nazistas tentaram esconder as evidências do genocídio, destruindo guetos, fechando câmaras de gás e transferindo prisioneiros.

Muitos prisioneiros foram forçados a marchar centenas de quilômetros para longe dos campos, levando a milhares de mortes.

Quando os campos foram libertados pelos Aliados (como Auschwitz em 27 de janeiro de 1945), os soldados encontraram imagens de horror: pilhas de corpos, prisioneiros famintos e vastas evidências do genocídio.

Sim, o Holocausto foi um dos maiores e mais horrendos, brutais e covardes crimes contra a humanidade que a história já registrou!

O fim da Segunda Guerra Mundial deu início à uma reconfiguração geopolítica do mundo, que logo seria dominada pela Guerra Fria. E adivinha? Com certeza exploraremos em miúdos este assunto.

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