Uma maravilha que acontece quando você decide ser paciente

Os benefícios de ser paciente
Uma professora desenvolveu uma técnica muito irritante, porém efetiva, para ensinar os incríveis ganhos de ser paciente. Descubra!

O psicoterapeuta M. Scott Peck diz que a paciência “não é meramente um modo de vida mais pacífico orientado para o presente, mas um talento concretamente proveitoso.”

Peck quis dizer que quem é paciente não apenas melhora seu bem-estar emocional, mas também alcança resultados mais positivos em seus empreendimentos diários.

Vivemos numa época de ritmo extremamente acelerado – desde a constante obrigação própria e de terceiros para sermos mais produtivos até o ato de apressar a velocidade dos áudios que recebemos no WhatsApp. Inclusive, já trocamos uma ideia sobre isso, lembra?

Pois bem. Tenho uma história pra te contar que ensina muito sobre o que você ganha quando decide ser paciente.

Tenha santa paciência!

Eu não sou fã da filosofia que orienta esta universidade, mas o relato que tenho para compartilhar é sobre um método utilizado nas aulas de Jennifer Roberts, que ensina história da arte na Universidade de Harvard.

Quem já teve aula com Roberts conta que a primeira atividade solicitada pela professora causa muito alvoroço e pavor entre os alunos.

Sabe o que ela pede?

É o seguinte: escolha uma pintura ou escultura num museu local, vá até lá e fique olhando para ela durante três horas seguidas.

Sim, três horas seguidas! E tem mais: nada de usar o celular, checar os e-mails ou dar uma escapadinha pra tomar um café no Starbucks. Idas ao banheiro, aliás, são permitidas com muita relutância. Tudo que é aceitável ao aluno fazer, além de observar a arte, é levar um bloco para anotar observações ou perguntas que possam surgir.

Oliver Burkeman, autor do livro que muito recomendo “Quatro mil semanas – gestão de tempo para mortais”, submeteu-se de livre e espontânea vontade à essa tortura, opa, experiência.

Achei muito engraçado que ele relatou que durante os longos momentos quando ficou se contorcendo no assento do museu com a opção de apenas e unicamente observar a arte que escolhera, ele chegou ao ponto de sentir vontade de fazer coisas outrora insuportáveis para ele, como comprar roupas, montar móveis e enfiar tachinhas em sua coxa.

Por quê?

Porque tais coisas não lhe exigem ser paciente, ele pode fazê-las instantânea e rapidamente.

Roberts relata que esse tipo de comportamento é normal e insiste que o exercício dure justamente três horas porque sabe que para qualquer pessoa acostumada a uma vida de velocidade, este é um período dolorosamente longo.

No entanto, ela quer que seus alunos enfrentem este extenuante tempo pacientemente para experimentar resultados que fazem esse esforço valer muito a pena.

Que resultados seriam esses?

Quantos minutos – ou até segundos – você passa contemplando uma pintura ou uma escultura de arte? O tempo necessário para fazer uma boa captura com seu celular depois de ler a placa descritiva onde consta o nome do artista, da obra e, por vezes, um breve descritivo da arte?

Eu também!

A professora Roberts realizou pessoalmente este exercício e ficou lá, pacientemente estaqueada contemplando uma obra de arte por três horas. A escolhida foi uma pintura chamada Menino com um esquilo, do artista americano John Singleton Copley, essa que você confere abaixo.

John Singleton Copley A Boy with a Flying Squirrel - O que acontece quando você é paciente
A Boy with a Flying Squirrel, John Singleton Copley
– Fonte: Wikipedia

Sabe o que ela conta?

“Levei nove minutos para notar que o formato da orelha do menino replicava exatamente o formato de um tufo longo do ventre do esquilo”, informa ela, “e que Copley estava fazendo algum tipo de conexão entre o animal e o corpo humano”.

Roberts acrescenta: “Foram 45 minutos até eu perceber que as aparentemente aleatórias dobras na cortina ao fundo do quadro eram na verdade cópias perfeitas da orelha e do olho do menino.”

Percebe como ser paciente é mais um ativo do que um passivo?

E o paciente aluno Oliver Burkeman, que no início não estava tão paciente assim? Como ele se saiu na experiência de contemplar uma obra de arte por três intermináveis horas?

Os resultados de ser paciente

A obra escolhida pelo escritor foi Um escritório de algodão em Nova Orleans, de Edgar Degas.

Un bureau de coton à La Nouvelle-Orléans, de Edgar Degas - A importância de ser paciente
Un bureau de coton à La Nouvelle-Orléans, de Edgar Degas – Fonte: Wikipedia

Burkeman conta que passou os primeiros quarenta minutos lembrando quão odeia galerias de arte.

Depois, começou a visitar com os olhos as obras vizinhas pensando que sua escolha de arte foi tediosa. Mas alternar para outra pintura, começando do zero, seria sucumbir à impaciência à qual estava ali para aprender a resisitir, raciocinou ele.

Assim, ele esperou.

Aquele silêncio prolongado deu lugar à fadiga e depois, a uma inquieta irritação.

“O tempo fica mais lento e afunda. Você se pergunta se já passou uma hora, mas, quando olha para o relógio, descobre que foram dezessete minutos”, relata ele.

No entanto, sem entender exatamente quando e como, no octagésimo minuto, ocorre uma mudança.

O escritor desiste de tentar fugir do desassossego da lenta passagem do tempo e o desconforto diminui.

Foi então que Degas começou a mostrar para o observador que decidiu ser paciente os detalhes secretos da sua obra.

Burkeman repara que há expressões sutis de vigilância e tristeza no rosto de três homens, um dos quais ele percebe pela primeira vez que trata-se de um mercador negro.

Ele também percebe uma sombra sem explicação que outrora não tinha visto; além de uma curiosa ilusão de óptica que faz com que uma figura fique sólida ou transparente, dependendo de como seus olhos interpretam as outras linhas do quadro.

E agora a parte que mais me impactou – não demorou muito para Burkeman começar a sentir a cena em toda a sua plenitude sensorial: a umidade e a claustrofobia do recinto, o ranger das tábuas do assoalho e até o gosto da poeira no ar.

Sim – quando Burkeman desistiu de ditar a velocidade, a experiência real começou.

Logicamente esta lição aplica-se em uma esfera muito mais larga do que a contemplação de obras de arte.

Quando você opta por dar sair deste imenso grupo de pessoas que aceleram suas vidas para o “x2” e decide experimentar ser paciente, que incríveis maravilhas pode contemplar?

A dignidade de uma vida desacelerada

O título deste texto foi estrategicamente colocado no singular (uma maravilha que acontece quando você decide ser paciente) porque talvez, se eu colocasse no plural, você não teria paciência para ler.

Mas logicamente há vários ganhos em ser paciente, por exemplo:

  • Você pode tomar decisões mais racionais e realistas
  • Você desenvolve persistência e resiliência
  • Você se torna um melhor ouvinte
  • Você aprende novas habilidades

É para esta última vantagem que quero direcionar meu foco.

Recentemente, minha sobrinha de 13 anos estava insistentemente tentando me ensinar uma coreografia de uma música de k-pop, que ela (e eu) tanto ama.

Me considero uma pessoa motoramente bem descoordenada, então, você deve imaginar o tipo de aproveitamento que tive nesta aula de dança com minha super exigente professora.

Eu definitivamente não conseguia aprender a coreografia, e o que fiz?

Sim, eu desisti.

Eu pensei: “Não adianta, não é pra mim. Cada pessoa tem habilidades diferentes e essa não é a minha.”

Engana-se quem acha que essa história terá um final bonito – eu demostrando total coordenação e habilidade ao finalmente aprender a, para mim, tão difícil coreografia.

No entanto, quando bem pouco tempo depois me deparei com esta experiência de Roberts, eu pensei: “Se fosse mais paciente, eu com certeza aprenderia essa coreografia”. E agora que estou escrevendo aqui, publicamente, forçosamente vou ter que ser paciente e ir até o fim, até aprender a bendita coreografia.

Mas você percebeu que muitas vezes não se trata de falta de habilidade para aprender algo ou para alcançar um objetivo? E podemos ampliar isso muito além – muitas vezes não é para ser o fim de um relacionamento ou o abandono de um projeto. Talvez seja questão de ser apenas um pouco mais paciente.

O que você alcançaria se exercesse a paciência com mais intensidade?

Aprenderia a tocar um instrumento musical? Talvez ganharia a tão almejada fluência num idioma estrangeiro? Ganharia habilidades culinárias, ou em jardinagem, quem sabe em mecânica e elétrica? “Daria à luz” ao seu livro? Se permitira iniciar um relacionamento amoroso? Insistiria em salvar seu casamento?

O filósofo Robert Grudin descreve a experiência da paciência como “tangível, quase comestível.”

E então? Está disposto a se deliciar com esta refeição?

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