Sua principal qualidade é o que te cura . . . e o que te adoece

A sua principal qualidade é sua maior bênção e maior maldição - Gerado por Gemini
Sabia que a qualidade que melhor te descreve é a causadora de muitos dos seus problemas?

Quão enigmática é a existência humana no que diz respeito aos nossos sentimentos e comportamentos. E qualidades!

Já conversamos aqui sobre algumas questões relacionadas a quem somos de verdade e discorremos sobre “regras” crueis que definem as pessoas com quem nos relacionamos, não deixando muito espaço para a lógica opinar.

O paradoxo de hoje tem a ver sobre como nossa principal qualidade, aquilo que nos define e que faz com que as pessoas se aproximem de nós, pode ser a grande vilã da nossa saúde física, emocional e da nossa qualidade de vida.

Uma pequena historinha para começarmos

Imagine um homem que tem excelente capacidade administrativa.

Tudo o que esse homem toca vira ouro, por assim dizer.

Esse homem . . . aliás, vamos dar um nome para ele — Afonso — tem o inato dom da liderança, sabe gerir e expandir seus negócios como ninguém.

Quem conhece Afonso não titubeia ao responder: a maior qualidade de Afonso é ser um grande excelente administrador.

Afonso realmente ama o que faz. Férias é um tormento para ele. Afonso gosta de estar na ativa, empreendendo, gerindo pessoas, executando novas ideias e levando à frente seus negócios. Administrar é, para Afonso, como o vento que enche as velas de um barco, a trilha sonora que dá emoção ao filme, o edredom quentinho em um dia de inverno. Ser um empreendedor é o que dá graça à vida de Afonso.

Mas nem só de rosas vive um jardim.

É bem comum Afonso perder o sono por conta dos problemas na empresa, que são tão frequentes como o café que ele solicita diariamente ao chegar no escritório. Passado e sem açúcar.

Além disso, Afonso adquiriu uma gastrite estomacal por conta do estresse advindo de lidar com pessoas, tanto os clientes como os funcionários. A instabilidade política e econômica do país causa muita indignação e revolta ao renomado empresário. Além dos impostos altíssimos a pagar, existe a insegurança de encontrar uma fonte segura para manutenção e rendimento de todos os seus bens financeiros.

Logicamente, a família de Afonso colhe os bons e maus frutos da colheita do chefe da casa. As crianças lamentam a constante ausência do pai e a esposa vive frustrada por não ser a número um na vida do marido e quem ocupa os pensamentos mais profundos do pai de seus filhos. Neste pódio, é a empresa quem fica na primeira posição.

Percebeu como é paradoxal? Afonso não pode ficar sem seu trabalho. É o seu dom e o fogo que arde dentro do seu peito e que de forma alguma pode ser apagado porque, se fosse, sua existência perderia o sentido.

O que seria de uma bicicleta sem uma estrada? O que seria de uma melodia se não tivesse alguém para ouvir? De um quadro sem uma parede? De uma chave sem uma fechadura?

Não. Afonso sem trabalho não existe e ninguém quer tirar isso nele. Administar é sua principal qualidade.

Mas percebe que, ao mesmo tempo que é sua grande bênção, seu dom  também é a pior maldição de Afonso? Quando ele adoece, quando ele briga com a família, quando ele não está bem consigo mesmo . . . sempre é o trabalho o gatilho que dispara essas balas.

Por que tem que ser assim? Tem como equilibrar esta balança? Se sim, como fazê-lo?

Vamos analisar algumas virtudes do ser humano e verificar como essa lógica da “bênção e maldição” sempre funciona. É batata! 🥔

A luz e a sombra da empatia

a pessoa que tem a qualidade da empatia é tão aconchegante quanto um chocolate quente denso no inverno

Pessoas empáticas são como uma xícara de chocolate quente bem denso em um dia de inverno. Elas acolhem e confortam.

No entanto, qual é a grande “maldição” de alguém que é forte em empatia? Ao absorver com mais intensidade a dor alheia, uma pessoa empática pode sofrer de esgotamento emocional e perder os próprios limites, ou seja, não saber onde seus sentimentos terminam e os do outro começam.

Pode ser que uma pessoa empática diz “sim” a pedidos que vão contra suas próprias necessidades, tempo ou energia por sentir uma imensa culpa caso recusar a ajudar.

É um tipo de pessoa que perde o sono pensando em soluções e se sente pessoalmente responsável pelo bem-estar do outro

Pessoas assim costumam ter uma frase típica: “Não sei, o que você prefere?” porque perderam o contato com seus próprios desejos e preferências.

De acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, pessoas empáticas podem desenvolver problemas digestivos, afinal, “engolem” o problema alheio e não conseguem digeri-lo; podem sofrer dificuldade de concentração e até desenvolver problemas respiratórios e cardíacos.

Algo que pessoas empáticas precisam entender para viver melhor é: aprenda a diferenciar o que é seu e o que é do outro.

Nunca deixe de demonstrar a nobre virtude da empatia, no entanto, estabeleça limites.

A pessoa empática com limites saudáveis é como um socorrista habilidoso: ele entra na situação de perigo (o sofrimento do outro), faz o que precisa ser feito com compaixão e técnica, e depois sai, se limpa e volta para sua própria vida.

A pessoa empática sem limites é como um socorrista que se afoga junto com a vítima: ele pula na água, se agarra à pessoa em pânico e ambos afundam.

A proeza e a inépcia do perdoador

a pessoa que tem a qualidade de ser um bom perdoador é como um refúgio no temporal

A pessoa que perdoa com facilidade é alguém de caráter muito nobre e, geralmente, uma pessoa humilde, uma vez que perdoar envolve reconhecer que nós mesmos magoamos o nosso próximo e diariamente precisamos de perdão.

Quem não alimenta mágoas e não tem ressentimentos costuma ser poupado de sérios problemas de saúde relacionados ao rancor. O bom perdoador é como o abrigo que encontramos no meio de um temporal. Ele traz alívio e paz.

No entanto, qual é o principal problema nos relacionamentos que quem tem a qualidade de perdoar costuma enfrentar?

Pode ser que tal pessoa constantemente seja feita de boba, uma vez que todos sabem que tal nobre cidadão sempre estenderá o benefício do perdão. Isso pode até criar um ciclo de invalidação e repetição.

Perceba aqui e nos outros casos que o problema nunca é a qualidade. Mas a forma como nós mesmos e quem convivemos lida com ela.

As motivações de quem perdoa com facilidade podem ser o medo do conflito, o medo do abandono e até a sensação de obrigação de cumprir seu papel de pessoa compreensiva e magnânima.

Pessoas que perdoam facilmente podem apresentar a característica de invalidar a própria dor. Ela comunica para si mesmo e para o outro que seu sofrimento, sua raiva ou sua decepção não são importantes o suficiente para merecerem tempo, atenção e reparação. Quem está do outro lado entende que não precisa lidar com o impacto negativo de suas ações, apenas esperar o perdão que sempre vem.

O perfil desta pessoa que “engole cobras e lagartos” tem uma certa propensão a desenvolver problemas digestivos (sobretudo no fígado) e tensões musculares, de acordo com a MTC.

É crucial entender que o problema não é o ato de perdoar, mas a forma como ele é praticado.

O perdão disfuncional é um monólogo. É rápido, incondicional, focado em apagar o conflito e não exige mudança. Seu lema é: “Eu te perdoo para que eu não precise mais sentir este desconforto.”

O perdão saudável, no entanto, é um diálogo. Pode levar tempo, envolve reparação e é condicionado a uma mudança de comportamento. Seu lema é: “Eu te perdoo porque acredito na sua capacidade de mudar e valorizo nosso relacionamento, mas não vou tolerar a repetição deste comportamento.”

Devemos estender a dádiva do perdão até à quem não nos pede desculpa, mas aceitar um certo padrão de comportamento e tratamento que nos prejudica é outra história.

O branco e o preto da inteligência

A pessoa que tem a qualidade da paciência é surpreendente como o toque especial de uma comida

Quem é conhecido por sua inteligência pode ser comparado ao ingrediente secreto de uma receita. Ele é a contribuição que faz toda a diferença no sabor final. Todo mundo tem os ingredientes básicos, mas só essa pessoa sabe que uma pitada de canela ou um toque de limão vai mudar tudo. 

A pessoa inteligente enriquece o ambiente onde está inserida. Ela sempre tem algo para agregar e enxerga uma solução quando tudo parece intransponível.

Mas qual a principal dificuldade que uma pessoa que tem a inteligência como principal qualidade enfrenta ao relacionar-se com outras pessoas e consigo mesma?

O descompasso entre a mente e o coração.

A velocidade do raciocínio lógico é muito mais rápida que a do processamento emocional. Diferente da rapidez que ocorre na resolução de um cálculo de matemática, quando estamos tristes, confusos ou magoados precisamos de tempo para sentir e nos expressar.

A qualidade da inteligência pode abreviar esse processo.

Neste ínterim onde a digestão do sentimento está acontecendo, a pessoa inteligente já analisou a situação, identificou a causa, a solução e quer resolver o problema. Quem está do outro lado pode ver isso como falta de acolhimento e invalidação do seu sentimento.

Também, mesmo sem intenção, a vastidão de conhecimento, o vocabulário preciso e a rapidez de raciocínio podem fazer o parceiro de algo que é bem inteligente se sentir “burro”, inadequado ou com medo de expressar uma opinião simples por receio de ser julgado ou corrigido. Isso faz com que tal pessoa se feche.

A sensação-de-nunca-ser-plenamente-compreendido é o drama interno da pessoa com a qualidade da inteligência. Ela pode sentir que seu parceiro não acompanha a complexidade de suas ideias, suas preocupações existenciais ou suas piadas mais nerds. Isso gera uma profunda sensação de solidão dentro do próprio relacionamento.

Ela também enfrenta a dificuldade com a vulnerabilidade. Ser vulnerável é se entregar ao desconhecido e ao ilógico, algo que a mente analítica detesta. A pessoa inteligente pode ter uma enorme dificuldade em simplesmente dizer “Eu preciso de você” sem justificar o porquê, ou em admitir um erro sem apresentar uma dissertação sobre suas causas.

Para a MTC, a inteligência e a atividade mental não residem apenas no cérebro. Elas estão diretamente ligadas à três órgãos principais: o coração, o baço e o fígado, que podem se sentir sobrecarregados e eventualmente adoecer por conta dos grandes enigmas emocionais que alguém inteligente não consegue resolver.

Lidar sabiamente com a própria inteligência é um ato de domesticar a mente.

A forma correta de lidar com a incrível qualidade da paciência é equilibrar a rapidez analítica com a paciência emocional, permitindo-se sentir, acolher o próximo com empatia, e aceitar que a vulnerabilidade é uma força, não uma fraqueza.

Se a inteligência é um cavalo selvagem, poderoso e veloz, a sabedoria não é matá-lo, mas sim aprender a domá-lo e a colocar as rédeas nele, para que ele sirva ao cavaleiro (a consciência) em vez de atropelá-lo.

A lado A e o lado B da paciência

A pessoa que tem a qualidade da paciência é surpreendente como o toque especial de uma comida

Quem é abençoado com a qualidade da paciência costuma ser contemplado com outras belas virtudes, como a de não se irritar facilmente, não levar em conta o dano e o otimismo.

Ter alguém paciente por perto nos traz a calma e a segurança que sentimos ao ouvir o barulho bom do mar e das ondas quebrando uma após a outra, um ritmo constante e agradável.

Só que quem é contemplado pela bênção da paciência pode ser contemplado com a maldição da passividade em momentos que exigem ação.

Em contextos de crise ou urgência, a pessoa pode ser percebida como alguém paralisada ou indecisa, pois demora mais do que o necessário para reagir e tomar iniciativas.

Ademais, como costuma achar que as coisas vão melhorar com o tempo, a pessoa que tem a qualidade da paciência pode ter dificuldade em estabelecer limites firmes, tolerando desrespeitos, abusos ou injustiças.

Esse padrão leva ao acúmulo de frustrações e ressentimentos internos, já que, no fundo, essa pessoa sente que deveria ter agido, mas escolheu esperar.

Quando levada ao extremo, a qualidade da paciência pode levar ao hábito de reprimir emoções negativas (como raiva, tristeza ou frustração), já que essas sensações podem ser vistas como incompatíveis com a virtude de ser paciente.

O acúmulo dessas repressões pode levar a explosões emocionais súbitas e inesperadas, além de desenvolver problemas de saúde relacionados ao estresse, como gastrites, dores de cabeça e hipertensão.

Também, a qualidade da paciência em excesso costuma vir acompanhada de um otimismo quase ingênuo, que faz a pessoa ter dificuldade em reconhecer que certas situações já chegaram ao limite e precisam ser encerradas. Isso pode levar a sofrimento prolongado e perda de oportunidades melhores, além de reforçar o ciclo de baixa autoestima pelo sentimento de estar preso a algo que não dá resultado.

Para evitar essas armadilhas, a paciência precisa ser balizada por duas virtudes complementares: a assertividade e a clareza interna.

Estabeleça limites. Seja paciente com os outros, mas claro consigo mesmo sobre seus limites. Aprenda a reconhecer sinais de desrespeito, abuso ou estagnação.

A paciência não envolve ignorar sentimentos negativos, mas senti-los sem ser dominado por eles. Quem é paciente tem uma qualidade extraordinária, mas seu poder só se manifesta plenamente quando é usado com coragem e propósito.

O paciente disfuncional é como uma poça d’água estagnada, que espera indefinidamente, perdendo clareza e se tornando inerte. Quem tem a qualidade da paciência amadurecida, no entanto, é como um rio que flui pacientemente, contornando obstáculos, mas sempre avançando.

Por que nossa principal qualidade é nossa conquista e nossa derrota?

Sinceramente? Não sei.

As respostas que encontrei durante minhas pesquisas não me convenceram.

Minha humilde opinião é que isto ocorre porque somos imperfeitos.

Conforme aqui já comentado, a qualidade e a demonstração dela nunca, nunca são o problema. Pelo contrário, quanto mais virtuosa uma pessoa é, mais felicidade ela adicionará a si mesma e ao seu próximo.

No entanto, nossa imperfeição faz errarmos na motivação e na dose de manifestá-la bem como em demonstrar bom senso ao lidar com as boas qualidades alheias.

No fim, o que mais vale é reconhecer o paradoxo de nossa maior qualidade e saber exercer o que há de melhor em nós com maturidade, equilíbrio e sabedoria. E você, o que acha?

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