Quantas semanas de vida você acredita ter vivido um indivíduo de 80 anos?
20 mil semanas? 50 mil semanas? 100 mil semanas?
Cerca de 4.000 semanas!
Sim, eu sei – esse número é pavorosamente assustador! Você também imaginava uma quantidade de tempo exponencialmente mais volumosa para a duração média de nossa existência?
A matemática está esfregando sem piedade em nossa cara que a longevitude humana é curta demais frente a tudo o que gostaríamos de fazer e sim, você terá que procrastinar muitas coisas porque não, você não terá tempo hábil para riscar todos os itens de sua lista de desejos.
Oliver Burkeman é o autor do best-seller do The New Yor Times “Quatro mil semanas – gestão de tempo para mortais”. O que me atraiu neste livro é que Burkeman não disserta sobre o hábito de procrastinar de uma maneira subhumana, com técnicas de produtividade arduosas demais para serem mantidas num médio e longo prazo ou fantasiosas demais para parecerem críveis. Ele trata do assunto de forma realista e razoável, o que é possível perceber já no título da obra.
Um dos capítulos do livro foi entitulado de forma muito curiosa: “Tornando-se um melhor procrastinador”. E é para esse curto capítulo que dedico a presente postagem, uma vez que nele há ricas e aplicáveis informações que vão te ajudar a procrastinar de forma mais inteligente, porque afinal, se algumas coisas fatalmente não poderemos realizar, que sejam as menos relevantes, concorda?
Procrastinação, pedras e areia
Certo professor entra na sala de aula carregando um balde, algumas pedras grandes e uma porção generosa de areia.
Ele aloca os materiais sob sua mesa e fala aos alunos:
“Por favor, alguém de você venha até aqui para verificarmos se é possível colocar no balde essas pedras e essa quantidade de areia.”
Um aluno curioso e extrovertido dirige-se à mesa do professor, coloca a areia dentro do balde e depois, ao alocar as pedras, depara-se com uma frustração inesperada: poucas pedras couberam no balde.
O professor confiante mostra, então, a forma correta de resolver a situação: ele primeiro coloca as pedras e posteriormente a areia, que adentrando entre os espaços de uma pedra e outra, encontra o seu espaço.
No final da experiência, os alunos reparam que foi possível dispor todas as pedras dentro do balde e quase toda a areia também.
Sim, para que a totalidade das pedras fosse colocada no balde foi necessário deixar de fora um pouco de areia. Mas reparou que na primeira tentativa as pedras – que, conforme você já deve ter percebido, são as coisas mais importantes – não couberam no balde?
Uma hábil gestão de tempo tem a ver com aprender a procrastinar. É preciso aceitar o fato de que não podemos fazer tudo, mas o bom procrastinador decide o mais sabiamente possível em quais tarefas focar e quais é possível negligenciar.
Como, então, decidir com sensatez o que não fazer e detalhe, como se sentir em paz quanto a não ter feito?
Oliver Burkeman menciona três importantes princípios.
Princípio 1 para procrastinar corretamente: Pague a você mesmo primeiro
Se a sua folha de pagamento contempla um valor maior que o necessário para o atendiemento de suas necessidades básicas, pode ser que você decida transferir parte do seu salário para uma conta de investimento.
Quando você prontamente faz isso ao receber o salário mensal, curiosamente percebe que consegue seguir o mês sem restrições financeiras, isto é, continua comprando seus mantimentos e pagando suas contas como se nunca tivesse tido aquela porção de dinheiro que você aplicou.
No entanto, se como a maioria das pessoas você decide “pagar a si mesmo no fim”, o que acontece?
Exatamente. Você acaba por não “pagar a sim mesmo”. E não necessariamente porque você tenha utilizado seu dinheiro no decorrer do mês com coisas fúteis e desnecessárias. Talvez ele tenha sido gasto em necessidades básicas. E mesmo assim, quando você decide investir, descobre que não sobrou nada.
Sabe por que isso acontece?
Porque, no geral, o ser humano é péssimo em planejamentos a longo prazo.
Isto é fundamentado em várias explicações, dentre as quais podemos citar a nossa tendência de valorizar mais as recompensas imediatas do que as futuras; nossa predisposição de evitar perdas ao invés de buscar ganhos e; sim, a procrastinação, ou seja a inclinação de adiar tarefas importantes, especialmente aquelas com benefícios distantes.
Podemos aplicar a mesma lógica com o tempo.
Você tem planos e projetos que gostaria muito de realizar. Se, ao tentar se empenhar por eles, atende primeiramente as demais demandas importantes, o que acontecerá? Exatamente. Você irá se desapontar porque nunca sobrará tempo para essas atividades que você valoriza muito.
Portanto, se determinada atividade – como um projeto criativo – realmente importa pra você, a única maneira de ter certeza de que vai acontecer é fazer parte dela ainda hoje, não importa quão pouco seja tampouco os gritos desesperados das outras atividades importantes clamando por sua atenção.
Então, comece a desenhar por vinte minutinhos todos os dias, a estudar inglês naquela meia hora de intervalo, a escrever diariamente um capítulo do seu livro, a assistir regularmente quinze minutos daquele curso que você comprou, a dar pequenos passos em ritmos constantes no planejamento da viagem que você quer tanto fazer . . . Enfim, apenas “coma pequenas frações diárias” do seu alvo, porque “de grão em grão, a galinha enche o papo”.
Conforme Burkeman incentiva, “proteja seu tempo agendando “encontros” com você mesmo e os marcando em seu calendário para evitar a intrusão de outros compromissos.”
Princípio 2 para procrastinar corretamente: limite o tempo de trabalhos em andamento
Era uma vez um fazendeiro que estava caminhando por sua terra quando viu, de longe, duas lebres correndo.
Animado com a possibilidade de capturá-las para ter um bom jantar, ele decide persegui-las.
No entanto, as lebres seguem caminhos diferentes e o fazendeiro, indeciso sobre qual delas seguir, tenta capturar ambas ao mesmo tempo.
Correndo de um lado para o outro, ele acaba perdendo tempo e não consegue focar em nenhuma das lebres. Enquanto se dirigia para uma, a outra escapava e ficava ainda mais distante.
Após um tempo exaustivo e frustrante, o fazendeiro percebeu que não tinha capturado nenhuma lebre e ainda havia desperdiçado todo o seu dia em dia em vão.
Moral da história: se tentarmos perseguir muitos objetivos ao mesmo tempo sem foco e determinação em um de cada vez, acabamos por não alcançar nenhum deles.
Começar um grande número de projetos de uma vez produz a sensação de que estamos utilizando eficazmente o nosso tempo.
Mas o que comumente ocorre é o oposto – você não faz progresso em nenhum deles, porque toda vez que algum dos projetos começa a ficar difícil, maçante ou assustador, você o larga e vai para outro.
Fazer muitas coisas simultaneamente pode causar a impressão de estar no controle. Mas o preço é nunca terminar nada que seja importante.
Como evitar isso?
A sugestão de Oliver Burkeman é fixar um rígido limite em relação às atividades nas quais você irá trabalhar durante uma dado período. Alguns especialistas no assunto sugerem não mais que três itens por vez.
Determinado este número, você terá que procrastinar todas as demais demandas que aparecerem. Elas terão que esperar pela brecha liberada após você completar um daqueles três itens, por exemplo.
Adotar esta estratégia exige que você aceite que sua capacidade de trabalho é finita e que talvez seja necessário delegar certas coisas que talvez não serão realizadas impecavelmente como você faz, mas terminarão da forma como tem que ser: realizadas.
Burkeman conta, neste livro, que ao aplicar este princípio o resultado que obteve foi “uma poderosa sensação de imperturbável calma” e muito mais produtividade do que em seus dias de obsessiva produtividade.
Outra feliz consequência, conta o autor, foi perceber que ele estava dividindo seus projetos em porções manejáveis, uma estratégia que ele sempre concordou na teoria mas nunca antes havia conseguindo implementar propriamente.
Princípio 3 para procrastinar corretamente: resista à sedução de prioridades medianas
Warren Buffett conta que, certa vez, seu piloto particular lhe perguntou como estabelecer prioridades.
O astutuo investidor respondeu:
“Faça uma lista das principais 25 coisas que quer na vida e depois, ordene da mais importante para a menos importante. As cinco primeiras devem ser as coisas em torno das quais você deve organizar seu tempo.”
“E as vinte restantes?”, questionou o piloto.
O que você acha que Buffett respondeu?
Será que esses outros itens devem ser retomados quando surgir a oportunidade, após finalizar as cinco prioridades da lista?
Longe disso.
Buffett explicou que os outros vinte itens da lista devem ser evitados a todo custo, pois se tratavam de ambições cuja importância era insuficinete para que fossem colocadas no cerne da vida, todavia, sedutoras o bastante para distrair-nos das coisas que mais importam.
Leia novamente uma, duas ou três vezes o parágrafo acima, tente associar com algumas de suas metas pessoais e reflita sobre quão genuíno isto é.
Eu não tenho uma lista de meus objetivos e senti uma mistura de alívio e felicidade quando li que o próprio Burkeman não tem tal registro em papel. Mas é fato que num mundo com demasiadas pedras grandes, não temos estrutura para suportar o peso de carregar todas elas. Novamente, chegamos na mesma conclusão: é preciso aceitar que teremos que procrastinar e escolher o que iremos procrastinar.
Aprender a dizer “não” não se resume simplesmente a rejeitar tarefas ou compromissos indesejáveis.
A verdadeira dificuldade e importância de dizer “não” muitas vezes aparecem em situações mais complexas, como quando precisamos recusar oportunidades que são atrativas, mas não essenciais, ou quando precisamos estabelecer limites com pessoas próximas.
Exatamente: a habilidade de dizer “não” vai além de apenas evitar o que é desagradável. Envolve priorizar o que realmente importa para nós.
Nossas singelas 4.000 semanas exigem isso.
A escritora Elizabeth Gilbert menciona que é preciso “aprender a começar a dizer não a coisas que você quer sim fazer, reconhecendo que tem apenas uma vida.”
Com estes três princípios entendemos que a grande questão não é erradicar a procrastinação, mas escolher mais sabiamente o que você vai procrastinar para poder focar no que mais importa.
Acompanhe-me porque temos muito mais pra falar sobre a prática de procrastinar uma vez que eu ainda estou no início da leitura do livro que gerou as reflexões contidas nesta postagem e, obviamente, luto contra a armadilha de procrastinar coisas importantes. Sim, escrevo este post sobretudo para mim mesma, afinal, como diz Richard Bach, “você ensina melhor aquilo que mais precisa aprender.”