Oito de novembro de dois mil e oito, sábado, Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
Neste dia e neste local nasceu uma cachorrinha Shih Tzu de olhos redondos como o sol no horizonte, negros como a tinta de um poeta e arregalados como as asas de um pássaro prestes a alçar voo. Envolvendo sua pele, um tapete perfeitamente confeccionado em tons branco como o aconchego de um travesseiro macio, e marrom claro como uma doce bala de caramelo.
Seu nome viria ser Valentina, que coincidentemente descreveria com perfeição sua personalidade audaciosa, corajosa e determinada.
Que engraçado pensar que neste dia eu estava vivendo minha vida normalmente, sem contemplar e desfrutar deste evento que veio a ser um dos dias mais especiais da minha vida, o dia do nascimento da nossa querida e inesquecível Vale.
Eu tinha vinte anos quando decidimos ter uma cachorrinha. Um certo trauma de infância fez com que minhas duas irmãs, meu irmão e eu tivéssemos medo de cachorros. Confesso que quando pegamos a Valentina eu ainda não tinha me desapropriado totalmente deste temor. Evidentemente ela tratou de acabar completamente com isto sem nenhuma técnica mirabolante.
Pobre Valentina, acabou sendo refém de uma família bem inexperiente em vivências caninas. Pobres veterinárias também, que constantemente recebiam ligações e mensagens que com frequência terminavam com a frase “isso é normal”.
Valentina Tangerina
A Valentina ganhou espaço na nossa família e na nossa casa em tempo recorde. Ela chegou em nosso lar no dia primeiro de janeiro de 2009.
“Ela ficará só na área de serviço”, dizíamos para meu pai. Mas foi ele mesmo quem abriu as portas da esperança para todos os cômodos da casa. Em pouco tempo ela já subia, corria e brincava até sob a cama de meus pais.
Eu ia mencionar sobre quando levava a Valentina pra passear, mas creio que o correto é dizer que ela me levava pra passear.
Com aqueles pouco mais de seis quilos (no início) ela me arrastava pelas quadras que percorríamos por cerca de uma hora. E quando ela cansava, tão rápido como o próximo passo era a forma como ela derretia como uma geleca no chão, refrescando a barriguinha sob o piso sem pouco se importar com toda a sujeira contida na calçada.
A personalidade da Valentina era muito pecualiar.
Meiga, dócil e serena. A Valentina não era assim. A Vale era durona como meu pai, ansiosa como minha mãe, curiosa como minha irmã, doidinha como minha sobrinha e preguiçosa como eu.
A Valentina nos dava umas mordidas de sopetão, como se fosse o bote de uma cobra. Ela latia desenfreadamente para os cachorrinhos da rua (quando estavam separados por uma cerca, é claro) e rosnava para quem não gostava sem receio nem rodeio.
Eu amava esse jeito autêntico de ser dela! Ela não se obrigava a ser amável como os demais cães, ela era simplesmente ela.
Se fosse humana, a Valentina seria daquelas que espera a pessoa dormir para fazer carinho e que desconversa quando alguém dá um elogio. Aquela vizinha que parece durona, mas doa cestas básicas sem nunca ninguém saber.
Quando nos perguntavam de quem era a Valentina, sempre dizíamos que ela não tinha um dono específico. E realmente era assim. Na nossa inexperiência com cães, não sabíamos que, de acordo com o senso comum, a Valentina teoricamente teria que ter um dono. Ela era de todos nós, igualmente.
Apesar de visivelmente a Valentina ter um carinho especial pela minha mãe, ela dividia o seu coraçãozinho entre cada um de nós. Ela sempre deitava perto do meu pai no soninho pós-almoço e gostava muito de assistir filmes de bang bang com ele. Ela era presença infalível sob os pés da minha mãe na cozinha, mesmo quando sabia que não teria petiscos. Ela descobriu a chegada da minha sobrinha antes mesmo de minha irmã, sua mãe, saber. Ela era a criaturinha que minha irmã enxergava assim que abria a porta após finalizar o banho. Ela era minha companheirinha de todas as noites, que por vezes ia dormir na caminha que tive a honra de abrigar em meu quarto antes mesmo de eu iniciar os rituais pré-sono.
Tal como um dos apelidos dela, ela era nossa Valentina Tangerina – por vezes azeda de torcer os olhos, por vezes doce de derreter o coração.
Aventuras da Valentina
Especialmente durante a sua infância e a fase inicial da sua vida adulta, a Vale vivia nos dando sustos!
Teve uma vez que ela implicou com uma abelha, foi picada no lábio superior e desesperadamente arrastava o rosto por toda a casa para se coçar. Não sabíamos o que fazer para acalmar a bichinha!
Ela enfrentava um rebanho de ovelhas como se fosse um lobo e tocava todas pra correr. Valentina, lembra? Um nome que diz tudo. Mas um dia o jogo virou e ela virou o alvo! Lembro nitidamente dela correndo em nossa direção pedindo um colo de socorro!
Ela implicava com os quero-queros e, num dos enfrentamentos, pulou dentro de uma açude e ficou atolada no banhado. Com racionalidade e rapidez, felizmente minha irmã resgatou a cachorrinha que mais parecia um rato de banhado, toda suja e ensopada.
Teve uma ocasião que, teimosamente, mesmo com nossas constantes advertências, ela continuava caminhando sob a lona velha que ficava numa piscina até que puf! A tela rasgou e tudo o que enxergamos era uma cabecinha mexendo no mesmo ritmo das patinhas que eu nem sabia que podiam nadar! Desta vez o resgate foi realizado pela minha mãe.
A Dona Valentina também teve a genial ideia de brincar com um cacto e essa brincadeira terminou na clínica veterinária, com ela na maca anestesiada para retirar os espinhos que ficaram na sua língua e garganta.
Com o passar dos anos, ela foi ficando mais calma.
É ruim ver nossos cachorrinhos ficando velhinhos. Mas o lado bom desta fase é que eles param de aprontar e nos dar tantos sustos.
O tendão de Aquiles da Valentina
Era principalmente o estômago.
A Vale tinha os mesmos problemas estomacais da minha mãe. Era até engraçado o quanto minha minha mãe se identificava com a forma como a veterinária gástrica descrevia os sintomas e os tratamentos para a Valentina, que vez por outra vomitava um líquido amarelado, a bile, quando comia algo que sobrecarregava seu sistema digestório.
Depois de completar uma década, os olhos e os ouvidos da Valentina não eram os mesmos. Que bom que o olfato é o que mais guia nossos cãezinhos!
A leve surdez que veio com os pelos brancos trouxe o benefício de atenuar a ansiedade e agitação da Vale diante dos fogos de artifícios e tempestades, já que ela escutava os estrondos com bem menos intensidade.
Com quatorze aninhos, mesmo com minha resistência em crer, os veterinários diziam que ela praticamente não enxergava mais. Será quantos milhares de gotas de colírios lubrificaram os olhos da nossa Tangerina no decorrer destes anos?
Por volta de novembro de 2019, quando a Valentina tinha onze anos, não mais precisávamos de guia para passear. Ela já não tinha a energia fugaz de antes e conseguíamos juntas ter agradáveis, calmos e pacíficos passeios, que agora duravam pouco mais de vinte minutos. Vinte minutos para percorrer duas ou três quadras, já que seus passos estavam bem lentos.
É triste ver nossos cachorros envelhecendo. Não pela velhice em si porque há certas vantagens que acompanham a tenra idade, como uma aproximação intensa que só anos de convivência são capazes de construir. Mas é inevitável impedir aquele pensamento: “por quanto mais tempo minha cachorrinha estará por aqui?”
Nossa valente corajosa
A Valentina teve tantos apelidos no decorrer da sua vida que sou incapaz de recordar todos. Vale e Val eram os mais óbvios. Mas teve outros improváveis que sei que você também cria para seu pet.
Digno de nota que por vezes eu chamava minha sobrinha, quase três anos mais nova que a Vale, dos mesmos apelidos da Valentina.
De “Vale, te amo tanto”, nasceu o Tanti e sua derivação, Tantinho. Eu gosto muito deste!
Tinha também o Tenegati, que não tenho a mínima ideia de como surgiu.
A Vale começou a farejar com mais intensidade depois que ficou ceguinha. Destes farejados contínuos saía um som que lembrava o cocó de galinha. E qual apelido veio aí? Exatamente. Cocó e Cocózinha!
No dia 09 de novembro de 2022, numa manhã de sexta-feira, eu estava quase pronta para ir trabalhar quando vejo que nosso Tantinho estava suja de sangue no bigodinho.
“O que aconteceu, Vale?”
Ela estava tão normal, com uma cara de “vamos passear!”.
Rapidamente, no entanto, percebo uma poça pertinho dela.
“Será sangue?” Eu sabia que era, mas parte de mim não quis acreditar. O meu piso é de madeira, a cor não fica tão óbvia. Pequei um pedaço de papel higiênico e logo identifiquei que sim, a Valentina tinha vomitado uma poça de sangue.
Peguei ela no colo e chorando fui até o apartamento dos meus pais contar para minha mãe e minha irmã. Em menos de cinco minutos minha irmã e eu estávamos no carro, rumo à clínica veterinária.
Chegando lá, a Valentina vomitou mais um pouco de sangue e foi atendida com prioridade. Mas ela estava tão bem, com um jeito de quem não estava entendendo porque todo aquele alvoroço ao redor dela.
O ultrassom mostrou que uma úlcera gástrica que estourou. O estômago dela estava com um aspecto caótico.
Junto da veterinária gastro, minha irmã e nossos corações mais apertados que um nó bem amarrado recebemos a notícia do quadro da Valentina, definido como “bem grave”, e a informação de que seria necessária a análise de uma massa que visualizaram no ultrassom.
O que seguiu foi uma endoscopia e a internação da nossa Cocózinha. Como doía olhar pela janela e ver que era nossa cachorrinha quem estava ocupando o “leito” da UTI. Que dentre os cachorrinhos que lá estavam, o estado dela era o mais delicado.
Todos os dias íamos visitar nossa Valentina Tangerina. Foram dias tão, mas tão difíceis. Duros como um soco forte, de punhos bem cerrados, no meio do estômago. As minhas lágrimas fizeram uma poça maior do que aquela poça de sangue que nossa Cocózinha expeliu.
A cachorra mansinha e serena que deixamos lá subitamente se transformou numa cachorra agressiva e tão frágil que mal conseguia ficar de pé. O seu rabinho que girava feito hélice estava baixo. Isto acabava comigo. Ver ela daquela forma doía como o transpassar de um espada em meu coração.
Ela não estava mais se alimentando, somente por soro. Recusava qualquer tipo de comida.
Toda a minha família sofreu intensamente. A veterinária certa vez me abraçou dizendo: “a gente nunca está preparado para ver nossos cachorrinhos partirem”. O pessoal da clínica estava comovido com nossa dor.
Tudo o que eu pedia para Deus era que nossa cachorrinha não sentisse dor e ficasse em paz. Eu não pedia a cura nem um milagre. Só queria que ela não sofresse.
Eu estava inconformada de ver a Valentina tão debilitada uma vez que, apesar do sangramento, ela saiu de casa bem ativa e normal. Então falei com a veterinária e ela disse que iria verificar pessoalmente o caso dela.
Naquela mesma noite, recebo um áudio da própria veterinária dizendo que tinham administrado Trazodona na Valentina para ela se acalmar, e por isso ela estava como que dopada.
Ela retirou o medicamento e o que ocorreu foi o que um vídeo que acompanhava a mensagem exibiu: a Valentina estava sentadinha, latindo vigorosamente com a cabeça pra cima, um claro sinal de que ela estava com fome. Instruímos a veterinária a oferecer comida para nossa Cocó e na sequência recebemos outro vídeo da Vale comendo feito uma esfomeada.
Eu fui do abismo ao ápice em segundos! Naquele momento eu tinha certeza que nossa cachorrinha ia se recuperar e ir para casa. E assim foi.
Na terça-feira, depois de quatro dias de internação, nossa Valentina foi pra casa.
Ela estava bem, isto parecia um milagre! Até o pessoal da clínica se surpreendeu.
Quando ela entrou pela porta de casa, caminhando plena e de rabo alto, eu lembrei do segundo pedido das minhas orações: “Que ela fique em paz.” Agora nossa cachorrinha estava em casa e sim, eu podia sentir translucidamente que ela estava em paz. Eu agradeci e ainda agradeço muito a Deus por isso.
Mas meu peito cheio de felicidade ainda cedia espaço para a angústia de aguardar o resultado da análise daquela massa que encontraram no estômago do Tantinho.
Na quarta-feira à tarde, por mensagem de texto, a gastro me mandou uma mensagem que fez eu sentir pela primeira vez o significado da expressão “fiquei sem chão”. Era um tumor maligno o que a Valentina tinha.
Eu olhava para aquele pequeno corpinho, aparentemente tão são, e não conseguia crer que ele abrigava uma praga que poderia lhe causar dor e raptar sua vida.
Eu novamente estava devastada.
O que se seguiu foi incrivelmente inesperado.
Nossa guerreira
Cerca de uma hora depois desta dolorosa revelação, outra notificação sinaliza em meu celular. Eu sabia que era da veterinária antes mesmo de olhar para a tela uma vez que eu configurei este contato com um som específico.
A gastro corrigiu a mensagem anterior com os seguintes dizeres:
“Suelen, a patologista acabou de classificar o tumor. Ele ainda não é maligno . . . é uma lesão pré-tumoral. Não virou tumor ainda. Vamos tentar tratar este estômago para não agravar a situação.”
“Meu Deus!”
Eu só pensei em Deus neste momento. Em meu peito, uma cascata de alegria e gratidão inundava-me por completo. Eu pulei e chorei tamanha a alegria que estava sentindo.
Se é tratamento que a Valentina precisa, vamos procurar o melhor cuidado possível para cuidar deste estômago.
Além do acompanhamento da veterinária gastro, encontramos uma atenciosa e muito competente veterinária nutricionista. Depois de vários testes, encontramos uma dieta perfeita para a nossa forte guerreira.
A Valentina estava fadada a tomar corticoide continuamente. Eu administrava este remédio para o interior de nossa Cocózinha com um aperto no peito porque sabia dos efeitos colaterais que este medicamento poderia causar no coração dela.
Para nossa surpresa e para a surpresa da veterinária, Dona Valentina recebeu alta de todos os medicamentos, inclusive o corticoide. Só ficou com um protetor gástrico.
Em nova ecografia realizada em fevereiro de 2024, as palavras da veterinária foram que a “parte gastrointestinal melhorou muito”. Numa consulta posterior quando a paciente esteve presente, caminhando ao redor da sala e cheirando todos os cantinhos, a médica ficou impressionada com a melhora espetacular da nossa Vale.
Parecia o despertar de um pesadelo.
Valeu, Vale!
A Valentina ficou tão bem com o tratamento, mas tão bem, que passou cerca de uns seis meses sem vomitar ou ter qualquer outro sintoma de estômago doente.
Ela ficou muito comilona. Tinha que comer apenas três vezes por dia, mas era difícil domar o apetite da nossa senhorinha faminta.
Ela realmente ficou muito bem. Deus atendeu nossos pedidos de uma forma emocionante.
No dia 21 de setembro de 2023, por volta das três da tarde, minha irmã notou sangue em um dos olhos da Valentina. Ela já tinha tido uma úlcera no olho que causou sangramento em um episódio anterior.
Conseguimos uma consulta praticamente de imediato e a oftalmologista não identificou algo específico que poderia justificar o quadro clínico apresentado.
A Valentina estava ofegante e o seu corpinho tendia para o lado direito. Parecia que ela estava perdendo a força nas patinhas.
Por volta das sete da noite daquela quinta-feira, Deus claramente nos guiou para a melhor veterinária que poderia nos atender naquele momento. Tento mas não consigo encontrar palavras que descrevam adequadamente o excelente atendimento que a Valentina recebeu.
Ela nos explicou que a ofegância indicava dor. Prontamente foi feito um exame de sangue para pancreatite, que minutos depois marcou negativo. Mas uma ecografia e exames mais detalhados seriam feitos na manhã da sexta-feira.
Enquanto isso, a Valentina ficou internada com remédios para acalmar a dor. Fomos olhar ela antes de deixar a clínica. Minha irmã pegou ela no colo. Ela estava bem, mais calma do estado ofegante. Eu não quis chegar muito perto para ela não sentir a inquietação e angústia que encharcavam todo o meu ser.
Foi a última vez que vi nosso Tantinho.
Na madrugada da sexta-feira, dia 22 de setembro de 2023, o coraçãozinho já fraco da Valentina parou de bater.
Foi uma sexta-feira chuvosa, tal como teria que ser.
Antes de sair de casa para ir na clínica veterinária, a Valentina comeu e fez um cocô bem normal. Não vimos nossa Valentina sofrer e não tivemos que submetê-la a um tratamento que a debilitasse. Sou tão grata a Deus por isso. Ela sentiu dor apenas por breves momentos e teve uma vida normal até o fim.
Somos muito afortunados de ela ter tido uma partida digna do legado que deixou.
O legado da Valentina
A Valentina me ensinou sobre a beleza da autenticidade. A Vale não se prendia a padrões do que era ou não devido de um cachorro fazer. Ela simplesmente era ela mesma e todos a amavam muito exatamente por este jeitinho único de ela ser.
Como já mencionei anteriormente, por vezes ela ia dormir antes que eu. Era engraçado chegar no quarto e me deparar com aquele corpinho enrolado, dormindo e roncando. Ela era muito dona de si.
Era cômico perceber a irritação dela em momentos quando estávamos conversando alto ou fazendo muito barulho. Visivelmente incomodada, depois de uma bufada ela se dirigia para outro cômodo onde pudesse ficar em paz. Sempre amei esta quebra de protocolos da Valentina!
Com a Valentina aprendi a nunca perder uma oportunidade de passear com quem amo, pegar um sol, colocar as patas no chão e respirar um ar puro. Ela poderia estar entregue de sono, mas um despertar vigoroso sempre procedia à frase “Vamos passear?”.
A Valentina foi uma inspiração sobre perseverança. Ela era muito gulosa e queria sempre comer mais do que as três ou quatro refeições estipuladas por dia. Para cedermos, ela usava a tática de latir constante e vigorosamente. Um dia minha irmã e eu decidimos que deixaríamos ela latir até cansar. Afinal de contas, era gula, não era fome. Cronometramos o tempo e a Valentina ficou uma hora pedindo até, sim, cedermos à sua persistência.
Sabe qual era a tática dela?
Ela intercalava períodos de descanso com períodos de latido. Assim ela se mantinha firme no seu alvo, mas sem se cansar. Minha irmã e eu definimos este aprendizado em uma frase: “Se você se cansar, aprenda a descansar, não a desistir.”
Foram quase quinze anos de Valentina. Ela esteve conosco em vários momentos importantes de nossas vidas. Assim como diz o cantor John Mayer em uma música que gosto muito, “não consigo lembrar da vida antes dela”.
A Valentina acompanhou a gravidez e o nascimento de minhas duas sobrinhas. A primeira delas, inclusive, teve uma vida muito bonita e louca com a Valentina. Tão marcante que gostaria que minha própria sobrinha, atualmente com doze anos, escrevesse sobre sua jornada com a Valentina. Elas tem histórias memoráveis juntas.
A minha estressante trajetória do TCC, o casamento do meu irmão, o primeiro dia de aula da minha sobrinha, a jornada da epidemia do COVID-19, a minha mudança para o meu apartamento e todas as vicissitudes das nossas vidas nestes últimos quinze anos, a Valentina esteve lá conosco. Obrigada, Deus! Obrigada por ser exatamente ela, por ser especificamente a Valentina.
A Valentina foi, inclusive, a porta de entrada para conhecermos pessoas especialíssimas, pessoas que também tiveram suas vidas marcadas por nossa Tangerininha.
Dentre estes, cito com muito carinho a Amanda e o Edson, atualmente veterinários, mas que há quinze anos atrás eram criadores de cachorrinhos que mudaram a vida de muitos, dentre eles, a nossa Valentina. Os primeiros humanos que ela conheceu foram eles, e que honra para ela ter sido assim. Eles estiveram por perto durante todos estes anos e se tornaram nossos amigos. A Valentina era apaixonada por ambos. Eles foram simplesmente impecáveis em todos os momentos.
E a querida Natalia, que a Vale tanto amava. A Nati do banho. A Nati que hospedava ela quando íamos viajar. A Nati que era louca pela Vale; seu marido, Djavan; e a filhinha Ana, que igualmente tinham um carinho especial pela nossa Valentina. Todas as pessoas que cuidam dos bichinhos teriam como ser a Nati, o Djavan, a Amanda e o Edson.
Vou deixar uma galeria de fotos com doces lembranças do nosso Tantinho. Elas ficam com uma melhor visualização quando acessadas no computador.
A falta que a Valentina faz é inenarrável. O amor que continuamos nutrindo por ela também.
Minha VALE, Vou Amá-La Eternamente.
Epílogo
Foi um dia cheio de atividades recompensadoras.
É fim de tarde e me sento na beira de um riacho alimentado por uma diminuta cachoeira. É um ribeiro calmo e estreito. Do outro lado da margem há cabras montesas comendo grama, cavalos galopando pelo extenso gramado e girafas caminhando juntas no horizonte. Não posso acreditar que estou neste lugar tão perfeito.
Balanço as pernas envoltas por aquela água fria, refrescante e translúcida. Os peixinhos fazem cócegas nos meus pés.
Deito o meu corpo sob a grama, mantendo as pernas mergulhadas na água. Olho para a imensidão do céu e suspiro de emoção ao contemplar tamanho poder e generosidade.
Ao mesmo tempo, no entanto, me sinto culpada porque, por algum motivo, não consigo me sentir plenamente realizada.
Viro o meu rosto para o lado e de longe, bem longe, avisto um ponto branco avançando progressivamente em minha direção. Levanto-me e dou uns passos à frente, de maneira intrigada.
A alegria faz meu coração palpitar intensamente porque já sei do que se trata!
De joelhos, sentada sob minhas pernas, estendo os braços esperando a Valentina saltar com força no meu peito, me empurrando para o chão e lambendo todo o meu rosto enquanto eu rio e sorrio de felicidade. E lá ficamos num longo e caloroso abraço com a certeza de que nunca mais vamos nos separar.
“Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais tristeza, nem choro, nem dor. As coisas anteriores já passaram.” — Apocalipse 21:4