Massada – uma trágica e surpreendente história

História de Massada, em Israel - Foto extraída do site www.signaturetouchtours.com
A impressionante ascensão e o sombrio declínio da fortaleza de Massada.

Localizada em Israel, à beira do deserto da Judeia e a 400 metros acima do Mar Morto, localiza-se Massada.

Massada, que em hebraico significa “base forte ou suporte”, foi uma fortaleza construída no topo de um planalto desértico montanhoso e árido.

O idealizador do projeto foi Herodes, o Grande, rei da Judeia dentre 37 e 4 a.C.

Desde o projeto exuberante até o trágico fim, Massada foi o palco de impressionantes e surpreendentes eventos dignos de sobrepujar qualquer premiado roteiro de um filme de ação e drama.

Como era a fortaleza de Massada?

Sob uma montanha em forma de losango numa área de cume de cerca de sete hectares, Herodes criou o que se pode chamar de um spa digno de reis.

Herodes, o Grande; o projetista de Massada
Herodes, o Grande; o projetista de Massada – Fonte: Wikimedia Commons/iStock/Jerry Uomala

A fortaleza em Massada, erguida em estilo romano clássico, tinha um sofisticado e opulento palácio de três níveis com um terraço e piscinas, e um outro palácio que se destacava pela casa de banho romana com canos de aquecimento embutidos na parede e – pasme – um sanitário com sistema de descarga.

Além das robustas muralhas e torres defensivas, Massada era equipada de 12 cisternas que comportavam cerca de 40 milhões de litros de água, além de um sistema eficaz de coleta e armazenagem de água da chuva — mais do que suficiente para plantações, piscinas e casas de banho.

Para constatação da eficácia do sistema, o recolhimento da água escoada pela chuva de um único dia era capaz de sustentar a vida de mil pessoas durante um período de dois a três anos. Essa conquista foi crucial para a sobrevivência de seus habitantes em um ambiente desértico, onde a água era extremamente escassa.

Uau, um dia de chuva abastecia o local por dois ou três anos? Como isso é possível?

Embora as chuvas em regiões desérticas sejam esporádicas, quando ocorrem, costumam ser bastante intensas.

Ademais, a fortaleza de Massada foi projetada para captar a água em sua totalidade, aproveitando o máximo possível da água das precipitações.

Para tanto, Massada contava com um sistema de coleta de água que envolvia canais e aquedutos que capturavam a água da chuva e a direcionavam para grandes cisternas subterrâneas esculpidas na rocha que podiam armazenar milhões de litros de água.

A engenhosidade do projeto permitia que praticamente toda a água da chuva fosse aproveitada, minimizando a perda por evaporação ou infiltração no solo.

Por que Massada foi construída?

Antes de servir como uma fortaleza para o povo judeu, Massada foi projetada para ser o palácio de inverno do rei Herodes e como um refúgio para o governante mediante possíveis ataques de reinos rivais.

Após a morte de Herodes, em 4 a.C., Massada foi capturada pelos romanos.

Sob a ocupação de Roma, foi abrigado na fortaleza um enorme depósito secreto de armas.

Quando cresceu a animosidade contra a ocupação romana da Palestina, surgiu o perigo de tais munições caírem nas mãos de judeus revolucionários.

Um destes grupos eram os sicários.

Quem era os sicários?

Especialmente no século I d.C, havia um grupo específico de judeus que se opunha ferozmente ao domínio romano sob a Judeia – os zelotes. Eles acreditavam que para manter a pureza religiosa e a soberania de Israel era justificável resistir ativa e até mesmo violentamente contra os romanos.

Dentre os zelotes havia uma facção extremista, os faquistas ou sicários.

O nome “sicários” vem da palavra latim “sica”, uma espécie de punhal que os homens deste grupo escondiam em suas vestes.

Segundo o historiador judeu Josefo, especialmente durante as festividades, os sicários misturavam-se com as multidões em Jerusalém e esfaqueavam seus inimigos em plena luz do dia. Daí, para evitar suspeitas, juntavam-se aos que expressavam indignação contra essas matanças.

Eis que foi este grupo violento e agora com um arsenal de armas sob controle que capturou Massada em 66 d.C sob o comando de Eleazar, filho de Jairo. Com suas armas recém-conquistadas, os sicários marcharam a Jerusalém em apoio à revolta contra o domínio romano.

Os ataques violentos dos revolucionários judeus contra as forças romanas em Massada e Jerusalém provocaram uma forte retaliação por parte do Império Romano, afetando todos os judeus, independentemente de terem ou não participado da revolta.

Antes do fim de 66 d.C., a Décima Segunda Legião Romana, comandada por Céstio Galo, avançou contra a Judéia e acampou-se próximo a Jerusalém. Os romanos atacaram a cidade de todos os lados.

Repentinamente, Galo retirou suas tropas e, sem nenhum motivo evidente, saiu da Judéia.

Triunfo de alguns, derrocada de outros

Haviam os romanos desistido da tomada de Jerusalém?

Não, em definitivo.

Quatro anos depois, o general romano Tito marchou a Jerusalém com quatro legiões. Desta vez, a cidade inteira foi destruída, e a Judéia, colocada sob o domínio férreo de Roma.

No entanto, um local passou ileso, sendo o único que restou – Massada.

Alojados em sua fortaleza rochosa de 400 metros de altitude, os zelotes dispunham duma série de armas e amplas reservas de alimentos e de água. A sobrevivência parecia garantida.

No entanto, determinados a esmagar esse último reduto de resistência, os romanos cercaram a fortaleza com espesso muro de pedra e com oito acampamentos com muros de pedra.

Por sete longos meses os zelotes resistiram.

No entanto, os engenheiros romanos tiveram êxito em construir um enorme rampa de terra. Levantada sob fogo constante dos defensores, a rampa se estendia por 197 metros e subia 55 metros até as muralhas, o que possibilitou o acesso dos soldados à fortaleza.

Sob a rampa, os romanos construíram uma torre e posicionaram um aríete – um tronco de madeira pesado suspenso por cordas ou correntes – para abrir brechas na muralha de Massada.

Ilustração que retrata a rampa erguida pelos romanos para alcançar a fortaleza de Massada
Ilustração que retrata a rampa erguida pelos romanos para alcançar a fortaleza de Massada

Sim, era apenas uma questão de tempo até o exército romano invadir e capturar essa última fortaleza da Judéia!

O que seria dos sobreviventes de Massada?

Eles viveriam como escravos do Império Romano.

No Império Romano, havia milhares de escravos por causa de conquistas militares ou sequestros. Os capturados eram vendidos e em geral nunca mais viam sua casa ou família.

Encyclopedia Americana diz que, em Roma, “o escravo não tinha nenhum direito. Ele podia ser morto pelo menor delito.” A Compton’s Encyclopedia observa que, nos campos, “os escravos muitas vezes trabalhavam presos com cadeias. À noite, eram amarrados juntos e encerrados em grandes prisões que estavam meio enterradas no chão.”

Os escravos às vezes eram forçados a usar um colar de ferro. Ele continha uma inscrição que prometia recompensar quem devolvesse um escravo foragido. Os que por várias vezes tentavam escapar podiam ser marcados na testa, geralmente com a letra F de fugitivus (fugitivo).

Visto que muitos escravos antes haviam sido livres, imagine a amargura dessas vidas desfeitas!

Uma implacável decisão

Ao finalmente chegar na cidadela, os soldados romanos não esperavam pelo que seus olhos acabavam de presenciar!

Ao invés dos berros de guerreiros e dos gritos de mulheres e de crianças, tudo o que eles ouviram foi o crepitar de chamas.

Ao vasculharem o local, os romanos constataram uma horrível verdade: seus inimigos — cerca de 960 pessoas — já estavam mortos!

O que os induziu a este horrível assassinato e suicídio em massa?

Em sua obra The Jewish War (A Guerra Judaica), o historiador Josefo, autor da única fonte escrita que temos sobre o massacre, transcreve a desesperada exortação aparentemente feita por Eleazar, o comandante dos sicários, aos defensores de Massada:

“Há muito, bravos companheiros, nós decidimos não servir nem aos romanos nem a quem quer que seja, mas apenas a Deus . . . Vinde, enquanto nossas mãos estão livres para segurar a espada . . . Morramos, antes de nos tornarmos escravos de nossos inimigos, e partamos juntos desta vida como homens livres, com nossos filhos e com nossas esposas!”

Estando os romanos prestes a irromper pelas muralhas, como reagiram os faquistas ao discurso suicida de Eleazar?

Josefo relata: “Todos deram cabo de sua família; . . . daí, após escolherem por sorte dez homens para serem os executores dos demais, cada um se deitou ao lado da esposa e dos filhos, e, colocando os braços em torno deles, expôs sua garganta àqueles que tinham de realizar a dolorosa tarefa. Estes últimos, sem hesitar, mataram a todos eles, daí fizeram o mesmo uns aos outros, . . . mas uma mulher idosa, junto com outra . . . escaparam . . . As vítimas somaram novecentas e sessenta, incluindo mulheres e crianças.”

Sim, sabendo que a captura significava uma existência miserável como escravos, os defensores queimaram a fortaleza e depois, mataram sistematicamente suas próprias famílias e por fim, um ao outro. O último cometera suicídio.

Sobreviveram apenas duas mulheres e cinco crianças, que se esconderam numa caverna e, posteriormente, registraram o ocorrido a Josefo, o historiador.

Em 1965 foi concluída uma intensiva escavação arqueológica de Massada. Comentando sobre os achados, The New Encyclopœdia Britannica (1987) diz: “Descobriu-se que as descrições do historiador judeu-romano Josefo, até então a única fonte pormenorizada acerca da história de Massada, são extremamente exatas.”

Dentre as descobertas mais interessantes estão cacos de cerâmica com nomes pessoais inscritos em hebraico. Estes podem se tratar de sorteios lançados pelos últimos defensores para determinar quem morreria primeiro.

Hoje, os preservados e praticamente intocados contorno dos acampamentos romanos, muro de sítio e a extensa rampa que os visitantes do local podem identificar com seus próprios olhos dão testemunho de como terminou a revolta judaica.

Os restos do sítio romano contra Massada ainda podem ser vistos hoje.
Os restos do sítio romano contra Massada ainda podem ser vistos hoje. – Fonte: www.signaturetouchtours.com

Massada está agora protegida como parque nacional e é um dos locais turísticos mais visitados de Israel, com cerca de 750 mil visitantes subindo à fortaleza todos os anos.

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