Uma conversa sobre Herodes, o Grande

Herodes, o Grande
Um arquiteto notável, um governador sanguinário e um homem cheio de devaneios. Saiba melhor quem foi Herodes, o Grande.

Há mais de dois mil anos atrás, Herodes governou a Judéia, em Israel, e regiões vizinhas por cerca de três décadas.

Herodes é lembrado por muitos como alguém de caráter inescrupuloso, um tirano obstinado e um homem cheio de devaneios.

Digno de nota também é a sua notável capacidade de conceber projetos cuja arquitetura e engenharia transcendiam os métodos conhecidos na época. Aliás, surpreendem até mesmo os profissionais atuais da área.

Conheça um pouco mais desta figura emblemática da história – o rei Herodes, o Grande.

Uma breve introdução sobre Herodes, o Grande

Herodes, o Grande, foi o segundo filho de Herodes Ântipas com sua esposa Cipros.

Ele herdou do pai a habilidade diplomática e a conduta oportunista.

Mas também demostrou notável capacidade de organizador e comandante militar. O historiador Josefo, em sua obra “A Guerra Judaica”, o descreve como homem de grande força física, perito no manejo de cavalos e no uso do dardo e do arco.

Todavia, a característica benéfica mais sobressaliente de Herodes era sua habilidade como construtor.

Como sucessor de seu pai, por volta de 39 a.C. Herodes se tornou rei da grande Judeia por designação do senado romano, uma vez que a Judeia estava sob o domínio de Roma.

Como o político astuto que era, Herodes acreditava que seus melhores interesses residiam em apoiar Roma. Mas sempre muito diplomático, frequentemente mudava de lado a fim de acompanhar a situação mutável dos governantes romanos.

As construções de Herodes, o Grande

Herodes construiu templos, hipódromos, aquedutos e palácios fortificados com luxuosas casas de banho. Também anfiteatros, onde ele realizava jogos gregos e romanos, corridas de carros, lutas de gladiadores, homens lutando com feras e festividades pagãs.

Seus palácios eram decorados com afrescos, belos detalhes em gesso e pisos de mosaico. Foi ele quem introduziu na Judéia as casas de banhos romanas com salas aquecidas e sistema de aquecimento sob o piso.

Os projetos de Herodes eram tão impressionantes que até mesmo engenheiros modernos estudam suas ruínas.

O rei chegou a construir cidades inteiras, uma delas com um porto artificial – Cesareia. Esta cidade portuária tinha um templo dedicado a César Augusto, um palácio, um hipódromo, um teatro com capacidade para 4 mil pessoas e um sistema de esgoto subterrâneo.

E, é claro, o porto.

Ruínas do palácio de Herodes em Cesareia, em Israel
Ruínas do palácio de Herodes em Cesareia, em Israel – Fonte: worldhistory.org

Em Cesareia, Herodes construiu um dos maiores portos marítimos do mundo romano. Os cais e quebra-mares foram construídos com as técnicas mais avançadas da época. De acordo com o historiador Josefo, para a construção de um molhe de cerca de 60 metros de largura assentaram-se na água enormes pedras a uma profundidade de 36 metros. O porto tinha capacidade de ancorar cem navios, o que evidencia que a cidade já foi um centro comercial internacional.

O maior projeto de Herodes, no entanto, foi o templo em Jerusalém. A construção original foi conduzida pelo rei Salomão de acordo com os projetos arquitetônicos que Davi, seu pai, havia recebido por inspiração divina.

O templo em Jerusalém, que anteriormente já sofrera uma reparação, foi reconstruído por Herodes a um enorme custo, e é descrito por Josefo como realmente magnífico:

“Estava todo recoberto de lâminas de ouro, tão espessas, que quando despontava o dia, ficava-se tão arrebatado pela sua beleza como pelos dourados raios do sol. Quanto aos outros lados, onde não havia ouro, as pedras eram tão brancas, que aquela soberba massa parecia, de longe, aos estrangeiros que ainda não as tinham visto, um monte coberto de neve.”

Por odiarem Herodes e suspeitarem dele, os judeus não lhe permitiram derrubar primeiro o templo existente. Portanto, o rei teve de reunir os materiais de construção e colocá-los no canteiro de obras antes de poder começar a demolição.

A área total abrangida na construção do novo templo era de cerca de o dobro da área do anterior. Parte do muro do pátio do templo, pelo que parece, ainda está de pé e é conhecida como Muro Ocidental, ou Muro das Lamentações.

Muro das Lamentações em Jerusalém
Muro das Lamentações em Jerusalém – Fonte: Adobe Stock

Milhares de homens estiveram envolvidos na construção do muro que servia como pilar do templo, muro que no lado oeste tinha cerca de 500 metros de comprimento.

As enormes pedras foram assentadas sem argamassa. O peso de uma delas era quase 400 toneladas e, de acordo com um erudito, “não havia outra do mesmo tamanho no mundo antigo”.

Foi construída sobre os muros uma plataforma enorme chamada Monte do Templo — a maior plataforma artificial do mundo antigo, equivalente ao tamanho de mais de 25 campos de futebol.

Josefo descreve que o interior do templo continha quatro fileiras de colunas de estilo coríntio, 162 ao todo, com três corredores. A circunferência das colunas era tão grande que exigia três homens de braços estendidos para abraçar uma delas.

Herodes morreu antes de a obra ser concluída. O templo foi finalizado pelo bisneto de Herodes, Agripa II, na metade do primeiro século d.C.

Os engenhos civis de Herodes chegaram em Massada, sobre a qual conversamos em uma postagem recente. A quatrocentos metros acima do Mar Morto, Massada era uma fortaleza que servia como refúgio e palácio de inverno do rei Herodes. O local contava com suntuosos palácios e luxos que eram notáveis para a época, como casas de banho com água aquecida e sanitários com descarga.

A problemática família de Herodes

A família de Herodes, com quem o rei passou suas maiores dificuldades e pesares, era ambiciosa, suspeitosa, crassamente imoral e problemática. Ele constantemente suspeitava que seu familiares, especialmente seus filhos, tramavam contra ele (em alguns casos, sua suspeita era justificada).

Cruel, Herodes recorria a torturas para arrancar confissões de quem quer que ele suspeitasse ter informações que confirmariam as suas suspeitas.

Sua cobiça de poder e suas suspeitas o induziram a causar o assassinato da própria esposa, de três dos seus filhos, do irmão e do avô da sua esposa e de diversos dos que haviam sido seus melhores amigos.

O contexto de alguns dos trágicos acontecimentos familiares de Herodes foi o seguinte:

Herodes casou-se com Mariamne (I), neta de Hircano II e filha de Alexandre, filho de Aristóbulo.

Ela era uma mulher muito bonita e Herodes a amava muito. No entanto, Mariamne odiava Herodes porque o marido havia condenado à morte praticamente todos os membros da família dela.

Ciente dos sentimentos de Herodes por ela, ela foi corajosa o suficiente para falar duramente com ele, o que outros temiam fazer.

A mãe de Herodes e sua filha e também irmã de Herodes, Salomé, odiavam Mariamne. Elas eram malévolos e provocativas com a esposa do rei, espalhando calúnias contra ela, como a de que ela havia enviado seu retrato a Antônio, no Egito.

Herodes, então, foi visitar Antônio e confiou sua esposa a José, marido de Salomé, ordenando-lhe que condenasse Mariamne à morte caso Antônio o sentenciasse à morte. José contou isso para Mariamne com a intenção de mostrar à cunhada quão inescrupuloso era seu marido.

Quando Herodes voltou de viagem, descobriu por Mariamne que José havia revelado a ela esta ordem secreta.

De acordo com um relato de Josefo, foi então que, em sua fúria, Herodes ordenou que José e Mariamne fossem condenados à morte. A execução de Mariamne ocorreu em 29 a.C. Ela teve três filhos e duas filhas com Herodes. Um dos filhos morreu na juventude. Os outros dois, Alexandre e Aristóbulo, foram executados por ordem do próprio pai em 7 a.C.

O rei Herodes também mandou executar Antípatro II, seu filho mais velho com outra esposa. O motivo é que Herodes acusou os três filhos de tentarem matá-lo.

Um assassino implacável

Herodes ficou perturbado ao saber do nascimento de Jesus, que fora predito ser o futuro rei dos judeus. Astutamente ele pediu a astrólogos que descobrirem a localização exata desta criança que ameaçava o seu reinado.

No entanto, estes astrólogos nunca retornam à Herodes, que ficou sem saber onde residia o menino.

Então, o então rei da Judéia faz algo totalmente monstruoso. Ele ordenou o assassinato de todos os meninos residentes em Belém e nas regiões vizinhas que tinham de dois anos de idade para baixo.

Sim, Herodes foi o responsável por esse repugnante e impiedoso assassinato em massa.

Quanto ao fim da vida de Herodes, no livro A Guera Judaica Josefo descreve que ele foi acometido por um doença repugnante, acompanhada por febre, e “uma coceira intolerável em toda a pele, contínuas dores nos intestinos, tumores nos pés, como na hidropisia, inflamação do abdome e gangrena nos órgãos genitais, resultando em vermes, além de asma, com grande dificuldade de respiração, e convulsões em todos os membros”.

Foi durante a sua doença fatal que Herodes ordenou o assassinato de seu ardiloso filho Antípater.

Além disso, sabendo que os judeus se alegrariam de saber da sua morte, Herodes ordenou que os mais ilustres homens da nação judaica se reunissem num lugar chamado Hipódromo, em Jericó, e ali os trancafiou.

Então, ele deu ordens aos achegados a ele para que, quando falecesse, a notícia da sua morte só fosse anunciada depois de estes líderes judaicos terem sido mortos. Assim, disse ele, toda família na Judeia certamente choraria no seu sepultamento.

Esta ordem nunca foi executada. Salomé, irmã de Herodes, e seu marido Alexas libertaram esses homens e os mandaram para casa.

Herodes faleceu aproximadamente aos 70 anos de idade. Ele havia feito um testamento designando seu filho Ântipas como sucessor, no entanto, pouco antes da sua morte, fez um novo testamento, no qual designou para este cargo Arquelau, seu filho com sua quarta esposa, Maltace.

Arquelau foi reconhecido como rei pelo povo e pelo exército, mas a ação foi contestada pelo meio irmão Ântipas.

Depois de uma audiência a respeito do assunto em Roma, Augusto César apoiou Arquelau. No entanto, dividiu o território anteriormente governado por Herodes da seguinte forma: metade para Arquelau; e, da outra metade, uma parte concedeu a Ântipas e outra a Filipe, os outros dois filhos de Herodes, o Grande.

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