Gostaria de entrar para tomar uma xícara de café?

Uma xícara de café turco com especiarias
Minha resposta é: depende da cafeteria. Eis uma franca conversa sobre o que caracteriza um bom estabelecimento de café e confeitaria.

Não, eu não sou o tipo de pessoa que vai se negar a ir num café só porque a cultura gastronômica do local escolhido para o encontro não está alinhada com o meu crivo. Pelo contrário, relacionamentos transcendem até o mais refinado dos sabores.

Mas se eu quiser unir ambos os valores, tenho requisitos bem claros para a escolha de um bom café com um apetitoso doce, que é sempre a minha preferência de acompanhamento.

A experiência de vida e a observância destes locais que tanto me agradam me tornaram um tanto quanto exigente, mas há cada vez mais opções de estabelecimentos deste gênero, locais onde é nítido o respeito e a valorização do que faz um bom café, um bom doce ou um bom salgado: os ingredientes.

Vamos começar falando sobre o que não funciona neste sentido?

Antes de tudo, um princípio básico: respeito pelo alimento

Para mim, alimentos devem ser tratados com respeito.

Como assim, Suelen?

Quando na lista de ingredientes de um produto alimentício há uma relação tão extensa quanto a coleção de meias perdidas que a máquina de lavar acumula, eu já o devolvo à prateleira do mercado. Afinal, estamos colocando pra dentro do nosso sagrado corpo algo que está o nutrindo e respeitando a nossa saúde ou algo que, logo que desce pela garganta, aciona as sirenes de emergência do corpo humano, obrigando os órgãos a trabalharem feitos loucos pra tentar digerir?

Como já mencionei, é essencial respeitar os alimentos e a nossa saúde.

Imagine uma obra de Van Gogh sendo substituída por um rabisco feito às pressas em um guardanapo. Ou então um jardim cheio de flores, cores e vida, sendo trocado por um lixão cheio de resíduos tóxicos e mau cheiro. Pense em um violino, capaz de produzir música emocionante e harmoniosa, sendo permutado por um apito de plástico barulhento e irritante. Trocar alimentos verdadeiros por produtos artificialmente modificados, adoçados, saborizados, texturizadados e colorizados é como trocar algo valioso e belo por algo sem valor e perigoso.

A cultura brasileira do café

Ao meu ver, locais que exploram a cultura brasileira do café não conseguem capturar a essência da experiência gastronômica em questão e explico-lhes porquê.

A começar pelo elixir da disposição, o nosso cafézinho, o Brasil – que teria que ter autoridade pra falar do tema – não tem autoridade pra falar do tema.

As marcas que costumeiramente encontramos nas prateleiras dos mercados brasileiros nem de longe apresentam o melhor da bebida símbolo do nosso país. A torra do grão costuma ser excessiva e a permissão de impurezas que não deveriam ser mantidas na composição é alta demais.

Ademais, no geral, confeitaria não é o forte do Brasil. Se você entrar num supermercado internacional no exterior vai encontrar o leite condensado nos produtos típicos do Brasil.

Ser o leite condensado o doce mais conhecido dos brasileiros não é pra mim um motivo de orgulho. Enquanto a Turquia tem a baklava, Portugal o pastel de Nata e a Itália o tiramissu, todos doces de ingredientes autênticos e misturas bem combinadas, nós temos um doce que é vendido numa embalagem e trata-se da combinação “super criativa” de leite, açúcar e conservantes.

Diferente dos doces antes mencionados, que não podem ser transportados facilmente de um lugar para outro, o nosso leite condensado não tem esse problema porque está dentro de uma lata de alumínio e tem um prazo de validade mais extendido que o tempo que leva para o sinal verde abrir quando você está com pressa.

E o que dizer dos salgados? Claro que uma fritura ocasional é aceitável, mas precisa tudo ser frito ou composto de itens super processados, como o presunto e a mortadela? Além de respeito pelos alimentos, temos um probleminha de criatividade também, concordam?

Como um bom café deve ser?

Uma xícara de café com biscoitos

Quando eu entro em um café e vejo que há uma máquina de moer grãos, meu coração bate aliviado.

Percebo, ademais, que os proprietários e funcionários deste tipo de estabelecimento levam muito a sério o princípio básico sobre o qual conversamos um pouquinho antes.

O barista sabe que tudo começa com um bom grão. Ele prioriza cafés de origem única ou blends de alta qualidade, com grãos frescos e bem torrados. A procedência, o tipo de torra e o processamento dos grãos são essenciais para o sabor final. Logo, se no balcão da cafeteria há uma máquina da Nespresso, Nescafé, Três Corações, etc, algo não está indo nada bem. E as coisas ficam muito piores quando são servidas as opções de café sabor Alpino e Vanilla.

E a limpeza, meu povo? Estão prestando atenção nisso?

Um barista raíz mantém seus equipamentos limpos e bem conservados. Resíduos de café antigo em moedores, máquinas de espresso ou filtros podem contaminar o sabor do café novo. A limpeza é essencial para garantir a pureza do sabor e frequentemente percebo esse processo sendo feito logo após o preparo do meu pedido. Que paz de espírito isso me dá!

E o que dizer dos doces e salgados?

Essa parte é polêmica, eu sei. Mas a passagem do tempo foi amadurecendo o meu paladar sem eu ter muito controle sobre isso. Apenas aconteceu. Quer dizer . . . pensando melhor, acho que eu permiti acontecer.

Vou te explicar melhor:

Quando criança, eu comia a torto e a direito bolacha recheada, chocolate, bolos processados, salgadinhos e todas aquelas coisas que você comia-também-que-eu-sei.

À medida que eu fui me tornando adulta, meu paladar também adulteceu. Agora que eu sei que o recheio da bolacha recheada é uma massa de gordura hidrogenada artificialmente saborizada, não faz sentido eu continuar comendo isso. O aprendizado de que o chocolate deve ter 70% ou mais de cacau na composição e a substituição que me senti motivada a fazer me fez perceber quão doce e enjoativo é o chocolate com baixo percentual de cacau.

Eu amo um doce! Eu até troco um jantar no restaurante que mais gosto por uma café da tarde com um docinho numa confeitaria legal na companhia de pessoas que eu eu gosto.

Mas agora percebo que locais que fazem doces utilizando, por exemplo, misturas pré-prontas para bolo, para pão de queijo, para coberturas e para cremes não oferecem o melhor que nosso paladar pode saborear. E aqueles que colocam o leite condensado como a base de tudo também não.

Conheço pouco de confeitaria, mas acredito que a essência francesa do doce é muito bonita.

Eles misturam os ingredientes com integridade e sensibilidade. O creme de uma torta, por exemplo, leva leite fresco, ovos, açúcar e fava de baunilha. A base dos recheios dos bolos que você encontra nas vitrines das padarias é, invariavelmente, leite condensado. Poderíamos ter mais criatividade e variedade, concorda?

E o que dizer da gordura? Aqui no Brasil o costume geral é utilizar ou óleo de cozinha ou margarina para a confeitaria, certo?

Por outro lado, manteiga de primeira qualidade, chocolate fino, baunilha natural e ovos frescos são essenciais para obter sabores autênticos e texturas perfeitas na confeitaria francesa.

Valorize os estabelecimentos que utilizam manteiga, ingredientes frescos e sazonais. Se a confeitaria que você gosta de frequentar serve cheesecake com calda de tangerina no inverno e tartelette com mirtilos no verão, saiba que está fazendo uma escolha acertada.

Poucos prazeres na vida se comparam a um bom café com um bom doce na companhia de quem a gente gosta

E para finalizar, obrigo-me a dizer que, na confeitaria, aparência importa sim. O brigadeiro brasileiro é uma bolinha que qualquer criança faz enrolando a massa de margarina e achocolatado em pó nas palmas das mãos. Na confeitaria europeia, por outro lado, onde há um notável carinho pelo processo culinário, a estética é tão importante quanto o sabor. Doces franceses, por exemplo, são conhecidos por sua elegância e sofisticação. Logo, valorize os locais onde os doces são ornamentados com bom gosto.

Em um mundo onde a praticidade muitas vezes se sobrepõe à qualidade, buscar estabelecimentos que valorizam ingredientes frescos, técnicas tradicionais e o respeito pelo alimento é um ato de resistência. Não se trata apenas de satisfazer o paladar, mas de honrar a cultura gastronômica e a saúde.

Um bom café, um doce bem feito ou um salgado criativo não são apenas refeições; são experiências que conectam pessoas, histórias e sabores.

Portanto, da próxima vez que escolher um local para apreciar um café, lembre-se: o que está em jogo não é apenas o sabor do momento, mas o respeito por uma tradição que merece ser preservada e celebrada.

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