Quando tu pensa nos italianos, o que te vem à mente?
Comida boa, muita comida boa?
Alta costura e estilo de se vestir impecável?
Uso incontrolável e cativante de gestos?
O post de hoje é totalmente dedicado aos italianos e à cultura italiana e você vai amar descobrir mais sobre esse povo que, para mim, é encantador!
Os italianos são obcecados por comida

Exatamente, os italianos amam comida! Ao se encontrarem, é comum perguntarem um para o outro: “Cosa hai mangiato?”, ou seja, “O que você comeu?”
Mas não é só comer. Tem a ver com tradição e conexões, com histórias por trás de cada prato, como a região de onde veio e o significado da comida em si.
Quando cozinham, os italianos não estão simplesmente jogando ingredientes na panela, eles estão honrando os ingredientes que estão conectados às pessoas, à terra, aos agricultores e às regiões de onde vêm os ingredientes.
Um casal canadense em Veneza comentou no TripAdvisor: “Os chefs explicam cada ingrediente como se fosse uma obra de arte. É inspirador ver tanto orgulho na própria cultura.”
Conforme relata Gregor Brown, um americano que vive há 20 anos na Itália, para os italianos, “comida não é só combustível, é praticamente uma religião”. Trata-se de uma experiência comunitária, uma oportunidade de conversar e de expressar tradições.
Ah, e nos almoços durante a semana de trabalho, refeições elaboradas não são negligenciadas. Os italianos não costumam almoçar sozinhos, sentados em suas mesas ou na cozinha do escritório, esquentando a marmita no microondas.
Não, eles saem para almoçar e almoçam juntos. Se você visitar a Itália perceberá como isso é típico — homens engravatados e mulheres bem vestidas num almoço entre o pessoal da empresa em plena terça-feira.
Os italianos amam caminhar
Se você visitar qualquer local da Itália irá reparar diversas placas com a inscrição ZTL, que significa “Zonas de Tráfego Limitado”. Em tais locais, é proibida a entrada de carros, a menos que sejam veículos autorizados.
Essas zonas foram criadas na Itália com os objetivos de preservar os centros históricos, reduzir o tráfego de veículos em em áreas turísticas e aumentar a segurança dos pedestres, permitindo que eles transitem livre e tranquilamente.
Talvez por conta das diversas ZTLs espalhadas pelas cidades, os italianos se acostumaram a caminhar. E adotaram apreço por isso. Para eles é muito mais prático e rápido em uma única caminhada passar no mercado, na loja da esquina e nos correios ao invés de fazer esse trajeto de carro e não encontrar lugar para estacionar.
Não que os italianos não gostem de carro, bem longe disso. A Itália é o berço de marcas icônicas como Ferrari, Lamborghini, Fiat, Alfa Romeo e Maserati. Aliás, na Europa, a Itália é um dos lugares com mais carros per capita. São cerca de 684 carros por 1.000 habitantes. Essa enorme quantidade de carros resulta em engarrafamentos, buzinas acionadas e carros espalhados por toda parte.
Fazer roteiros à pé é, para os italianos, uma forma de relaxar a mente. Eles até tem uma palavra, “passeggiata”, que tem a ver com caminhar sem pressa e, muitas vezes, sem rumo definido. É a coisa mais comum de se ver italianos caminhando dessa forma depois do almoço ou do jantar, num passo lento e com os dedos entrelaçados atrás das costas. Eles estão digerindo a refeição, mas também interagindo com os amigos e a comunidade, olhando as vitrines e apenas observando “a banda passar”.
Os italianos amam a família
Na Itália, a família é tudo. E quando digo tudo, é tudo mesmo. A família é o centro da vida emocional dos italianos.
Sophia Loren, icônica atriz italiana, disse o seguinte em sua autobiografia Ontem, hoje e amanhã: “A família é tudo para nós, italianos. Cresci em uma casa pobre, mas cheia de amor e união. Minha mãe, minhas irmãs e eu nos apoiávamos mutuamente, e isso me deu força para enfrentar o mundo. Sem a família, não há nada.” A atriz frequentemente menciona como, mesmo no auge da fama em Hollywood, voltava para a Itália para estar com parentes.
Estudos sociológicos, como os do Instituto Nacional de Estatística Italiano (ISTAT), mostram que os italianos passam mais tempo com a família do que a média europeia. Por exemplo, em pesquisas de 2023, cerca de 70% dos italianos relataram que as refeições em família são diárias e essenciais para o bem-estar.
Os americanos valorizam muito a independência. Tanto que, ao completar dezoito anos, os filhos costumam sair da casa dos pais, que costumam estar esperando por isso. 😁Na Itália, por outro lado, os filhos não seguem seu caminho logo que completam maioridade, tampouco os pais tentam persuadi-los a isso.
Em um fórum do Reddit, certo usuário postou o seguinte: “Sou italiano e vivo no exterior, mas todo Natal volto para casa porque a família é sagrada. Meus avós me ensinaram que sem família, você está perdido. Aqui nos EUA, as pessoas são mais independentes, mas eu sinto falta daquela rede de suporte.”
Outro, de Sicília, comentou: “Na minha família, discutimos, brigamos, mas no final do dia, estamos lá uns pelos outros. É o que nos faz italianos.”
Na Itália, os laços familiares são tão fortes que no mesmo prédio podem morar tios e avós. E além de morar perto; avós, tios, tias costumam se reunir num almoço ou jantar semanal, provavelmente no “pranzo della domenica”, ou almoço de domingo, que costuma começar às 11hs às 18hs. Sim, é um verdadeiro evento.
Em seu guia de viagens “Rick Steves’ Italy”, o autor, que passou décadas explorando a Itália, escreveu: “Convivi com famílias italianas na Toscana e vi como elas priorizam o tempo juntas. Um almoço pode durar horas, com avós contando histórias para netos. É refrescante comparado à correria americana, onde as famílias mal se veem. Os italianos me ensinaram que a família é o verdadeiro luxo.”
Nas férias, não é diferente. Os italianos gostam de passar as férias em família. Em agosto, todo mundo vai para a praia ou para as montanhas. Todos os italianos estão lá, lotando os hotéis, as praias e os restaurantes. Logicamente, isso faz os preços de tudo ficarem mais altos. Mas isso não os impede de passar um mês descansando e passeando em família porque o luxo e a graça estão em desfrutar a companhia uns dos outros.
Na Itália, sempre que os italianos precisam de alguém para ajudar com a mudança de casa ou o conserto de um vazamento, tem um primo ou o tio para quem apelar. Eles estão lá uns para os outros.
Em um relato no blog da Universidade de Bolonha, um estudante de São Paulo que faz intercâmbio na Itália relatou o seguinte: “Vim para a Itália achando que seria independente, mas convivi com uma família anfitriã em Florença que me tratou como filho. Eles insistem em jantares juntos toda noite, e isso me fez valorizar mais meus próprios laços familiares no Brasil. Italianos realmente vivem para a família — é inspirador!”
Os italianos se vestem muito bem

A Itália tem uma herança rica na moda que remonta ainda aos séculos XIV a XVII, quando cidades como Florença e Veneza se tornaram centros de comércio de tecidos luxuosos, como seda e veludo. Leonardo da Vinci e Michelangelo não foram influências apenas na arte, mas também no design de roupas, sabia?
E, de fato, isto é latente pelas ruas do país. Quando visitei a Itália foi impossível deixar passar despercebida a forma impecável de se vestir do povo italiano.
E quando falo da “impecável forma de se vestir” não me refiro às roupas de luxo. Mas à qualidade e bom gosto.
Um usuário italiano de Milão do Reddit escreveu o seguinte em um fórum sobre o estilo italiano de se vestir: “Nós não vestimos roupas; nós as habitamos. Minha avó sempre dizia que uma boa camisa de linho vale mais que dez camisetas baratas. Aqui, priorizamos qualidade sobre quantidade — tecidos naturais, cortes impecáveis e acessórios que contam uma história. Não é sobre seguir tendências, mas sobre se sentir bem e respeitar a tradição.”
Respondendo à pergunta “Como os italianos se vestem no dia a dia?” em um fórum do Quora, uma moradora de Nápoles disse o seguinte: “Somos obcecados por ‘bella figura’ — fazer uma boa impressão. Mesmo para ir ao mercado, eu coloco um vestido simples, mas elegante, com óculos de sol e um lenço. Homens usam camisas bem passadas e sapatos polidos. Não é vaidade; é respeito por si mesmo e pelos outros. Comparado aos EUA, onde vi gente de pijama no supermercado, aqui é impensável!”
As italianas só usam legging se estiverem fazendo um exercício físico. Essa peça de roupa não as acompanha no dia a dia de forma alguma.
Se eu fosse definir a mulher italiana — desde jovens até idosas — em um look, ele seria exatamente assim: camiseta de algodão de cor neutra, blazer, calça jeans de boa qualidade (raramente de modelo skinny), cinto (sempre tem um cinto na calça) e calçado estilo mocassim em excelente estado. E uma bolsa de couro. Não tem marcas escancaradamente estampadas, mas sempre é couro. Dá para sentir o cheirinho da vaca. Ah! E bons acessórios, comumente um óculos de sol e um lenço de seda nos pescoço. Tudo muito discreto e de bom gosto.
A mulher italiana é realmente muito elegante. E os homens, nem se fala!
O homem italiano não adota tendências de moda, tampouco roupas muito estampadas e coloridas. Não, sobriedade e qualidade são seus diferenciais.
Ele quase sempre estará usando roupa de estilo social e sapatos muito bem conservados. É muito comum você ver homens idosos na rua usando terno — sim, o traje completo, com camisa, paletó e calça social. E eles não estão indo à uma reunião de negócios ou à um casamento. Talvez só estão indo à padaria comprar pão.
Impressionada com o bom gosto para se vestir dos italianos, uma blogueira australiana comentou: “Convivendo com uma família em Toscana, vi como eles se vestem para as refeições familiares: nada de moletom! As avós usam colares de pérolas, as jovens jeans com blusas chiques. É uma lição de sustentabilidade — compram menos, mas melhor. Comparado à Austrália, onde é tudo casual e praiano, os italianos elevam o cotidiano.”
E olha que interessante esse comentário de uma jornalista francesa — sim, francesa, moradora de um local que também é referência de moda — em um artigo de 2023 para o The Guardian: “Vivendo em Paris e visitando a Itália, noto que os italianos superam os franceses em ousadia. Suas roupas são vibrantes, com toques de luxo acessível como da Zara italiana ou marcas locais. É democrático, não só para ricos.”
Um turista de Nova York comentou o seguinte sobre suas férias na Itália no TripAdvisor: “É inspirador — aprendi que menos é mais, e investir em peças atemporais vale a pena.”
Os italianos tem um estilo de vida desacelerado
Minha família e eu passamos um período na Itália para fazer a cidadania. Ficamos no norte do país em duas cidades bem pequenininhas e aconchegantes, vizinhas de locais mais movimentados como Turim e Milão.
A primeira impressão que eu criei foi que os italianos eram preguiçosos. De manhã, muitas lojas abrem às 10 hs; e depois do almoço, ficam fechadas pelo menos até às 15hs. E o motivo não era o fato de serem localizadas em cidades pequenas porque o mesmo ocorria em Turim e Milão.
Eu pensava: “Pessoal, vamos lá! Produtividade!”
Moro no sul do Brasil e a cultura por aqui, como deve ser em várias outras partes do Brasil, é de trabalhar muito. Portanto, de início foi um choque.
Mas à medida que o tempo passava, algumas observações fizeram com que eu ajustasse meu ponto de vista.
Mesmo naquelas cidades pequenas, as casas são muito bonitas, bem cuidadas e de boas condições. Acredita que quase praticamente todas tem esquadrias de PVC, o que é um verdadeiro luxo aqui no Brasil?
Outra coisa — como já comentamos, os italianos comem muito bem! Não me refiro à quantidade, mas à qualidade. Tivemos o privilégio de fazer algumas refeições com famílias italianas locais e, embora não fossem pessoas de alta renda, a mesma era farta de alimentos frescos e de excelente procedência.
Refletindo nestes e outros detalhes, refinei a minha opinião sobre o povo italiano.
O que me parece é que a vida deles não é conduzida pela frenética busca de mais e mais dinheiro. Minha conclusão é que os italianos se preocupam em ter dinheiro suficiente para fazer um “colchão de segurança”, ter uma boa moradia, comer bem, fazer uma viagem legal nas férias e é isso. É uma vida mais leve, desacelerada.
E ao invés de criticar, passei a admirar os italianos. Eles sabem viver a vida exemplarmente, eles aproveitam o momento.
Foi a vida frenética dos americanos que deu origem ao “fast food”, uma comida que você recebe rápido e come rápido. Só a digestão é lenta. Isso é tão inconcebível para os italianos que eles lançaram o movimento “slow food”, um convite para desfrutar dos prazeres de uma refeição lentamente preparada e saboreada.
No mundo em que vivemos as coisas acontecem tão rápido! São mensagens instantâneas, respostas rápidas, gratificação imediata e barulho o tempo todo. Parece que todos os espaços de silêncio precisam ser preenchidos e que cada minuto do dia deve ser maximizado.
Os italianos sabem quando é hora de trabalhar, se não fosse assim, a Itália não seria o país desenvolvido que é. Mas eles sabem aproveitar bem a vida. Eles aproveitam o tempo em família, desfrutando uma refeição ao redor da mesa; eles se permitem andar de bicicleta pela praça sem conjugar isso a um exercício; eles desfrutam do descanso sem se sentir a culpa de achar que poderia usar esse tempo em algo mais “útil”.
Já ouviu falar da expressão italiana “Dolce far niente?” A tradução literal para o português é “a doçura de não fazer nada.” Basicamente, ela significa parar de tentar reagir imediatamente, de correr como uma galinha sem cabeça.
Para comprovar quão bem isso faz, a Itália é um dos locais com mais “zonas azuis” do mundo, ou seja, com alta concentração de pessoas longevas. Pesquisas indicam que uma boa alimentação, atividades físicas e forte rede social são os principais fatores a favor da vida longa dos queridos italianos.
Que tal tentar viver como os italianos e pegar mais leve? Sente-se em um café, aproveite seu espresso, peça um doce de acompanhamento, fique por lá mais uns minutinhos, quem sabe uma hora. Por que não? Quando você faz isso, sua vida ganha um novo ritmo e você experimenta um tipo diferente de paz. E uma mente relaxada é uma oficina de criativos e novos pensamentos.
Os italianos são intensos
Se tem algo que ficou claro em cada uma destas particularidades — o apego dos italianos com a família e com a comida, os hábitos de caminhar com leveza e ver a vida de forma desacelerada e de se vestir como se em cada ocasião eles fossem fotografados — é que os italianos são intensos. Os italianos vivem a vida com intensidade!
Não é à toa que ao redor do mundo inteiro a expressão “dolce vita” foi associada à Itália, afinal, os italianos descobriram uma forma muito interessante e — muito boa — de viver. Talvez nós, aqui nas Américas, fizemos uso da palavra “intenso” incorretamente. A gente trabalha de forma intensa, se cobra de maneira intensa e nos fatigamos de modo intensa.
Os italianos, por outro lado, preferem usar a intensidade para mergulhar profundamente nas alegrias cotidianas da vida, como as conversas animadas à mesa, os passeios tranquilos ao pôr do sol e apreciação genuína das belezas da vida. Essa realmente é uma “dolce vita”, o que você acha?