Liliane Bettencourt – os dramas da mulher mais rica do mundo

Conheça a história da dona da L’Óreal Paris e mulher mais rica do mundo, Liliane Bettencourt, e entenda porque o dinheiro pode ser apenas uma rota, mas não o caminho para a felicidade.

Já ouviu falar de Liliane Bettencourt?

Empresária francesa, Liliane Bettencourt já foi considerada a mulher mais rica do mundo.

Sua fortuna vinha da L’Oréal, empresa multinacional francesa de cosméticos fundada em 1909 por Eugène Schueller, pai de Liliane. O valor estimado da marca L’Oréal é de 12 bilhões de dólares.

Já ouviu aquela frase: “Ela era tão pobre, tão pobre, que tudo o que tinha era dinheiro.”?

De certa forma, Liliane era assim. Vou te contar porquê.

Um berço de ouro. Ou melhor, de shampoo.

Eugène Schueller, pai de Liliane e fundador da L’Oréal Paris, foi um químico e farmacêutico francês.

Eugène Schueller – Fonte: Getty Images

As mulheres pintam os cabelos desde os tempos remotos. As egípcias usavam henna para transformar seus cabelos grisalhos em ruivos. As gregas e romanas usavam açafrão, pó de ouro, flores misturadas e outros produtos vegetais e animais para embelezar os cabelos com vários tons de cores. 

O que todas essas combinações têm em comum, além de serem naturais, é que duravam muito pouco tempo.

Com o passar dos séculos, produtos químicos, como chumbo e ácido sulfúrico, entraram no mercado. Os resultados eram mais duradouros. Porém, nocivos para a saúde das consumidoras. Por vezes até letais.

Tudo mudou quando, em 1907, Eugène Schueller inventou a primeira tintura de cabelo sintética sem riscos à saúde. Ele usou para-fenilenodiamina (PPD), um produto químico descoberto no século anterior, e batizou sua inovação de “Oréal”.

Dois anos depois, Eugène fundou a Société Française de Teintures Inoffensives pour Cheveux (Empresa Francesa de Tinturas Capilares Inofensivas), a empresa que se tornaria o Grupo L’Oréal.

A fim de conquistar o mercado internacional, Eugène estabeleceu uma rede de representantes de vendas em todo o mundo. Suas tinturas de cabelo inovadoras foram vendidas para cabeleireiros e, posteriormente, farmácias.

Anúncios Ambre Solaire e Dop

Nos anos seguintes, desenvolveu novos produtos: Dop, o primeiro shampoo moderno sem sabonete (1934); e Ambre Solaire, o primeiro óleo bronzeador contendo filtro solar (1935).

A L’Oréal revolucionou o mercado de tinturas de cabelo femininas, permitindo às mulheres maiores oportunidades de expressão. Hoje, 75% das mulheres americanas e 60% das mulheres europeias pintam o cabelo, em comparação com apenas 7% na década de 1950.

Podemos creditar o sucesso de Eugène à sua capacidade de compreender as necessidades e antecipar as expectativas dos clientes. 

“Schueller era um homem de ação e espírito criativo. Ele foi o primeiro a construir uma indústria da beleza sobre os alicerces da ciência.” – Grupo L’Oréal

Eugène casou-se duas vezes, primeiro com Louise Doncieux; e depois, Annie Burrows.

Com a primeira esposa, Eugène teve uma filha, Liliane, nascida em 21 de outubro de 1922. Louise faleceu quando a menina tinha apenas cinco anos de idade. 

Eugène e Liliane desenvolveram um vínculo estreito. Ela começou a trabalhar com o pai desde os seus 15 anos.

Eugène Schueller morreu em 23 de agosto de 1957 em Paris, aos 76 anos. 

Ele deixou a L’Oréal à sua única filha, Liliane.

Uma pobre bilionária

Liliane Bettencourt se casou em 8 de junho de 1950 com o político francês André Bettencourt. Ficaram juntos por 57 anos, até a morte de André em novembro de 2007.

Juntos tiveram uma filha, Françoise Bettencourt Meyers, nascida no dia 10 de julho de 1953.

Família Bettencourt em 1988 – Fonte: Getty Images

Françoise é casada desde 1984 com Jean-Pierre Meyers. Desta união, nasceram dois filhos: Jean-Victor Meyers (nascido em 1986) e Nicolas Meyers (nascido em 1988).

Jean-Victor Meyers, Nicolas Meyers, Françoise Bettencourt Meyers e seu marido Jean-Pierre Meyers in 2019 – Fonte: Getty Images

No documentário A Bilionária, o Mordomo e o Namorado, da Netflix, funcionários e pessoas que conviviam com o casal descreveram André como um marido distante. Cada um tinha sua vida pessoal, até mesmo dormiam em quartos separados.

Quanto à Françoise, única filha do casal, Liliane referia-se a ela como “desengonçada e devagar”.

Françoise é uma mulher muito discreta, que não gosta de aglomerações sociais tampouco dos protocolos da alta sociedade.

Para Liliane era uma decepção ter uma filha sem energia, sem ambição e sem curiosidade.

A relação entre mãe e filha sempre foi conturbada.

Certa vez, o gestor de sua fortuna e amigo Patrice de Maistre perguntou a Liliane se ela amava sua filha. A bilionária respondeu: “Eu a amo porque é minha filha.”

Apesar de ser a mulher mais rica do mundo, Liliane se sentia entediada. Passou, inclusive, por grandes momentos de depressão. Curiosamente, apesar de toda a sua riqueza, era uma mulher de vida vazia. Ela precisava de gente ao seu redor, de ar fresco, de vida. Mas tudo o que tinha era a melancolia de uma existência sem graça.

É . . . tem esferas nas quais o dinheiro não serve pra nada.

Novo tesouro

Em 1987, Liliane Bettencourt conheceu François-Marie Banier.

O fotógrafo François-Marie Banier – Fonte: Getty Images

François-Marie Banier era um fotógrafo extravagante e espontâneo. Ele tinha um olho afiado e feroz para fotografar. Talentoso e muito simpático, tinha o dom de deixar as pessoas que fotografava à vontade.

E foi assim que ele cativou Liliane. Com seu jeito sedutor, François-Marie conseguiu captar a alma de Liliane no ensaio que fez da bilionária para a revista L’Égoïste. Ele entrou no armário de Liliane, escolheu as roupas que ela iria usar, fez ela trocar a cor do batom e o penteado do cabelo. 

Essa audácia surpreendeu Liliane e eles iniciaram uma amizade que se estenderia pelos próximos vinte anos.

François-Marie não se intimidava com a posição financeira de Liliane e a tratava de maneira informal. 

Os funcionários da mansão se chocavam com o jeito de ser do fotógrafo. Ele chegava à mansão espalhafatoso, deixava a sua moto de qualquer jeito no jardim e fazia xixi sob as flores. “Mal educado e grosseiro”, era assim que alguns se referiam a ele.

Mas para Liliane, esses excessos eram libertadores. Finalmente ela tinha a companhia de alguém ousado, diferente de todas as pessoas comportadas e entediantes com quem ela convivia.

Com François-Marie, Liliane existia. Ele apresentou um mundo que ela não conhecia, lhe tirava da rotina.

Eles viajavam juntos, frequentavam exposições de arte, comiam em diferentes restaurantes e simplesmente se divertiam.

Para Liliane, François-Marie era como um sopro de ar fresco.

Eles não tinham um romance ou algo do gênero. François-Marie é homossexual, portanto, a relação era apenas amizade. 

Liliane admirava muito seu pai, Eugène Schueller. Tinha quase uma veneração por ele. Em François-Marie, a empresária viu alguém criativo e determinado, características que ela adorava no seu pai, mas não via no marido tampouco na filha.

Uma nota falsa

Françoise Bettencourt Meyers, por outro lado, detestava François-Marie Banier. Ela achava chocante o comportamento do fotógrafo. “O que minha mãe vê nele?”, questionava-se a herdeira. Para ela, ele era um homem vulgar.

E não era apenas Françoise que tinha antipatia pelo fotógrafo deselegante. Muitos funcionários da mansão compartilhavam deste sentimento.

Mas foram outras atitudes que causaram inquietação e suspeita por parte de Françoise e pessoas que observavam a amizade do fotógrafo com a mulher mais rica do mundo.

Liliane Bettencourt dava muitos presentes à François-Marie, dentre eles, esculturas, obras de artes e pinturas de artistas famosos como Picasso, além de cheques e até mesmo um seguro de vida.

E François-Marie não tinha vergonha alguma de aceitar estes presentes. Tampouco de solicitá-los.

Para Liliane, François-Marie tinha salvo sua vida. E ela agradecia como podia: com dinheiro.

François-Marie Banier e Liliane Bettencourt – Fonte: Getty Images

Uma secretária de Liliane conta que a Senhora Bettencourt e o fotógrafo tinham o hábito de tomar café ao ar livre. Nestas ocasiões, ele pedia que a secretária garantisse que Liliane tivesse cheques na bolsa. E cheques de 170, 200, 300 mil euros eram emitidos fácil e corriqueiramente.

Claire Thibout, contadora pessoal de Liliane Bettencourt, também achava que François-Marie tinha um comportamento totalmente suspeito e problemático. Ela até relatava à Senhora Bettencourt que não aguentava mais receber ligações de François-Marie, por vezes tarde da noite, pedindo dinheiro.

E a gota d´água foi quando ele solicitou que a contadora esvaziasse o cofre do banco com as joias de Liliane. E o pior é que Liliane estava disposta a entregar suas joias a este amigo aproveitador.

No final de 2007, poucos dias após a morte de André Bettencourt, a audácia de François-Marie chegou ao cúmulo. Ele pediu à Liliane que o adotasse, prometendo-lhe que ele seria o filho que ela nunca teve.

Ao saber disso, Françoise surtou.

Zeros à direita

Em 2007, Françoise Bettencourt Meyers levou o caso à Justiça. Para proteger a mãe, ela queria que François-Marie Banier e os demais abusadores fossem punidos.

A relação entre mãe e filha ficou ainda mais estremecida, uma vez que Liliane Bettencourt repudiava a atitude da herdeira. O clima na mansão ficou gélido. Funcionários se dividiram entre os que apoiavam Françoise e os que estavam do lado de Liliane. Demissões foram feitas e Françoise ficou sem frequentar a casa da mãe por pelo menos três anos.

Questionada por um repórter sobre que recado gostaria de deixar à sua filha, Liliane declarou: “Aprenda sobre o que é felicidade. E quando aprender, fique com ela.”

O que era para ser a denúncia de uma extorção ganhou proporções imensas, uma vez que escândalos de corrupção e apoio ilegal à campanhas políticas praticados pela Senhora Bettencourt foram revelados. Ficou evidente também o quanto Liliane era cercada de interesseiros e oportunistas.

“Eu acho que a senhora Bettencourt ( . . . ) sempre esteve cercada de encostados, de aproveitadores. Alguns mais corretos, outros menos. Resumindo, pessoas claramente interesseiras. Acho que toda vida do casal Bettencourt deve ter sido assim. “Vocês podem financiar minha Associação? Podem financiar isso? Ajudar minha filha? Meu filho?” Toda a sua vida foi assim. E essa pode ser a história da solidão dela.” – Tom Sancton, autor de “L’affaire Bettencourt”

A quantia que François-Marie Banier recebeu de doações de Liliane Bettencourt somava 917 milhões de euros. Sim, quase um bilhão em presentes.

Com as investigações, ficou claro que François-Marie não era apenas alguém que aceitava a generosidade de uma amiga que nadava no dinheiro. Ele tinha antecedentes. Já tinha feito o mesmo com outra idosa rica de quem, aliás, herdou parte da fortuna quando faleceu.

A vítima era Madeleine Castaing, conhecida como “diva da decoração”. Ele a influenciava muito. Estava sempre solicitando pinturas e até mesmo mobílias da casa da milionária.

Em certo momento, o neto de Madeleine começou a se preocupar com a proximidade de François-Marie com a avó. Disse que ele se comportava como um gigolô e que a tinha empurrado escada abaixo. François-Marie o processou por difamação, mas o caso não foi longe.

Liliane Bettencourt não participou do julgamento de François-Marie Banier. Nessa época, ela estava sob tutela da filha e dos netos, sem autonomia para praticamente nada uma vez que foi diagnosticado que ela não tinha total discernimento de suas ações. Novamente, Liliane estava solitária, incapacitada e infeliz.

Ao final do julgamento, François-Marie Banier foi declarado culpado de abuso de incapaz, condenado a dois anos e meio em regime fechado, uma multa de 350 mil euros e 158 milhões de indenização.

Liliane faleceu em 2017, aos 94 anos. Após a sua morte, François-Marie recorreu e obteve outro julgamento. Sua sentença foi diminuída de forma significativa. Ele também escapou da indenização. Dos 158 milhões de euros, a quantidade de indenização que ele teve que pagar à Françoise Bettencourt Meyers reduziu para um euro. Sim, uma unidade de euro.

Nesta história podemos perceber claramente a fragilidade de uma vida alicerçada sob o dinheiro, tanto no caso de Liliane Bittencourt, que não enxergava a realidade escancarada camuflada da atenção que ela tanto necessitava; como no caso de Françoise que, inconscientemente, buscava desesperadamente o amor da mãe, sem conseguir. Uma mãe que não soube dar o carinho que ela esperava.

Liliane Bittencourt e Françoise Bettencourt Meyers – Fonte: Getty Images

E será que em nenhum momento de sua vida Liliane percebeu que o maior interesse de François-Marie era a sua fortuna?

Acompanhe o trecho de uma carta que Liliane deixou a Françoise, sua filha:

“Françoise, se estiver lendo esta carta, eu já não estou mais viva. Mas você continua sendo minha filha, e herdará uma fortuna fabulosa que eu preservei e protegi dos impostos para que você tivesse paz. Agora, eu gostaria de dizer que desejo descansar em paz. Ou seja, você vai fazer o que eu pedir. Eu gostaria que você transferisse a propriedade da minha ilha em Seychelles para o François-Marie Banier. Você ganhará um bilhão de francos. Você dará metade a François-Marie, e ainda te sobrará muito dinheiro. Não se esqueça de que você ficou Neuilly e L’Oréal. Por quinze anos, meu melhor amigo foi François-Marie Banier, que você afastou de mim, como todos os outros. Essa possessividade, maior do que a do seu pai, que me entendia melhor, não mudou as coisas entre nós, e isso vem de antes do François-Marie. Mas não é hora de fazer contas, e sim de se comportar. Eu nunca me meti na sua vida, não se meta na minha. Você é a filha que eu amei, não foi fácil. Um beijo, mamãe.”

Esses pedidos nunca foram aceitos.

Em 2023, Françoise Bettencourt Meyers foi considerada a mulher mais rica do mundo. A fortuna dela e de seus filhos é estimada em mais de 80 bilhões de euros. Mas a que preço? Cabe a cada leitor contabilizar.

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