Tá na hora de acordar

Dificuldade de acordar cedo no primeiro despertador elefante nas costas
Essa é pra quem aciona a função "soneca" do despertador zilhões de vezes antes de acordar.

Seis horas da manhã
Minha mãe vem me chamar:
Levanta, filho, levanta
Tá na hora de acordar!

Uma coisa, no entanto,
Impede que eu me levante.
Sentado em minhas costas
Há um enorme elefante.

Curioso como depois de, sei lá, uns 28 anos, os versos deste poema – que hoje venho a descobrir que se chama Elefante, de Vinicius de Moraes – permanecem melódicos e intactos em minha mente.

A primeira vez que me deparei com este poema foi no livro de Língua Portuguesa que muito provavelmente me acompanhou durante a então Segunda Série do Ensino Fundamental. Não tenho exata certeza, mas lembro que foi na época que só tinha uma professora na sala de aula, condição que durou até a quarta série. Por eliminação das professoras que imagino vocalizando as perguntas que sucederam os versinhos, tudo me leva a crer que sim, eu tinha oito anos e estava cursando a Segunda Série.

Pois bem, voltando ao episódio, tenho na lembrança até mesmo duas das perguntas de interpretação que sucederam o poema. Eram mais ou menos assim:

Realmente havia um elefante nas costas do menino?

O que representa o elefante?

Recordo-me que não tive dificuldade para entender que se tratava de uma metáfora. E a professora Alcione corrigiu as respostas com a turma 27 (agora veio uma enxurrada de detalhes na minha mente):

Não, o elefante não era literal. Ele representava a preguiça de acordar.

E cá estou agora

Vinte e oito anos depois, sigo entendendo exatamente a sensação do menino que tem sérios e reais motivos que o impedem de sair da cama. Elefante é a figura de linguagem perfeita para ilustrar o peso de atender o irritantemente infalível e responsável despertador.

Apesar de ser uma condição da qual não posso me isentar, tenho claras dificuldades de acordar cedo. Eu ficaria super ok se fosse possível acordar às 08 da manhã. Mas a “casa das seis da manhã” é tão cedo!

E olha que eu já fui o tipo de pessoa que acorda às cinco da manhã, acredita? Na verdade, tentei ser o tipo de pessoa que levanta antes do sol nascer, mas entendi, aceitei e estou super bem com o fato de que isso não é para mim.

No entanto, é frustrante todo o dia lidar com essa situação porque já começo o dia com uma derrota para mim mesma, uma vez que aciono a função soneca umas trocentas vezes antes de levantar e me atraso todo santo dia; e vou dormir com aquela amargura no coração de selecionar o despertador das 6h23 da manhã (6h20 é muito cedo e 6h25 é muito tarde).

“Acordando e levantando”

Verbalizo para todos que lerão este post que sou totalmente inconformada com este meu modus operandi.

E sabe por quê?

Porque ele atrasa muito a minha vida. Se eu conseguisse acordar exatamente no horário que me proponho a fazer isso, seria possível realizar minhas atividades físicas logo pela manhã, deixar meu apartamento organizado e em dia, levar o lixo na rua e chegar no trabalho com uns cinco minutos de antecedência. Olha que lindo e digno seria!

Todavia, o que acontece sempre que acumulo derrotas para o despertador?

Acordo frustrada porque apesar de dizer para mim mesma: “Suelen, tá tudo bem, fica mais um tempo na cama, tu precisa descansar, está muito cansada”; no fundo eu sei que é só uma desculpa esfarrapada para continuar no “modo boicote”.

Quando eu acordo atrasada e agora com o adendo “frustrada”, eu deixo para fazer os exercícios físicos no final do dia, quando eu volto do trabalho. O meu apartamento fica bagunçado e não consigo lavar as louças do café da manhã. O lixo fica lá, fedendo. E chego no trabalho portando dez minutos de atraso e um “bom dia” todo envergonhado.

Daí como fica de noite? Ao invés de focar em coisas relevantes – como antecipar as atividades da casa, estudar, escrever, ler, passar tempo com minhas sobrinhas e minha família – eu tenho que correr atrás do prejuízo e fazer as coisas que não tive tempo de realizar pela manhã.

E qual o resultado? Vou dormir bem mais tarde que o devido.

E como eu fico na manhã seguinte? Já acordo cansada.

E como eu poderia vencer isso tudo? Simplesmente por acordar no primeiro despertador.

A virada de chave de 2025

E é por isso que aqui, publicamente, eu estabeleço para 2025 uma meta singela: acordar no primeiro despertador.

Simplesmente isso, só isso: acordar no primeiro despertador.

Quem enfrenta similar confronto sabe que é fácil na teoria, todavia, desafiador na prática.

Mas eu sinto que agora será pra valer e que eu vou conseguir. Sabe por quê?

Porque agora eu realmente quero.

Uma das coisas que venho aprendendo com a vida é que eu sou apta a realizar uma grande mudança quando eu a quero de verdade.

As ações não tomadas e as atitudes não alteradas, bem lá no íntimo, resultam de uma falha em querer verdadeiramente mudar. Por motivos conscientes ou por enquanto ilegíveis, há uma resistência evidente à mudança.

E como será que eu passei a querer acordar cedo? Como querer fazer uma coisa que tu sabe que é importante mas não se sente atualmente capaz ou forte o suficiente para realizá-la?

Eu acredito que isso acontece quando a gente sofre prejuízos reais na vida por não mudar tal conduta limitante. É preciso, de alguma forma, cair uma ficha, virar uma chave, desatar um nó. Alguma coisa tem que te trazer para a realidade, nem que seja um constrangimento, um aborrecimento ou qualquer episódio não muito agradável.

Para alguns pode ser a concepção de que a vida está passando e que você está num lugar bem diferente de onde projetou anos atrás, quando desenhava seus planos para a idade que hoje se encontra.

Ou quem sabe a perda de uma posição, de uma pessoa, de um cargo, de um papel.

Para mim, confesso aqui, que foi um constrangimento, que hoje percebo que, na realidade, foi uma grande bênção, uma vez que me fez tomar uma atitude para mudar o cenário de inércia que me encontrava.

Enfim, finalmente sinto que agora eu quero mesmo acordar no primeiro despertador. Isso parece simples e bobo, mas creio que é bem mais amplo que um despertador: é um acordar para a vida. Eu sei que muitas coisas irão acontecer se eu der esse pequeno primeiro passo.

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