O que faz da Finlândia o país mais feliz do mundo?

Bandeira da Finlândia com vista de fundo para o local, o país mais feliz do mundo
Pelo sétimo ano consecutivo, a Finlândia conquistou o primeiro lugar na classificação anual dos países mais felizes do mundo do Relatório Mundial sobre Felicidade. O que a Finlândia tem de tão especial?

Na década desde que o primeiro Relatório Mundial da Felicidade foi divulgado em 2012, quatro países ocuparam a primeira posição: Dinamarca, Suíça, Noruega e Finlândia. 

E pelo sete ano sucessivo, quem encabeça a lista é a Finlândia, um país nórdico, isto é, localizado no norte da Europa, com cerca de 5.545.000 milhões de habitantes.

O relatório do qual participam mais de 130 países baseia-se numa avaliação chamada Escada de Cantril, na qual se pede aos entrevistados para analisarem a felicidade geral de suas vidas numa escala de um a dez.

A pesquisa também leva em conta as seguintes seis variáveis:

  • PIB per capita
  • Suporte social
  • Expectativa de vida saudável
  • Liberdade
  • Generosidade
  • Nível de corrupção

A Finlândia ficou em primeiro lugar na lista com uma pontuação de 7.741. Os outros países que compõem a relação, da segunda à décima posição, são: Dinamarca, Islândia, Suécia, Israel, Holanda, Noruega, Luxemburgo, Suíça e Austrália.

Quais as condições de vida que os finlandeses desfrutam que permitem a eles a condição de serem o povo mais feliz do mundo?

Políticas sociais

Algumas variáveis de interferência na felicidade do povo da Finlândia são a menor desigualdade de rendimentos, apoio social, liberdade de tomar decisões e baixos níveis de corrupção.

Igualmente relevante na escala de satisfação dos finlandeses é a ausência de algumas situações que causam muito estresse em cidadãos de outros países onde esses problemas são latentes. 

Por exemplo, na Finlândia, a educação é em grande parte gratuita, o tempo livre do trabalho é abundante e a cobertura de cuidados de saúde é garantida. A expectativa de vida na Finlândia é de cerca de 82 anos – 85 para as mulheres e 79 para os homens.

Na Finlândia, embora as pessoas trabalhem arduamente, eles têm uma carga laboral bastante razoável, o que lhes permite equilibrar de forma saudável a vida pessoal com a vida profissional.

“Isso lhe dá tempo para relaxar em sua vida cotidiana e para cuidar de si mesmo”, disse Meri Larivaara, diretora de Assuntos Estratégicos da MIELI, uma organização não governamental da Finlândia dedicada à saúde mental dos finlandeses.

No país mais feliz do mundo, o transporte público é confiável e acessível; e o aeroporto de Helsínquia é classificado como o melhor do norte da Europa.

Sobre a questão da desigualdade de rendimentos, veja que dado interessante:

O décimo da população mais bem paga na Finlândia detém um terço (33%) de todo o rendimento do país.

No Reino Unido, este mesmo grupo possui 36% dos rendimentos; e nos Estados Unidos, 46%.

Pode ser que estas diferenças não sejam tão expressivas, mas definitivamente têm um efeito considerável na felicidade geral uma vez que na maioria dos demais países costuma sobrar muito menos para a população não rica.

Sabe como é esta proporção no Brasil?

No Brasil, os 10% mais ricos do país detém 61% do poder econômico da nação.

E sabe qual é a posição do Brasil na escala de países mais felizes do mundo? Quadragésimo quarto lugar.

No início deste subtítulo falamos sobre a liberdade de tomar decisões, algo que os finlandeses afirmam sentir.

A liberdade é muito importante para as pessoas. Isso é um dos fatores que explica porque a Turquia e a Índia – países com governos de políticas restritivas – têm níveis de felicidade mais baixos do que seus níveis de desigualdade econômica poderiam prever.

Em contraste, a África do Sul e a China aparentam estar um pouco mais felizes do que os seus níveis de desigualdade sugerem. A África do Sul tornou-se uma democracia em 1994, pouco depois da libertação de Nelson Mandela. E a população chinesa não se sente tão oprimida como muitas vezes o Ocidente retrata.

Amplo contato com a natureza

A Finlândia foi novamente considerada o país mais feliz do mundo - vista de localidade com bastante natureza ao redor
Finlândia – Shutterstock

A natureza tem um importante papel na vida e na felicidade dos moradores da Finlândia.

O país tem regras conhecidas como Direito de Todos, que permitem que os finlandeses usem gratuita e respeitosamente quase todas as florestas, lagos e áreas costeiras. Isso significa que a população de lá tem acesso liberado a atividades como camping, colheita de frutas silvestres, colheita de cogumelos, natação, caminhadas, passeios a cavalo e esqui. Que lindo!

Mirka Hintsanen, professora de Psicologia da Universidade de Oulu, na Finlândia, disse que lá as pessoas estão sempre perto da natureza, estando eles numa cidade grande ou numa pequena localidade. “Há natureza em todos os lugares”, disse ela.

Estudos sugerem que passar apenas 15 minutos entre as árvores pode reduzir a pressão arterial e melhorar a saúde física e mental. 

A Finlândia conta com nada mais nada menos que 41 parques nacionais, todos com entrada gratuita; 647 rios e uma costa que se estende por 1.100 km, sem incluir as dezenas de milhares de ilhas do país. 

Além dos espaços naturais, os finlandeses gostam muito de passar seu tempo livre nas saunas. Conhecidas pelos seus benefícios para a saúde, as saunas são fantásticas para acalmar a mente. E com cerca de 3 milhões de saunas para uma população de pouco mais de 5,5 milhões de habitantes, os finlandeses certamente as integram na vida quotidiana.

Incentivo para aprender novas habilidades

Juho Saari, reitor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Tampere, na Finlândia, comenta que o país conta com um grande número de associações onde as pessoas podem praticar hobbies juntas – desde ioga até aulas de cerâmica. Ele disse que é barato e acessível aderir a essas instituições.

Aprender coisas novas é essencial para a saúde mental. Não necessariamente precisa ser algo grandioso como dominar um novo idioma ou uma capacitação técnica. Tarefas simples como experimentar uma nova receita ou fazer um curso de canoagem tem o mesmo efeito.

Alargar os conhecimentos também é válido na percepção do tempo.

 “Quando você sai de sua rotina diária e olha para trás – para seu mês ou ano – o tempo parecerá mais longo e você sentirá que aproveitou ao máximo seus dias”, diz Adrian Bejan, professor de Engenharia Mecânica na Duke University, dos Estados Unidos.

Como assim?

A seguir aparecerão algumas informações um tanto quanto intrigantes para você que acompanhou esta leitura até aqui.

Embora classificados como o povo mais feliz do mundo, os finlandeses dizem que a realidade é um tanto quanto mais complexa do que um gráfico expresso em um relatório.

“Eu não diria que nos consideramos muito felizes”, disse Nina Hansen, 58 anos, professora de inglês do ensino médio de Kokkola, uma cidade de médio porte na costa oeste da Finlândia.

Nina foi uma das pessoas com quem a jornalista Penelope Colston conversou em sua viagem para a Finlândia com a missão de descobrir a fórmula da felicidade do famoso povo nórdico.

Ela falou com pessoas entre 13 e 88 anos de idade de diferentes gêneros, etnias, localidades e profissões.

Embora as pessoas elogiassem a forte rede de segurança social da Finlândia e falassem com entusiasmo dos benefícios psicológicos da natureza e da realização pessoal que encontram nos esportes ou na música, também falaram de culpa, ansiedade e solidão.

Em vez de “felizes”, eram mais propensos a caracterizar os finlandeses como “bastante sombrios”, “um pouco mal-humorados” ou não dados a sorrisos desnecessários.

Muitos também partilharam preocupações sobre as ameaças ao seu modo de vida, incluindo possíveis ganhos de um partido de extrema direita nas eleições do país, a guerra na Ucrânia e uma relação tensa com a Rússia.

Ou seja: fatores externos bem atendidos não são o suficiente para uma pessoa ser feliz.

Então, qual é a realidade ou então o equilíbrio nisso tudo?

Contentamento – o grande segredo para a felicidade

Mulher desfrutando de linda vista para lago da Finlândia, o país mais feliz do mundo
Finlândia – Oleh_slobodeniuk via Getty Images

Há um provérbio finlandês que diz: Onnellisuus on se paikka puuttuvaisuuden ja yltäkylläisyyden välillä, ou seja, a felicidade é um lugar entre o pouco e o demais.

Na Finlândia, as pessoas experimentam um sentimento de contentamento em vez de uma felicidade avassaladora.

“Felicidade não precisa significar aquela emoção muito intensa”, disse Larivaara. “Nosso conceito é mais como [um] sentimento constante de estar satisfeito com sua vida e com o que você tem . . . talvez seja mais fácil ser feliz dessa forma do que buscar experiências intensas de felicidade o tempo todo”, acrescentou ela.

Saari concordou e disse que as pessoas na Finlândia têm um elevado nível de satisfação com a vida. “[No] Relatório Mundial sobre Felicidade, eles não perguntam realmente se as pessoas estão felizes, mas sim se estão satisfeitas com suas vidas.”

Lucy Pearson, uma escritora americana que passou alguns dias na Finlândia, comentou que a maior lição que levou consigo na bagagem foi o foco finlandês no contentamento em detrimento da alegria. 

No seu segundo dia na Finlândia ela conheceu Timo Auvinen, que conduz passeios guiados ao redor do Lago Saimaa. Quando o questionou sobre qual ele acreditava ser o segredo da felicidade de seu país ele riu secamente e disse que os finlandeses têm vários ditados sobre sua busca pela felicidade. Incluem, 

“o pessimista nunca ficará desapontado” e

“a felicidade sempre termina em lágrimas”, mas também, 

“nada é tão ruim que não haja nada de bom nisso”. 

Ele observou que as expectativas mais baixas dos finlandeses deixam muito menos espaço para decepções, o que significa que um sentimento mais neutro de contentamento está – na maioria das vezes – bem ao nosso alcance.

Há outra aspecto que inevitavelmente faz dos finlandeses um povo contente.

De acordo com Frank Martela, finlandês, filósofo e investigador de Psicologia, os finlandeses têm um forte sentido de comunidade e de relacionamento, praticam boas ações para outras pessoas e encontram um propósito claro para si próprios.

De fato, o Índice para uma Vida Melhor da OCDE afirma que 96% dos finlandeses acreditam conhecer alguém em quem podem confiar nos momentos de necessidade.

“É um país pequeno, as pessoas constroem redes entre pessoas diferentes e existe o que é chamado de ‘força dos laços fracos’”, disse Saari.

E mesmo entre estranhos os moradores da Finlândia sentem um senso de confiança entre si.

Uma experiência de “carteira perdida” em 2022 testou a honestidade dos cidadãos ao descartar 192 carteiras em 16 cidades ao redor do mundo. Em Helsínquia, 11 das 12 carteiras foram devolvidas ao proprietário.

Se você esquecer seu laptop em uma biblioteca ou perder seu telefone em algum trem de lá, pode ter certeza de que o recuperará.

As crianças também costumam pegar um ônibus público da escola para casa e brincar ao ar livre sem supervisão.

A forma como os finlandeses enxergam a si mesmos é uma peculiaridade que certamente tem grande impacto no contentamento que eles dizem sentir.

Há uma frase famosa de um poeta finlandês que diz: “Kell’ onni on, se onnen kätkeköön”. Traduzido aproximadamente, significa: não compare ou se gabe de sua felicidade.

Os finlandeses realmente levam isso a sério, especialmente quando se trata de coisas materiais e demonstrações evidentes de riqueza.

Certa vez, um dos homens mais ricos da Finlândia foi visto empurrando seu filho em um carrinho em direção à estação de bonde. Ele poderia ter comprado um carro caro ou contratado um motorista, mas optou pelo transporte público.

E este é um retrato do povo de lá: concentre-se mais no que te faz feliz e menos em parecer bem-sucedido. 

“O primeiro passo para a verdadeira felicidade é estabelecer os seus próprios padrões em vez de se comparar com os outros”, diz o finlandês Frank Martela, PhD, filósofo e pesquisador de psicologia que estuda os fundamentos da felicidade.

Será que estamos despercebendo as migalhas espalhadas pelo caminho da trilha que conduz à tão almejada felicidade?

Em vez de nos esforçarmos para ter tudo, deveríamos aprender com os finlandeses e tentar aproveitar ao máximo o que já temos: um chocolate quente cremoso no inverno, aquele carro confiável que nunca quebra, uma xícara de café com a família, uma exfoliação de pele bem cheirosa num banho demorado, atos de bondade para com estranhos, parques gratuitos, belas árvores . . . 

A felicidade tem a adrenalina de uma frenética montanha-russa. Mas no bom e velho contentamento descansa o conforto e a ternura de uma aconchegante cadeira de balanço.

O que você acha de tudo isso?

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Uma resposta

  1. Su amei saber da cultura da Finlândia.Ja sei para onde vou programar minha próxima viagem: Finlandia(vou te levar comigo) valeu bom trabalho.🥰😍🥰😍

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