Qual é o benefício de ofender uma pessoa?
Será que o ofensor fica mais corajoso, mais inteligente, mais charmoso e mais interessante quando insulta alguém?
E quanto ao ofendido? Se torna ele mais confiante, mais alegre, mais criativo e mais estudioso quando é vítima de palavras ofensivas?
“Falar mal de alguém é muito feio”, já diziam nossas mães.
Quão bem aprendemos esta lição?
Quero apresentar a vocês a Regra dos Cinco Segundos, já ouviu falar? Simples e eficaz, esta regrinha nos ensina a colocar as devidas rédeas em nossa língua.
Quando ofender ganha grandes proporções
Quando alguém procura “prejudicar, intimidar ou coagir alguém considerado vulnerável” está praticando o bullying, talvez o ápice da ofensa.
A prática do bullying é comum no mundo inteiro, mas é exacerbada na Coreia do Sul.
Dentro das paredes das escolas sul-coreanas crianças e adolescentes sofrem casos de violência verbal e física, como de se deparar com alfinetes escondidos em seus sapatos, ter suas cabeças forçadas para dentro do vaso sanitário e receber chutes no estômago.
“A violência escolar é endêmica nas escolas sul-coreanas”, disse Noh Yoon-ho, um advogado de Seul especializado em casos de bullying, acrescentando que “qualquer sul-coreano que frequentou a escola foi vítima ou testemunhou outros estudantes sendo intimidados e não ajudados”.
De fato, os números evidenciam esta realidade. Num inquérito governamental realizado na Coreia do Sul em 2022, 91% dos entrevistados afirmaram ter sofrido bullying.
Uma série coreana da Netflix intitulada “The Glory” discorre sobre quão sombria é a prática do bullying na Coreia do Sul.
Baseada em uma história verídica de 2006, a série conta a história de uma professora do ensino fundamental de uma escola feminina em Cheongju. Essa personagem busca vingança contra ex-colegas que a intimidaram quando ela era menina, submetendo-a a práticas cruéis como queimar a pele nua com uma chapinha de cabelo e coçar o peito com um alfinete de segurança.
Na Coreia do Sul, o número de casos de bullying passou de 11.749 em 2013 para 31.130 em 2019. Quando a pandemia de COVID-19 eclodiu em 2020, o número caiu, mas voltou a subir para mais de 15.000 em 2021.
Cerca de metade de todos os casos relatados envolvem violência física, mas o abuso verbal mais do que duplicou nos últimos anos.
Cicatrizes cravadas pelas ofensas
Uma série de estudos demonstrou que a exposição à violência verbal numa idade precoce pode ter consequências graves para a vida das vítimas, tanto a nível emocional como clínico.
Por exemplo, uma pesquisa realizada em setembro de 2020 por uma equipe de especialistas em educação da Universidade Nacional de Sunchon e da Universidade Yuhan, ambas da Coreia do Sul, revelou que mais de metade das 353 vítimas de violência escolar, com idades entre os 20 e os 27 anos, tinham pensado em suicídio, enquanto 13% tinham realmente tentado o suicídio.
Estudantes universitários que sofreram violência escolar tinham duas vezes mais probabilidade de ter pensamentos suicidas e também relataram mais sintomas físicos, como tonturas ou dores no peito sem motivos claros, afirmou o relatório.
Alguns especialistas afirmam que o abuso verbal pode deixar os alunos mais vulneráveis a distúrbios psicológicos à medida que crescem.
“Jovens adultos que foram repetidamente abusados verbalmente na infância tinham conexões mais fracas em duas áreas do cérebro – o hipocampo e a amígdala – que desempenham funções no processamento de reações emocionais, medo e na consolidação de informações da memória de curto prazo para memória de longo prazo. Esta mudança em regiões-chave do cérebro aumenta as probabilidades das vítimas de contrair doenças mentais crônicas”, disse Ko Min-soo, professor de psiquiatria do Hospital Universitário da Coreia em Guro, no sul de Seul.
Por que as pessoas ofendem as outras?
As forças motrizes por trás do bullying podem variar de pessoa para pessoa, mas os agressores partilham algumas características comuns.
Quando praticantes de bullying foram questionados sobre o porquê de agredirem outros, algumas respostas foram:
- Porque me faz sentir mais forte, mais inteligente ou melhor do que a pessoa que estou intimidando.
- Porque sou intimidado em casa.
- Porque é o que você faz se quiser sair com o público certo.
- Porque vejo outros fazendo isso.
- Porque estou com ciúmes da outra pessoa.
- Porque é uma das melhores maneiras de evitar que outras pessoas me intimidem.
Isto é muito interessante, vamos esmiuçar melhor.
Traumas emocionais
“Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais sobre Pedro do que de Paulo”. Conhece essa frase?
Embora o trauma pessoal não dê a ninguém uma desculpa para magoar os outros, às vezes pode nos dar uma ideia de como a outra pessoa funciona.
“Muitas vezes, as pessoas que intencionalmente procuram intimidar os outros estão sofrendo devido às suas próprias experiências difíceis e não possuem as habilidades de enfrentamento para administrar sua dor de maneira saudável, então externalizam sua dor para os outros”, explica Michelle Felder, LCSW, terapeuta e fundadora da Parenting Pathfinders.
Insegurança
Embora muitas vezes não categorizados e não verbalizados, qualquer comunidade possui níveis de “status social”, o que pode levar pessoas com tendências ao bullying a insultar outros para obter ganhos sociais, como o de se sentir superior.
“As panelinhas e o desejo de status social costumam ser um terreno fértil para o bullying”, diz Limor Weinstein, MA, LMHC. “O mesmo se aplica aos locais de trabalho. O ciúme e o desejo de chegar ao topo podem levar a menosprezar os outros ao seu redor, o que pode acontecer especialmente em ambientes de trabalho competitivos.”
Ser mau com alguém também tem o efeito de fazer com que os outros o tratem melhor, uma vez que não querem ser alvo de bullying. O agressor pode perceber isso (talvez inconscientemente) e usar em seu benefício.
Experiências próprias de intimidação
Às vezes, as pessoas intimidam outros porque elas próprias foram vítimas de bullying. De certa forma, elas acreditam que ofender e agredir outras pessoas pode protegê-las da experiência familiar de elas mesmas serem as vítimas do ataque verbal e físico.
“Algumas pessoas intimidam outras pessoas na tentativa de se protegerem atacando primeiro. Este é um mecanismo de defesa pouco saudável, mas é uma experiência comum que muitas vezes está na origem da decisão de intimidar.” – Michelle Felder, LCSW
Comportamento aprendido
Se uma criança é alvo de intimidação por parte dos seus próprios pais, seus irmãos mais velhos ou outros adultos, ou então testemunha um adulto ofender e intimidar outras pessoas, ela pode vir a repetir esse comportamento.
Quando os pais, cuidadores e outros adultos não corrigem os comportamentos de bullying, especialmente nas crianças mais novas, pode ser difícil mudar esse padrão mais tarde na infância e na idade adulta. Esses comportamentos podem tornar-se reações inconscientes a estressores sociais ou até mesmo interpretados como interações sociais saudáveis.
Baixa auto estima
Os agressores costumam lidar com questões como baixa autoestima, ciúme, insegurança e até ansiedade. Quando eles não são capazes de expressar e processar essas emoções de maneira saudável, eles podem começar a intimidar outras pessoas.
Um motivo comum pelo qual uma criança agride e ofende outros é porque ela não tem a atenção dos pais em casa e ataca os outros pelo desejo de ser notada. Isto pode incluir crianças negligenciadas, filhos de pais divorciados ou filhos cujos pais estão sob a influência regular de drogas e/ou alcool.
Falta de habilidades
É possível que alguém que opte por ofender e intimidar pessoas o faça porque tem habilidades sociais limitadas ou tem dificuldade de se relacionar com outras pessoas em geral.
Essencialmente, faltam as competências adequadas para gerir e responder a situações sociais desconfortáveis de uma forma saudável.
Traços de personalidade
Alguns agressores simplesmente não se compadecem com o sentimento alheio, por isso não têm problemas em dominar, culpar, intimidar ou tirar vantagem dos outros. Falta-lhes a capacidade de se relacionar com a experiência de outra pessoa e de compreender como o seu terrível comportamento impacta negativamente no emocional de quem ofendem.
“Eles têm como alvo as pessoas mais fracas e recusam-se a reconhecer as repercussões do seu comportamento. Eles são movidos por um desejo de poder e atenção”, diz Weinstein. “Não importa que tipo de agressor eles sejam, eles não aprenderam a ser gentis, compassivos ou respeitosos.”
Um estudo de 2012 descobriu que características como honestidade, humildade e amabilidade pareciam estar menos provavelmente ligadas ao bullying.
Aplique a Regra dos Cinco Segundos antes de proferir qualquer ofensa
Recentemente, uma menina chamada Débora de apenas treze anos me ensinou uma regra muito simples da qual ela é claramente praticante – a Regra dos Cinco Segundos.
Anteriormente, para mim a Regra dos Cinco Segundos tinha a ver com o tempo máximo que uma comida pode ficar no chão antes de ser ingerida.
Quase ia dizer que ambas as regras não tem nada em comum a não ser o nome. Mas a realidade é que são similares sim. Ambas relacionam a saúde com o tempo, só que uma trata da saúde física e a outra, da saúde emocional.
“A regra é simples”, me explicou a Débora. “Se você for falar algo para uma pessoa que ela pode corrigir em cinco segundos, então diga. Agora, se levar mais de cinco segundos para ela fazer uma correção, então não fale nada”.
Se você zombar de uma pessoa chamando ela de nariguda, será que em cinco segundos ela conseguirá mudar a forma e o tamanho do nariz?
Obviamente não. Então não fale nada sobre o nariz protuberante da sua colega.
Agora, se alguém estiver com uma sujeira no dente, em cinco segundos ela poderá limpá-lo? Sim! Talvez em até menos tempo. Então, mesmo que seja um tanto quanto constrangedor, é interessante avisar a pessoa que ela precisa limpar o dente incisivo superior que está parcialmente coberto por uma casca de feijão preto.
Uma pessoa chata, de voz irritante, jeito desengonçado e cabelo estranho não tem como mudar essas características em cinco segundos.
Mas em cinco segundos alguém consegue contar até três antes de falar algo impróprio, arrumar a postura a fim de deixá-la mais ereta e parar de mascar goma de mascar de forma irritante se alguém lhe alertar sobre estes comportamentos facilmente corrigíveis.
Então, se cinco segundos não resolvem, não seremos nós que o faremos. Melhor ficar de boca fechada para não entrar mosca e para não sair da nossa boca algo que as moscas gostam muito.
Uma resposta
Perfeito. Acredito que pessoas que ofendem outras por simples prazer, são na verdade muito, mas muito infeliz. Elas precisam despejar o lixo delas em algum lugar. Ou em alguém.